Avançado: a magia do Vale do Pati

É preciso estar em forma para as trilhas desafiadoras do Pati. Mas o cenário - e o contato com os moradores - fazem valer o esforço

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Por Marina Azaredo
Atualização:
Parada para descanso na trilha do Vale do Pati Foto: Marina Azaredo/Estadão

Lembra quando eu falei lá no início do texto sobre a emoção de chegar ao Vale do Pati? Pois bem, estávamos nas primeiras horas do trekking mais bonito da Chapada Diamantina quando alcançamos o estonteante Mirante do Pati. Eu nunca vira uma paisagem como aquela: encostas recobertas por Mata Atlântica, num perfeito sobe e desce de morros e platôs. Com olhos marejados, me deixei observar aquela obra da natureza por uma boa meia hora.

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Aqui,permita-me uma digressão, caro leitor. Só havia sentido algo parecido anos antes, quando, na minha primeira viagem solo, peguei o metrô no Aeroporto Charles de Gaulle e desembarquei numa manhã fria de dezembro em meio àquela cidade que eu conhecia dos filmes. As chegadas no Pati e em Paris, dois lugares tão belos e diferentes, viraram as minhas mais marcantes memórias de viagens.

Destino perfeito para trekkers experientes, o vale é o crème de la crème da Chapada. Só é possível chegar a pé – e a caminhada, embora cênica, não é fácil. A região foi uma próspera zona cafeeira no início do século 20, mas quebrou na década de 30, quando o governo estatizou a produção e ordenou o fim das plantações. Das 2 mil famílias que lá viviam, restam 12, que sobrevivem principalmente hospedando e alimentando os turistas. 

 As operadoras oferecem roteiros de quatro a sete noites, com diferentes percursos e atrações. O mais tradicional vai do Capão a Andaraí, mas uma alternativa é entrar ou sair pelo distrito de Guiné, encurtando o caminho. Todos, no entanto, envolvem caminhadas puxadas, com vários trechos em que é preciso se agarrar às pedras para facilitar a subida – as chamadas escalaminhadas. 

Uma vez no Pati, o melhor passeio é o Morro do Castelo, uma subida desafiadora com revigorantes paradas para descanso sob a copa das árvores frondosas da Mata Atlântica. Lá em cima, além da bela vista, há uma enorme gruta com formações de quartzito. 

A exuberância do Morro do Castelo Foto: Marina Azaredo/Estadão

Se a subida ao Castelo é fatigante, nada como uma cachoeira para se reenergizar. Com 300 metros, o Cachoeirão pode ser visto por dois ângulos. A trilha pelo alto, embora longa, não é difícil. Por baixo, o percurso acompanha o leito do rio e é pedregoso e escorregadio. Nos roteiros mais longos entram as cachoeiras do Funil e do Lajedo, menos impressionantes em tamanho, mas ideais para banhos relaxantes. 

Hospedagem na casa de moradores

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A hospedagem é um capítulo à parte. Contatados por meio de recados enviados pelos guias, os patizeiros nos recebem com mesa farta e camas confortáveis – tudo muito simples, é bom dizer. Vale a pena parar para dois dedos de prosa depois do jantar e ouvir as histórias dessas pessoas que ainda vivem sem televisão, internet ou telefone. 

Notícias e mantimentos chegam carregados por burros. Para cargas mais pesadas, não tem jeito: às vezes, é preciso dez homens para levar uma geladeira. Em caso de doença grave, o paciente vai na cama – amigos se revezam para carregá-lo. A energia elétrica chegou há pouco mais de uma década e é gerada por placas solares. 

Há pequenos luxos. Além da cervejinha, algumas famílias oferecem até gim-tônica aos hóspedes. Para mim, o charme do Pati está em viver longe de qualquer benesse da cidade grande. Mas é claro que um gim-tônica não estraga a experiência. Só não exagere: o dia seguinte aguarda o visitante com muitos quilômetros a percorrer.

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