Berlim, um mix de sabores

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Por Adriana Moreira e LUÍSA ROIG MARTINS - BERLIM
Atualização:
Tommy Weisbecker Haus, em Kreuzberg, Alemanha Foto: Adriana Moreira/Estadão

A arte urbana pulsa em várias partes de Berlim. Algumas estão à vista de qualquer turista. Outras, escondidas, revelam um lado B da capital alemã. A cultura alternativa alicerçada principalmente no grafite contrasta com o cenário histórico e, ao mesmo tempo, o complementa. Essa nova cara da capital alemã, desenhada a partir da queda do Muro, em 1989, é a rota do Alternative City Tour, da New Sandemans ( 12; newberlintours.com), num passeio a pé de 3h30 .

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O ponto de partida para o grupo de 15 pessoas é o prédio do museu de fotografia C/O Berlin, na Oranienburger Strasse, no centro. A líder Grace Mellor - uma britânica viciada em idiomas e apaixonada pela Alemanha, onde mora desde 2011 - começa uma jornada turística que, ao contrário da maioria, não passa pelo Portão de Brandenburgo, pelo Memorial do Holocausto ou pela torre de televisão da Alexanderplatz . A primeira parada é a Ocupação Tachelle.

A pergunta How long is now? (Quanto dura o agora?), estampada em uma das laterais de um prédio que assistiu a História alemã acontecer, é sugestiva. Erguido em 1908 e ocupado pelos nazistas na década de 1940, quase foi demolido no início dos anos 90, não fosse a invasão de dezenas de artistas independentes que ali, até hoje, moram, trabalham e expõem suas obras. Mas não sabem até quando: estão em constante iminência de despejo. Habitam o edifício como se nada estivesse acontecendo. A única preocupação é mantê-lo como símbolo da arte urbana em ebulição e retratar uma Berlim que, culturalmente, está cada vez mais madura.

A parada seguinte é Hackescher Höfe, complexo de oito prédios interligados que chama a atenção pela arquitetura art nouveau. Até lá, a guia - praticamente de quadra em quadra - interrompe a caminhada para mostrar algumas obras, explicando quem são os artistas e quais suas inspirações. É possível, também, compreender a diferença entre os principais tipos de arte urbana: grafite, pintura, desenho, adesivo e estêncil. Berlim diz muito pelas mãos de seus artistas. War is illegal (Guerra é ilegal) e Money kills culture (O dinheiro mata a cultura) são algumas frases no caminho.

A pausa é no Café Cinema, galeria a céu aberto com uma cafeteria nos fundos. A atmosfera despretensiosa e cheia de vida do Mitte é uma ótima opção para quem quer descansar, tomando um suco, um café ou uma cerveja.

Depois do momento relax, Grace lidera o grupo pela segunda parte do trajeto (é necessário um bilhete de metrô para o deslocamento), que se inicia contemplando o bairro de Kreuzberg - preferido pelos integrantes do movimento punk e palco de grandes manifestações estudantis nas décadas passadas. O artista italiano Blu deixou sua marca nessa região. Também é ele o autor do mural do enorme monstro rosa, feito de vários pequenos monstrinhos, na casa vizinha à ponte Oberbaum, para onde o passeio segue.

De lá, o grupo parte para o ponto final do tour: East Side Gallery. Que não chega a ser realmente alternativo (está em boa parte dos tours na cidade), mas cujos grafites ao longo de 1.316 metros do antigo Muro nunca deixam de impressionar.

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No pedal.

Não é novidade que Berlim é uma das cidades mais amigáveis para bikes - mesmo que você esteja enferrujado, vale a pena arriscar. Além dos programas tradicionais, que passam pelos pontos turísticos de sempre, a Fat Tire (berlin.fattirebiketours.com) conta com opções diferenciadas.

O Raw Tour ( 24) leva os turistas a se aproximar da vida dos moradores da capital. Sai apenas às terças, sextas e domingos, entre abril e outubro, dura 5 horas e cobre praticamente toda a cidade. Mas não se preocupe: não se trata de uma maratona cansativa. Além de Berlim ser essencialmente plana, há inúmeras pausas para explicações - e para um providencial lanche no mercado turco, que ocorre às terças e sextas-feiras em Kreuzberg, tradicional reduto da comunidade imigrante. Kebabs e outras comidas típicas disputam espaço com barracas de frutas, verduras, temperos, lenços, roupas, badulaques e souvenirs.

Ali perto está a Baumhaus an der Mauer, uma casa construída com materiais recicláveis ao redor de uma árvore. Mas o que a torna famosa é mais do que isso. Osman Kalin, um imigrante turco, viu num pedaço de terra que pertencia a Berlim Oriental, mas que ficou do lado ocidental em razão da impossibilidade de o muro fazer uma curva, a oportunidade de cultivar uma horta.

Ainda dá tempo de pedalar na pista de um aeroporto antes de retornar. Desativado em 2008, o Tempelhof se transformou em parque, onde os berlinenses jogam bola, passeiam com o cachorro e fazem exercícios.

Sabores.

Mas se você acredita que pode ser muito puxado, certamente vai gostar de outro tour da Fat Tire: o Evening Food By Bike, que sai todos os dias, exceto terças e quintas, entre maio e setembro. O preço é mais salgado (49), mas pense que neste dia você não vai precisar jantar. A comida está incluída - são várias paradas para provar os sabores típicos de Berlim, com muita fartura e opções deliciosas.

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Como as bicicletas são elétricas e as pausas são muitas - sim, há parada para explicações em pontos não-tradicionais da cidade -, o esforço é mínimo. Só de lembrar dá água na boca.

/ADRIANA MOREIRA e LUÍSA ROIG MARTINS, ESPECIAL PARA O ESTADO

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