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Cachoeira e pegada de onça na trilha

Trekking na Serra do Amolar, região seca e quase intocada, revela essas e outras surpresas incríveis

Por Monica Nobrega
Atualização:

A cerca de 180 quilômetros de Corumbá, Rio Paraguai acima, surge no horizonte a Serra do Amolar e, com ela, uma das poucas possibilidades de pisar em terra firme. O que significa ver de perto a vegetação e escutar o canto dos pássaros sem interferência do ronco do motor da voadeira. Um tête-à-tête, enfim, com a natureza. A área é quase intocada. Poucas pessoas estiveram ali. Entre elas, os guias do passeio, dias antes, para cortar alguns galhos e abrir um pouco a passagem. Mas não há nada parecido com uma trilha convencional. A sensação, o tempo todo, é a de que dependemos completamente da experiência daqueles homens. O que, aliás, é verdade. Hora de escolher entre passar calor ou sofrer arranhões. Previamente alertada, a maioria prefere a primeira opção. Com certeza, a calça e a blusa de manga comprida incomodam menos do que o mato e os galhos. Os primeiros passos, ainda no plano, são em meio a uma área de capim alto, encharcada. O chão seco surge assim que começa o bosque de árvores médias e bem afastadas umas das outras. Pouco depois, o primeiro troféu da caminhada, exaustivamente fotografado: uma pegada de onça, o mais próximo que chegamos da fera. A subida é suave e o caminho não oferece grande dificuldade. Seguimos viagem ao lado de um riacho, atravessando de uma margem à outra. O segundo troféu é uma cachoeira, pequena e cristalina, saudada com entusiasmo pelos aventureiros mortos de calor. A partir dela, a subida fica um tantinho mais arriscada por causa das pedras lisas sobre as quais é preciso caminhar. Alguns tombos e quase três horas depois, surge o objetivo da expedição: um poço cristalino para banho, aos pés de outra cachoeirinha. Hora de se livrar da roupa quente, pular na água e matar a fome, incalculável a essa altura. Sanduíches e frutas compõem o cardápio do piquenique. Mas o clima de domingo no clube logo precisa ser interrompido. Mesmo diante do entusiasmo - e do cansaço - dos viajantes, os guias sugerem que se inicie logo o retorno. O Pantanal é imprevisível e ali, no Amolar, escurece cedo porque o sol caminha para trás da montanha. Hora de vestir a roupa quente, o tênis encharcado, de colocar o lixo na mochila e começar a descida. O retorno reserva um último lance emocionante. De repente, um dos guias dá o alarme: caminho errado. É prudente acreditar nele. Antônio Castelo, de 36 anos, nascido e criado no Pantanal, guia de pesca há 20 anos, é dono de um impressionante conhecimento sobre flora, fauna e relevo da região. Os condutores confabulam, os viajantes sentem mais cansaço do que medo. Dez minutos depois, se tanto, a trilha certa é reencontrada. EXPERIÊNCIA O trekking na Serra do Amolar evidencia o que já é bem claro durante todo o tour: não há como desbravar o Pantanal sem um guia. Só quem nasceu por lá pode encontrar caminhos em uma área tão selvagem. Sebastião Moura, de 45 anos, é outro bom exemplo. Também nascido e criado por ali, também guia de pescadores há 20 anos, ele desempenha a mesma função na trilha em chão firme. Boa prosa, gosta de receber turistas curiosos na cabine de comando do barco Antares, que assume interinamente em alguns momentos. Ri quando perguntado se não usa mapa nem bússola para conduzir a embarcação na noite escura. Conhece cada palmo do Rio Paraguai, cada ilhota. E faz graça: joga o facho de luz do barco sobre uma moita de aguapés - um camalote, no ''dialeto pantaneiro'' - que vem descendo o rio. Há um jacaré de carona no meio dela. ''Mas está cada vez mais difícil ver animais'', diz, do alto de sua experiência. Jacaré, onça, tuiuiú - todos tentam se manter o mais longe possível do leito do rio. Culpa do movimento intenso de barcos grandes. Atualmente, são 63 embarcações registradas na Capitania dos Portos, que aportam em Corumbá.

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