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Cartagena: encantos dentro e fora da muralha

A vida vibrante da cidade de Gabriel García Márquez pulsa no centro histórico; mas há outras atrações pela cidade

Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue
Atualização:
Aregião mais urbanizada de Cartagena contrasta coma fortaleza de quase 400 anos de história e que ocupa uma quadra inteira, circundada por muros e canhões Foto: Priscila Mengue

Na minha primeira tarde em Cartagena, aproveitei a chuvinha para sair do interior da muralha. A primeira parada foi o Castelo San Felipe de Barajas, a pouco mais de um quilômetro da Torre do Relógio e, assim como a cidade amuralhada, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco.

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O caminho até lá passa por uma região mais urbanizada de Cartagena, com supermercados, comércios de médio porte e afins, que contrastam com a fortaleza de quase 400 anos de história que ocupa uma quadra inteira, circundada por muros e canhões. 

O ingresso custa 25 mil pesos colombianos (cerca de R$ 30) e dá acesso a praticamente todas as estruturas do forte. A subida é por uma rampa que leva até um dos mirantes, mas há outras tantas escadas, portinhas e túneis escuros para conhecer, o que costuma prolongar a visita por uma ou duas horas.  

Torre do Relógio, em Cartagena Foto: Priscila Mengue

Do forte, avistei o que parecia uma pequena igreja branca no topo de um morro, mas que sabia se tratar do Convento Santa Cruz de La Popa, que alguns dizem ser a vista mais bonita de Cartagena. Peguei um táxi até o local com o combinado de o motorista me esperar para o retorno (o que é de praxe por lá).

 Paguei os cerca de R$ 15 de ingresso para o bilheteiro, que me contou conhecer apenas uma palavra em português (um palavrão, claro). Subi as escadas e me deparei com o mirante, do qual é possível avistar “os pobres e os ricos”, como definiu um senhor que estava por perto. 

Ele se referia ao contraste entre os bairros de classe baixa e a ostentatória Boca Grande, dos edifícios mais caros da cidade e que fica próximo da cidade amuralhada e igualmente de frente para o mar.

Infelizmente, o dia estava nublado e não pude avistar o famoso pôr do sol do convento. Caminhei também pelo entorno da construção, entrei no jardim, observei os que oravam diante do altar e tirei alguns retratos para os que me pediram uma ajudinha. O número de visitantes não era tão grande quanto o do Castelo.  

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Onde curtir a noite

Getsemaní, bairro boêmio que entrou no gosto dos turistas mais moderninhos Foto: Priscila Mengue

Quando saí novamente pela cidade amuralhada, as ruas estavam ainda mais cheias - as pessoas aproveitam a trégua do calorão proporcionada pela noite. Me encaminhei para Getsemaní, bairro boêmio que entrou no gosto dos turistas mais moderninhos. Ele fica a cerca de 10 minutos a pé da Torre do Relógio, com sobrados antigos, bares e muita gente na rua, entre locais e viajantes, dando continuidade à salada de idiomas de Cartagena.

 A outra opção noturna são os bares e restaurantes da cidade amuralhada, que reúnem gastronomia de origens diversas, assim como a música. Não quer gastar, comer ou beber? Caminhe um pouco, passe pelas praças e ouças as músicas que vêm de dentro dos bares e dos artistas de rua. Preste atenção na via para desviar das charretes e curta quando alguém passar cantando

Robarte un Beso

ou outro sucesso do Carlos Vives.

No dia seguinte, voltei mais uma vez à Torre do Relógio para encontrar a guia que me levaria junto de um casal argentino e cinco jovens mexicanos para a Isla Baru - que, diferentemente da maioria das outras ilhas do entorno, pode ser acessada de carro. E aqui vai um adendo: Cartagena tem praias na área urbana (como Boca Grande), frequentadas especialmente pelos locais e sem o colorido das opções um pouco mais distantes.

Vamos à la playa

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O mar tinha tons entre o azul e verde, exatamente como as fotos típicas de Caribe mostram Foto: Priscila Mengue

Depois de cerca de uma hora de trânsito (e muitos sucessos latinos no rádio), chegamos à Playa Blanca, que, diferentemente da fama, não estava lotada. Eu, o casal e os mexicanos deixamos nossas coisas com a guia e fomos aproveitar a praia.  

O mar tinha tons entre o azul e verde, exatamente como as fotos típicas de Caribe mostram. Antes de entrar na água, caminhei pela praia, passando por pequenas pousadas, hostels, restaurantes e até aqueles balanços de madeira que voltaram à moda por serem instagramáveis.

De volta ao meu grupo, o tempo parecia passar mais devagar. O calor era menos pesado do que na cidade, mas o sol forte e o mar eram mais do que convidativos. Peguei um óculos de natação e fui para a água, observar os peixes que nadavam próximos à beirada. 

Perto do entardecer, nos reunimos em roda junto de um morador, que se apresentou como biólogo e nos falou sobre o fitoplâncton da região. Nesse momento ele  alertou para esquecer as fotos, já quea experiência é visualmentemais sutil do que o azul bioluminescente das imagens mostradas a turistas.

Pegamos um barco até uma área no meio do oceano, já de noite. Pulei na água (quentinha), comecei a me mover e reparei que o mar ficava de um tom branco fosforescente quando eu mexia a minha mão lateralmente. O mesmo se repetia quando alguém batia os pés. Com o anoitecer mais intenso, o efeito também ficava mais visível - aos nossos olhos, mas não para câmeras.

Depois de 30 minutos, retornamos para a praia e pegamos o transporte de volta para Cartagena. O meu passeio, via Airbnb, custou pouco mais de R$ 137, com transporte, almoço, passeio de barco e guia. Há, ainda, como pagar por experiências de mergulho ou pelo uso de snorkel, além de se hospedar na ilha.

Antes de partir

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A minha terceira manhã em Cartagena foi dedicada a um dos lugares que mais gosto de conhecer em viagens: teatros, no caso, o Adolfo Mejía (também conhecido como Heredia). Infelizmente, não consegui encaixar o roteiro com algum evento da (restrita) programação, mas aproveitei uma visita guiada particular. O custo é de cerca de R$ 15.

 A visita começa por uma entrada lateral. Subo uma escada, dou alguns passos e tcharam: estou sobre o palco. Sigo sobre a estrutura de madeira e percebo estar debaixo dos afrescos de anjos pintados pelo panamenho Enrique Grau. Caminho entre os bancos e subo para os mezaninos, com detalhes em madeira e veludo, enquanto ouço a guia contar sobre os casamentos que famílias abastadas fazem no local. 

Interior doTeatro Adolfo Mejía, também conhecido como Heredia, em Cartagena Foto: Priscila Mengue

Após subir todos os níveis, desço e dou uma última olhada para o teatro, em formato de ferradura. Sigo, então, até a escadaria da entrada principal e, por fim, guardo alguns minutos para observar a fachada, em rosa claro e tons pastéis, que até se destaca pela sobriedade em comparação ao colorido cartageno.

Encontro com Gabo

Antiga casa de Gabriel García Marquez, em Cartagena Foto: Priscila Mengue

Por fim, um dos meus últimos momentos foram dedicados a ele: Gabriel García Márquez. Sem boas opções de walking tour voltadas ao escritor, optei por comprar o audiotour La Cartagena de Gabo (tem opções em inglês e francês também) ao custo de R$ 18,99 no iTunes e Google Play.

O passeio foi desenvolvido por uma agência local em parceria com a Fundação García Márquez, tendo 35 pontos de visitação, a maioria dentro da cidade amuralhada. Cada parada significa cerca de cinco minutos de informações sobre o autor e o local, além de trazer trechos de alguns livros, especialmente O Amor nos Tempos de Cólera.

Comecei o percurso já um tanto tarde, perto das 10 horas. A cada chegada em um ponto novo, procurava a sombra mais próxima, me sentava, eventualmente tomava água e, enfim, ouvia a gravação. No início, a dinâmica me pareceu mais desgastante do que proveitosa, mas logo mudei de ideia ao me sentar em frente à igreja em que a personagem Firmina Daza casou e, depois, ao avistar o casarão em viveu com o pai (onde o batedor de portas tem o formato de papagaio). 

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“Cartagena era como um cenário construído especialmente para o escritor pela mão misteriosa do destino”, diz um trecho do audiotour. Já perto do final, o roteiro se aproxima das muralhas e para diante de uma casa rosada de arquitetura modernista, que a diferencia dos casarões antigos. No imóvel do lado, o grafite de um hotel dá a dica: o vizinho nada colonial foi lar do maior escritor colombiano (e, hoje, segue com uso privado).

No fim da tarde, caminhei sobre as muralhas e parei para ver o entardecer perto do Café del Mar, que estava lotado. A maioria das pessoas fica sobre a fortificação, mas também há quem consiga um lugar para se sentar nas “janelinhas” do muro. Tudo para ver o intenso alaranjado que toma os céus e reflete no mar caribenho. 

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