Codpa

No meio da antiga rota das missões jesuíticas chilenas, uma minúscula localidade com habilidade para os vinhos

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Por Juliana Mezzaroba e Arica
Atualização:
Encravado nas montanhas, a minúscula Codpa é um arquétipo do Chile: nem longe da neve, nem longe do oceano Foto: Cristóbal Corrrea / Divulgação

As mais de 90 igrejas – 32 restauradas – fizeram com que a região de Arica e Parinacota ganhasse o nome de Rota das Missões. Construídas durante a catequização espanhola, elas hoje integram um circuito de turismo patrimonial, organizado pela Fundação Altiplano.

A bordo de um 4X4, iniciamos nossa rota cruzando a cidade portuária de Arica rumo ao povoado de Codpa – 5 horas em um trajeto longo e sinuoso, com muitas subidas e descidas. Depois de 1h40 de viagem, chegamos a Caleta Vítor, um vale no meio do deserto, onde o rio subterrâneo faz com que a paisagem de cor café com leite, com muita areia grossa e pedra, ganhe o verde das plantações de locoto (tipo de pimenta vermelha).

A Praia da Caleta, em Codpa Foto: Juliana Mezzaroba/Estadão

 Depois de 15 minutos pela plantação, a Praia da Caleta surgiu quase deserta, com apenas dois pescadores. O mar azul estava agitado e a areia, tão abundante na região, ali era substituída por cascalho. Algumas fotos depois, seguimos viagem. 

Don Vicente, guia na região, nos apresenta as Apachetas Foto: Juliana Mezzaroba / Estadão

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Pela estrada, montículos de pedras empilhadas denuncia que não estamos tão sozinhos quanto imaginamos. Don Vicente, guia e morador da região, explica que são apachetas, altares em honra aos deuses incas, onde os viajantes vão deixando suas pedras empilhadas para pedir e agradecer à Pachamama (Mãe Terra) e aos Apus (deuses das montanhas). Acredita-se que deixar uma pedra protege o viajante que passa por ali – por isso, deixamos as nossas também.

No começo da tarde, chegamos a Codpa, vilarejo de cerca de 200 habitantes, e logo fomos almoçar. Conhecemos Fely, dona do Restoran Doña Fely. Com um sorriso no rosto, ela descreve o menu do dia: cazuela de pollo (sopa com frango e legumes) e pollo asado y ensalada (frango assado, arroz e salada). Com taça de vinho e sobremesa, a refeição custa 5 mil pesos (R$ 25).

A simpática Bodega Pitantani, responsável por um dos vinhos da região Foto: Juan Jaeger / Divulgação

O vale possui um rico patrimônio natural e cultural. É bom reservar pelo menos duas horas para conhecer a igreja de San Martin de Tours, os petroglifos de Ofragía e a vinícola Pitantani, uma das mais antigas do Chile, com quase 400 anos. Herança dos espanhóis que aproveitaram as condições climáticas ideais: “Um vale e muito sol são um luxo para a produção de vinho", diz Rodrígo Soza produtor e herdeiro da Pitantani. 

A bebida era levada pelas montanhas até o Peru e a Bolívia em mulas, através da Rota da Prata, entre os séculos 16 e 17. Nesse período, tornou-se a principal atividade econômica local. São quatro tipos de vinho, todos com sabor forte e doce, semelhante ao vinho do Porto – garrafas a 7 mil pesos (R$ 35). 

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