As mais de 90 igrejas – 32 restauradas – fizeram com que a região de Arica e Parinacota ganhasse o nome de Rota das Missões. Construídas durante a catequização espanhola, elas hoje integram um circuito de turismo patrimonial, organizado pela Fundação Altiplano.
A bordo de um 4X4, iniciamos nossa rota cruzando a cidade portuária de Arica rumo ao povoado de Codpa – 5 horas em um trajeto longo e sinuoso, com muitas subidas e descidas. Depois de 1h40 de viagem, chegamos a Caleta Vítor, um vale no meio do deserto, onde o rio subterrâneo faz com que a paisagem de cor café com leite, com muita areia grossa e pedra, ganhe o verde das plantações de locoto (tipo de pimenta vermelha).
Depois de 15 minutos pela plantação, a Praia da Caleta surgiu quase deserta, com apenas dois pescadores. O mar azul estava agitado e a areia, tão abundante na região, ali era substituída por cascalho. Algumas fotos depois, seguimos viagem.
Pela estrada, montículos de pedras empilhadas denuncia que não estamos tão sozinhos quanto imaginamos. Don Vicente, guia e morador da região, explica que são apachetas, altares em honra aos deuses incas, onde os viajantes vão deixando suas pedras empilhadas para pedir e agradecer à Pachamama (Mãe Terra) e aos Apus (deuses das montanhas). Acredita-se que deixar uma pedra protege o viajante que passa por ali – por isso, deixamos as nossas também.
No começo da tarde, chegamos a Codpa, vilarejo de cerca de 200 habitantes, e logo fomos almoçar. Conhecemos Fely, dona do Restoran Doña Fely. Com um sorriso no rosto, ela descreve o menu do dia: cazuela de pollo (sopa com frango e legumes) e pollo asado y ensalada (frango assado, arroz e salada). Com taça de vinho e sobremesa, a refeição custa 5 mil pesos (R$ 25).
O vale possui um rico patrimônio natural e cultural. É bom reservar pelo menos duas horas para conhecer a igreja de San Martin de Tours, os petroglifos de Ofragía e a vinícola Pitantani, uma das mais antigas do Chile, com quase 400 anos. Herança dos espanhóis que aproveitaram as condições climáticas ideais: “Um vale e muito sol são um luxo para a produção de vinho", diz Rodrígo Soza produtor e herdeiro da Pitantani.
A bebida era levada pelas montanhas até o Peru e a Bolívia em mulas, através da Rota da Prata, entre os séculos 16 e 17. Nesse período, tornou-se a principal atividade econômica local. São quatro tipos de vinho, todos com sabor forte e doce, semelhante ao vinho do Porto – garrafas a 7 mil pesos (R$ 35).