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Com o vento austral para o Brasil

32°02'06?S 52°05'56?O -“Gosto de compartilhar histórias, momentos. E poder levar amigos para vivenciar ao vivo e em cores (e, às vezes, molhados e com frio) é uma realização pessoal e profissional. Os desafios nos fortalecem, cada tripulante volta diferente de uma viagem desta. E acredito que seja sempre para melhor”, diz Marcos A. Hurodovich, capitão.

Por Ramon
Atualização:
A chegada ao Rio Grande do Sul Foto: Roman Nemec

Depois da parada de um dia na bela e agradável cidade de Mar del Plata, que é um famoso destino de verão para os cidadãos de Buenos Aires, estamos de novo no alto mar. Agora, porém, estamos descansados, e o vento austral nos empurra rumo ao Brasil.

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À noite, terminamos uma garrafa de rum Havana Club e colocamos dentro dela um rolo de papel com um recado de cada tripulante para algum desconhecido que vai encontrá-la do outro lado do oceano. De manhã, às 6h30, enquanto a lua vermelha se põe no meio da baía do Rio da Plata, jogamos a garrafa nas águas escuras do Atlântico sul. Um tempo imersa, ela volta de novo para a superfície e começa sua longa jornada.

Depois de algumas semanas de convivência, nós, tripulantes do barco, viramos uma família. Cada membro procura seu lugar ativo e a rotina cotidiana é realizada com uma recém adquirida habilidade, mas também com muita tranquilidade. Já sei, por experiência própria, que tais amizades são sólidas e duradouras. Quase todos, depois de tanto tempo num espaço tão pequeno, chegam a mostrar a verdadeira face e a se abrir aos outros.

A viagem progride e, gradualmente, a cada dez graus de latitude para o Equador, despimos uma camada de roupa quente. Chegando à fronteira do Uruguai com o Brasil, estou atrás do leme usando apenas uma camiseta com manga curta. Depois dos ventos gelados, das tempestades ou das geladas “duchas” do mar, é tão agradável navegar nas águas quentes e respirar o cheiro revigorante de mar. Também a fauna em volta de nós está mudando: há mais gaivotas e os golfinhos trocam suas “sungas” de preto e branco para cinza.

No dia 21 de abril à tarde, depois de três semanas em alto mar, chegamos ao porto de Rio Grande no Estado do Rio Grande do Sul. A bombordo, passamos os grandes galpões portuários e só depois de quase uma hora de navegação à frente da orla encostamos na marina, onde conseguimos nos amarrar num píer flutuante de madeira com a ajuda dos locais. “Sejam bem-vindos de volta ao Brasil!”, nos recebe Pedro, um sorridente funcionário da marina.

Depois do controle de rotina do barco, o capitão dá licença à tripulação. Tudo parece tão familiar, todos nos entendem sem problemas, pagamos sem precisar trocar o dinheiro... Em seguida, a maioria dos homens vai para um barbeiro local, onde dois senhores bem falantes fazem nossa barba. E mais tarde nos sentamos num bar antigo para tomar cerveja gelada e relembrar as alegrias e dificuldades da viagem.

Para mim e mais alguns amigos termina aqui mesmo a travessia épica a bordo do Endurance. Depois de 1.880 milhas náuticas e 20 dias, nós voltamos para nossas vidas terrestres enriquecidos com novas experiências valiosas e, principalmente, com novos amigos com quem eu gostaria de zarpar de novo para o oceano e viver novas aventuras. Marcão e o resto da tripulação ainda vão navegar mais alguns dias até a marina no Guarujá.

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É verdade que navegar pela Terra do Fogo ou pela Patagônia demanda uma preparação detalhada e muita experiência náutica, já que qualquer coisa esquecida durante a fase de planejamento, até mesmo uma decisão apressada, pode prejudicar a todos durante esse tipo de expedição longa. No entanto, não é apenas o bom estado do barco ou um capitão experiente que vão garantir o sucesso da jornada: é a boa combinação dos dois elementos que vai levar a tripulação em segurança ao seu destino. 

O mar favorece os preparados, e a sorte, os corajosos!

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