O encontro com Itaimbezinho e Fortaleza, cartões-postais da região

Há trilhas desafiadoras e outras mais simples, mas a paisagem é sempre recompensadora

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Por Anelise Zanoni
Atualização:
Mirante. Pausa para foto no Itaimbezinho: vá de manhã para evitar a neblina Foto: Anelise Zanoni

Levar o título de terra dos cânions é uma grande responsabilidade. Com pouco mais de 6 mil habitantes, a cidade de Cambará do Sul precisou descobrir seu potencial empreendedor para aproveitar seu potencial turístico e criar opções aos viajantes que vêm conhecer os cânions Itaimbezinho, no Parque Nacional de Aparados da Serra, e Fortaleza, no Parque Nacional Serra Geral.

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Quem passa pelo centrinho percebe a movimentação: pedreiros levantando paredes com pressa surgem aqui e ali. Querem terminar o trabalho a tempo de a concessão dos parques ser efetivada. Enquanto isso não acontece, fazer a visitação é tarefa fácil, mas exige planejamento: reserve um dia para cada parque, pelo menos. Ambos têm entrada gratuita.

O ideal é privilegiar passeios pela manhã, para evitar paisagens com neblina. Também é importante saber que o clima muda rapidamente, podendo transformar dias amenos em clássicos de inverno.

Aparados da Serra

A chegada à área protegida, que em dezembro completa 60 anos, exige percorrer 11 quilômetros de estrada de chão Foto: Anelise Zanoni

Para quem vai aos parques por conta própria, a dica é ir primeiro aos Aparados da Serra. A chegada à área protegida, que em dezembro completa 60 anos, exige percorrer 11 quilômetros de estrada de chão. São cerca de 20 minutos balançando – mas compensa.

 A entrada é simples: paramos numa cancela, deixamos alguns dados pessoais e seguimos de carro até o estacionamento. Desde 2016, o acesso é gratuito.

Atualmente, duas trilhas estão liberadas: a do Cotovelo e a do Vértice. Comece pela primeira, mais longa, assim o corpo se acostuma e todo o resto vai parecer fácil. Ao todo, são cerca de 3 horas de passeio em um caminho leve, passando entre árvores e pontilhões de onde é possível ouvir o barulho da água.

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A gente não percebe, mas a caminhada é feita pelas bordas do Itaimbezinho, que só desponta no horizonte no final do passeio. E é justamente no fim que está o melhor. É quando paramos nos mirantes e podemos ver parte dos 5,8 quilômetros de extensão das paredes, que algumas vezes são cobertas por quedas d’água.

No total, a trilha do Cotovelo, com pouco mais de seis quilômetros (ida e volta), transpõe arroios e passa por mirantes instalados à borda do cânion, possibilitando uma vista privilegiada. Em uma das plataformas, despenca o Véu de Noiva, cachoeira que deságua no fundo do abismo por onde corre o Rio do Boi (ótimo ponto para quem gosta de trilhas longas, difíceis e guiadas). Depois da visita, voltar os 3 quilômetros restantes fica até fácil. 

Já a trilha do Vértice pode ser acessada ao lado do centro de informações, local onde está o único banheiro do parque e que mantém exposições sobre algumas atividades da cidade. É uma trilha fácil – tem apenas 1.500 metros e aproximadamente 1 hora de duração.  Nos primeiros passos, já temos uma vista parcial dos paredões, que ficam à disposição em frente ao mirante. Do alto, observam-se a Cachoeira das Andorinhas e o vértice do cânion Itaimbezinho.

Serra Geral

No topo, uma vista de 180 graus para o paredão que separa o solo gaúcho do catarinense Foto: Anelise Zanoni

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Guardar o melhor de uma viagem para o final é sempre mais interessante. Por isso, sugiro deixar a visita ao Parque da Serra Geral por último. Do centro de Cambará, são cerca de 40 minutos até o parque. Assim que chegamos, ao descer do carro, avistei ao longe uma montanha com alguns pontinhos no topo. “Sim, é para lá que vamos, onde estão aquelas pessoinhas”, confirmou o guia.

De mochila nas costas e casaco corta-vento, apertei o passo. A primeira aventura era rumo a um caminho simples em direção ao cânion. Logo após o estacionamento, à esquerda, a rápida trilha pela vegetação rasteira dá acesso à primeira vista do cânion que faz divisa com Santa Catarina.

Para quem tem problema de mobilidade (ou só preguiça mesmo) é a trilha perfeita. São apenas três quilômetros, o que dá, mais ou menos, 1h30 de caminhada rápida e muito simples. Sem falar que a paisagem reserva um momento “uau”.

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No meio do caminho surgem montanhas que parecem ter sido cortadas à faca, dispostas lado a lado. Para os corajosos, fotos sobre as pedras da borda rendem imagens lindas. Mas fique atento: os desfiladeiros não são protegidos e há risco de quedas.

Como já conhecia o cânion, sabia que valia a pena seguir por outra trilha de três quilômetros que levaria a uma das paisagens mais bonitas do Brasil. A trilha do Mirante é cansativa e, por vezes, prejudicada por causa do vento e da neblina, por isso é sempre mais indicado percorrê-la na parte da manhã.

No dia da minha visita, ofegante, percebi como o coração batia forte enquanto seguia em direção ao pico da montanha. Naquele dia de inverno ensolarado, foi preciso tirar casaco, manta e blusão de lã, agora desnecessários.

Já no topo, recebi a melhor das recompensas. Uma vista de 180 graus para o paredão que separa o solo gaúcho do catarinense. A paisagem parece se perder pelo horizonte e convida para um momento de silêncio e introspecção, cortado apenas pelo voo dos pássaros que habitam por ali.

Conheça os parques

Privilegie os passeios pelos cânions pela manhã para evitar a neblina. Também é importante saber que o clima muda rapidamente, podendo transformar dias amenos em clássicos de inverno.

Aparados da Serra É preciso percorrer 11 quilômetros de estrada de terra a partir do centro de Cambará do Sul.Entrada gratuita. · 2 trilhas abertas · Apenas no centro de visitantes há banheiros. Não há opção de alimentação. · Aberto das 8h/17h (a trilha do Cotovelo fecha às 15h)

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Serra Geral São 14 quilômetros de asfalto e 9 de estrada de terra a partir do centro de Cambará do Sul. Entrada gratuita. · 2 trilhas abertas · Não há banheiros nem opção de alimentação · Aberto das 8h/17h

Curiosidade Acredita-se que os cânions que ficam na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina tenham começado a se formar há pelo menos 130 milhões de anos. Com até 900 metros de altura, eles teriam passado por uma explosão subterrânea, que causou derrame de lavas basálticas, que se esparramam e depois se racharam. Afiadas, as bordas parecem ter sido aparadas à faca, motivo pelo qual o lugar ficou conhecido como Aparados da Serra.

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