LEIPZIG - Se fosse o caso de eleger um só endereço capaz de resumir Leipzig, este lugar seria a Augustusplatz. Nos extremos deste bulevar de formato retangular estão a Opera House e a Gewandhaus, as duas casas musicais mais importantes da cidade. Ao centro fica uma fonte que, junto com uma igreja no meio da quadra, na lateral oeste, foi tudo o que restou dos duros bombardeios de guerra.
Mas que hoje, recuperada, é apresentada aos turistas como motivo de orgulho de quem vive lá, um orgulho com jeito de superação. Por tudo isso, você acaba esquecendo que a praça, para falar a verdade, não poderia ser descrita como um exemplo de beleza.
De fato, o encanto de Leipzig reside muito mais em seu patrimônio imaterial do que naquilo que se pode ver e tocar. A segunda maior cidade da Alemanha é muito mais voltada ao comércio e à indústria. Perfil que se explica por sua história: na Idade Média, duas importantes rotas comerciais se cruzavam ali.
Também pode ser buscada no passado a justificativa para a vocação musical da cidade. Quatro ícones da música clássica viveram e produziram em Leipzig - Bach, Wagner, Schumann e Mendelssohn (leia mais abaixo) entre os séculos 17 e 18.
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Sebastian Bach foi também o responsável por tornar turisticamente relevante a Igreja de St. Thomas. Ali o compositor fez seus primeiros recitais. Ainda hoje, o Coral de Meninos de St. Thomas apresenta cantatas de Bach três vezes por semana, no salão de 800 anos de idade onde está o túmulo do músico.
Resistência. A igreja que existia na Augustusplatz, depois de sobreviver às bombas, foi dinamitada por ordem do governo soviético, para seguir o preceito marxista de que "a religião é o ópio do povo". Hoje, a Universidade de Leipzig se instalou no endereço. Está construindo um novo câmpus - em formato idêntico ao da antiga igreja.
Outro templo católico fez história no movimento de resistência local. Reuniões políticas eram proibidas durante os anos de governo socialista. Mas ir à missa era permitido. Assim, a Igreja de St. Nicholas virou ponto de encontro dos opositores . A tal ponto que, no fim das celebrações, policiais da Stasi, que não estavam autorizados a invadir a missa, se postavam pelas ruas para obrigar as pessoas a seguirem para suas casa e debandar a formação de grupinhos.
Em 8 de outubro de 1989, às vésperas da queda do Muro de Berlim, um protesto marcou a história da Igreja de St. Nicholas. A multidão saiu lá de dentro em procissão, todos com velas acesas. Pretendia-se, desta forma, mostrar que a manifestação era pacífica, já que, obrigados a segurar a vela com uma das mãos e a proteger a chama com a outra, estavam todos impedidos de se defender dos soldados da Stasi.
Por falar na polícia repressora, há um museu dedicado à sua história no antigo prédio que era sede de seus oficiais. Ali podem ser vistas máquinas usadas para abrir cartas, redações escolares consideradas subversivas e dossiês sobre potenciais inimigos do governo. A entrada é grátis. Mais: runde-ecke-leipzig.de.
Fausto. Foi no restaurante Auerbachs Keller (auerbachs-keller-leipzig.de) que o escritor Goethe (1749-1832) ouviu pela primeira vez a lenda de Fausto, que virou sua peça mais famosa. Como se não bastasse o folclore, a gastronomia da casa é respeitável (prove o porco com molho de mostarda, por cerca de 8). Os cardápios são enfeitados com ilustrações sobre o tema e há performances de atores. Já à noite, escolha um dos bares ou restaurantes das ruas Klostergasse e Barfuss Gasschen - um animado ponto para a happy hour.
GALERIA DE MESTRES
Johann Sebastian Bach (1685-1750): viveu seus últimos 27 anos em Leipzig. Há museu e arquivo na cidade: bach-leipzig.de
Felix Mendelssohn (1809-1947): fundou em Leipzig o primeiro conservatório da Alemanha: mendelssohn-stiftung.de
Robert Schumann (1810-1856): escreveu na cidade sua Sinfonia da Primavera. Museu em Leipzig: schumann-verein.de
Richard Wagner (1813-1883): nasceu e iniciou sua educação musical na Universidade de Leipzig: www.zv.uni-leipzig.de