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Consumidoras compulsivas

Por Mr. Miles
Atualização:

Ainda sem fornecer pistas que nos permitam ao menos arriscar um palpite a respeito de seu próximo destino, nosso viajante preferiu, sem muitas delongas, limitar-se à correspondência da semana: Caro mr. Miles: sempre viajei com minha mulher e, por muitos anos, a experiência foi maravilhosa. De alguns anos para cá, porém, nossas férias passaram a ser um martírio para mim (e para as finanças domésticas). Ela se tornou uma compradora compulsiva. Não importa para onde vamos, seu maior interesse é visitar shoppings e centros de compra. Para lhe dar um exemplo, fomos recentemente a Cancún e ela só viu o mar do Caribe no quarto dia de viagem! Existe alguma cura para essa doença?Carlos Vaz (desculpe-me, mas, por motivos óbvios, prefiro usar um pseudônimo), por e-mail"Well, my friend, o seu caso é verdadeiramente grave. Antes de comentá-lo, quero lhe enviar minha mais profunda solidariedade. Unfortunately, esta é uma situação que se repete com frequência cada vez maior. Segundo alguns pesquisadores, trata-se de uma compulsão incontrolável e autoalimentável, que acomete certas senhoras (e alguns cavalheiros também) já habituados a realizar compras desnecessárias e entediados com as opções de consumo de sua terra natal. Os sintomas se agravam quando a moeda do viajante passa a ter valor comparativamente maior em relação às demais, dando às suas vítimas uma perigosa sensação de plenipotência.Comprar, I must admit, é um dos prazeres de viajar. Há certos itens que só podem ser encontrados em lugares específicos, at least com variedade e qualidade aceitáveis. Eu mesmo tenho o prazer de presentear algumas amigas com mimos que adquiro em minhas andanças, que podem ser um panforte de Siena, na Itália, ou uma pérola negra de Manihi, na Polinésia.However, os sintomas da compulsão consumista são mais fortes e claros. A globalização das marcas é um fato irreversível e inquestionável. Quando uma pessoa começa a despender fortunas quando viaja em lojas que são exatamente idênticas às do centro comercial mais próximo de sua casa, a questão deve ser encaminhada para especialistas. Conheço os argumentos ("ah, querido, mas a blusinha que tem lá no Brasil não tem esse babadinho superdiferente" ou "nessa cor eu juro que nunca vi"). Quando isso ocorre, my God!, a infecção já tomou a corrente sanguínea. Tenho um amigo brasileiro que, 20 anos atrás, quase rompeu um sólido casamento porque sua mulher insistiu em fazer compras num daqueles ônibus de sacoleiras que invadiam Ciudad del Este, no Paraguai. Na volta, o coletivo foi interceptado pela Policia Federal e a distinta senhora passou por severos constrangimentos. Finalmente, quando voltou à sua casa, exibiu, exultante, os troféus da batalha: três aparelhos eletrônicos falsificados que duraram poucas semanas, duas caixas de batom e, voilà, duas réstias de alho "fa-bu-lo-sas"! Unbelievable, isn"t it? Um caso mais triste foi o de meu velho amigo Pierre Tournier, professor da Sorbonne, que já tinha perdido o controle sobre Veronique, his wife, completamente possuída pela doença. Depois de recorrer a analistas e medicamentos que não produziram resultados, Tournier levou Veronique para Istambul e largou-a, hipnotizada, na porta do Grande Bazar, com suas 4 mil lojas e dezenas de milhares de produtos. A seguir, em lágrimas, voltou a Paris e cancelou todos os cartões de crédito. Poor Tournier: nunca mais ouviu falar da mulher, que ele acredita continuar vagando pelos corredores do gigantesco estabelecimento.Sobre a sua questão, dear Charles, infelizmente ainda não tenho uma resposta precisa. Ouvi falar que, nas florestas de Bornéu, existe um velho mestre da ervanaria que promove rituais de exorcismo para consumidores (as) compulsivos (as), com expressivos resultados. Vou buscar mais detalhes e volto ao tema em breve. Por enquanto, recomendo-lhe viajar para a Noruega. Os preços daquele simpático pais nórdico inibem qualquer compulsão."É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ESTEVE EM 132 PAÍSES E 7 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

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