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Cristo, praia e carnaval: a cidade de Arica é o 'Rio de Janeiro' do norte

Com 200 mil habitantes, cidade é porta de entrada (e de saída) dos turistas para a região

Por Thiago Lasco
Atualização:
Assistir ao sol se pondo no Oceano Pacífico, a partir do Morro de Arica, é programa obrigatório para o fim de tarde na cidade chilena Foto: Thiago Lasco/Estadão

Ela é abençoada por uma estátua do Cristo, que está plantada em um morro com vista panorâmica da cidade. E tem um carnaval de rua que é o maior do país e um dos mais importantes da América Latina. Estamos falando do Rio de Janeiro? Não: é Arica, uma cidade de 200 mil habitantes a apenas 18 km da fronteira entre o Chile e o Peru.

Arica cresceu e vive em função do mar. Tem praia e porto - seus antepassados, os chinchorros, viviam da pesca e deixaram ali um pouco de sua cultura. O clima é ameno durante todo o ano, com temperaturas médias entre 17 e 25 graus, o que lhe rendeu o apelido de “Cidade da Eterna Primavera”.

As praias Chinchorro (foto) e Las Machas recebem muitos peruanos e bolivianos Foto: Thiago Lasco/Estadão

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Sem a mesma badalação de Viña del Mar, as praias de Arica são muito frequentadas por bolivianos e peruanos. As vizinhas Las Machas e Chinchorro têm areia batida e escura e mar raso e frio; já El Laucho, em uma pequena enseada, tem bares de praia e um serviço mais caprichado.

Uma caminhada pela orla fica melhor com uma paradinha no Mr. Chiss, na Playa Chinchorro. O food truck serve frutos do mar com sotaque peruano e uma limonada com hortelã deliciosa. O ceviche custa 4 mil pesos (R$ 24), metade do que se pede em Santiago; um combo para dois com ceviches, limonadas e um chicharrón de pescado (pedaços de peixe empanados em farinha de milho e fritos) sai por 13 mil pesos (R$ 76).

Com estrutura de ferro, a catedral é assinada pelo engenheiro francês Gustave Eiffel, o mesmo que construiu a Torre Eiffel em Paris Foto: Thiago Lasco/Estadão

City tour

No centro, o destaque é a Catedral San Marcos de Arica. Com estrutura de metal em estilo neogótico, ela foi construída em 1875 pelo francês Gustave Eiffel (sim, o mesmo da torre em Paris).

A Plaza Colón, no centro de Arica, é o lugar certo para tomar a fresca depois do jantar Foto: Thiago Lasco/Estadão

Em frente à igreja, a Plaza Colón é o local certo para dar um tempo depois do jantar (que pode ser a poucos passos dali, no peruano Amaz), tomar a fresca e ver o movimento noturno.

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No porto de Arica, lobos-marinhos aparecem a todo momento eencantamos visitantes Foto: Thiago Lasco/Estadão

Do outro lado da praça e da avenida costeira, o porto também vale uma olhada durante o dia. Barracas vendem peixes e frutos do mar fresquinhos – há corvinas, congrios, tollos (peixes parentes dos tubarões) e jaibas, os caranguejos gigantes típicos da região. As sobras dos peixes fazem a festa de pelicanos e lobos-marinhos, que estão sempre à espreita e rendem ótimos cliques.

No porto de Arica, os pelicanos estão sempre de olho nas sobras dos peixes limpos pelos pescadores Foto: Thiago Lasco/Estadão

Dá para almoçar por ali gastando bem pouco. Duas picadas (restaurantes simples), La Porteñita e Matarangi, servem menus do dia, com entrada, sopa, prato de peixe e bebida, por preços entre 4 mil pesos (R$ 23) e 6 mil pesos (R$ 35).

Inaugurada no ano 2000, estátua do Cristo de La Paz celebra a paz entre o Chile e o Peru, que disputaram a região onde está a cidade de Arica durante a Guerra do Pacífico (1879-1883) Foto: Thiago Lasco/Estadão

Se o céu estiver claro, não deixe de subir ao Morro de Arica no fim da tarde. A estátua do Cristo de la Paz, inaugurada no ano 2000, não tem lá a mesma presença do Cristo Redentor carioca, é verdade.

Do alto do Morro de Arica, dá para ver boa parte da cidade, com a orla e o porto Foto: Thiago Lasco/Estadão

Mas, do mirante a 130 metros de altura, dá para ver boa parte da cidade, o porto, a orla e o sol se pondo no Oceano Pacífico. A partir da Plaza Colón, são cinco minutos de carro (pelas ruas Rafael Sotomayor e Santo Domingo) ou 20 a pé (pelo caminho no final da rua Cristóbal Colón).

No rastro dos antepassados

Ao sul de Arica, duas atrações turísticas remetem a um passado muito distante.  Conheça:

A pouco mais de 10 km do centro de Arica, as Cuevas de Anzota são grandes falésias de pedras esculpidas pela força do mar e dos ventos Foto: Thiago Lasco/Estadão

Cuevas de Anzota A apenas 10 km do centro de Arica, as Cuevas de Anzota são grandes falésias que foram esculpidas pela ação do mar e dos ventos por milhões de anos (o mar anzota, ou seja, açoita as rochas, daí o nome).  O caminho para visitação vai margeando paredes de pedra em tons de marrom, cinza e branco, que contrastam com o mar esmeralda. Algumas rochas foram batizadas pelas formas ou desenhos que aparecem em seu relevo: O Rosto do Avô, O Beijo do Cachorro, O Coração da América do Sul. Inscrições rupestres denunciam a passagem de povos primitivos. Dá para explorar as cavernas, fazer trilhas com guias credenciados e, em alguns trechos sinalizados, até arriscar um rapel.

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No passeio às Cuevas de Anzota, dá para explorar as cavernas e até fazer rapel em alguns trechos Foto: Thiago Lasco/Estadão

Embora as falésias estejam ali há milhões de anos (durante o Paleozoico, estavam completamente submersas), o local passou a ser administrado apenas em 2016. O ingresso é gratuito, mas não há muita estrutura para o visitante. Os únicos banheiros, na entrada, estão fechados; comida e bebida, só nos fins de semana do verão, quando food trucks param na entrada.

Os totens na entrada da Caleta Camarones simbolizam um homem e uma mulher mumificados dentro da tradição do povo chinchorro, que vivia na região Foto: Thiago Lasco/Estadão

Caleta Camarones Seguindo a partir de Arica por 1h40 (117 km) pela Ruta 5, chega-se à Caleta Camarones, aldeia de pescadores que foi um lugar de concentração dos chinchorros. Esses antepassados dos ariqueños viviam de pesca e coleta e foram o primeiro povo da humanidade a mumificar seus mortos – há totens na entrada da aldeia que representam um homem e uma mulher mumificados dentro do costume chinchorro.

Os pescadores da Caleta Camarones mantêm técnicas de manejo artesanais, herdadas dos chinchorros Foto: Thiago Lasco/Estadão

O lugar é também um sítio arqueológico, com vestígios que vão de ossadas a restos de múmias. Mas, ao longo dos anos, grande parte desse material foi levada por pesquisadores. Ao visitante, o que resta hoje é o contato com os pescadores, que mantêm vivas tradições dos antepassados, incluindo as técnicas de manejo. Eles limpam de forma artesanal quilos de ouriços todos os dias.

Chinchorrazo, cozido que leva chorozapatos (espécie de mexilhão gigante), peito de frango e linguiça Foto: Thiago Lasco/Estadão

A visita pode ser coroada com um almoço típico, servido nas casas dos próprios pescadores (combine ao chegar). A estrela é o chinchorrazo, cozido que leva chorozapatos (espécie de mexilhão gigante), peito de frango e linguiça. Pode haver também perol (escabeche de frutos do mar servido frio, como um ceviche), chicharrón de pulpo (pedaços de polvo fritos até a consistência de torresmo) e pebre, o vinagrete chileno. Em média, 4 mil pesos (R$ 23).

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