JOHANNESBURGO - Por volta das 10 horas de domingo o 44 Stanley ainda espreguiçava, relutava em despertar de vez. Providencial para espantar a sonolência era aquela xícara de café sobre a mesa, um espresso feito com grãos originários da Etiópia, segundo Jonathan Robinson, o proprietário da cafeteria Bean There.
O 44 Stanley é um empreendimento de consumo e lazer a caminho de Sunnyside, a noroeste e perto do centro de Johannesburgo. Um quarteirão grande de galpões industriais da década de 1930 que reúne lojas de roupas e decoração conceituais com pegada local, barbearia, um ou outro escritório, cervejaria artesanal e cafeterias-restaurantes.LEIA MAIS: Prazeres da carne e restaurantes tradicionais
A Bean There é uma dessas cafeterias, só que sem a vocação para restaurante. De comer só há mesmo alguns bolos e muffins. O negócio da casa é café, feito de grãos torrados e moídos ali mesmo, e sempre puros de origem e produção. “Não fazemos blends”, conta o orgulhoso proprietário, canadense que aprendeu a beber café com a avó e transformou o prazer em fonte de renda há dez anos, depois de um começo de vida profissional como analista de sistemas de informação.
O ambiente de concreto e linhas retas ganha calor e vida por causa das fotografias nas paredes. São imagens de gente real, os pequenos produtores familiares de seis países africanos que fornecem os grãos à loja, dentre os quais os etíopes são a elite em termos de sabor e qualidade. “Ao todo, somando os fazendeiros, somos um grupo de 100 especialistas em café”, informa Jonathan.LEIA MAIS: Braamfontein: point dos descoladosLEIA MAIS: Maboneng, a síntese da Johannesburgo jovem e criativa
Aquela primeira xícara - duas, na verdade, porque antes do espresso veio um cappuccino confortável como um cobertor, de tão cremoso - abriu as portas para o programa dominical da classe média de Johannesburgo: o brunch. Mesas são preguiçosamente ocupadas, preferencialmente ao ar livre, para demoradas refeições. Os pratos são selecionados em cardápios repletos de termos como fresco, local, sazonal e feito em casa, para descrever sucos, quiches, molhos, saladas e mais.
Como estava frio, passamos direto pelo jardim e fomos nos acomodar em uma mesa grande de madeira no salão do Salvation Cafe, ao lado de um balcão tomado por cestas de frutas. O suco fresco foi sugestão do atendente: abacaxi, maçã, pera e gengibre. Para comer, cogumelos refogados sobre uma torrada de ciabatta. Mas só depois que todos compartilhamos uma pilha de panquecas com frutas vermelhas e creme. Mais café, o total da conta não chegou a 170 rands por pessoa, cerca de R$ 40.
Bom dia. Na saída do Salvation a atmosfera do 44 Stanely era outra. Parecia que todo mundo havia chegado de uma vez e, animado pelas mesas cheias, conversas, certa algazarra de crianças e carrinhos de bebê, até o sol apareceu um pouco.LEIA MAIS: Histórias de apartheid, da prisão ao Soweto
Começou o entra e sai das lojas. A Lunar tem ateliê e faz até vestidos de noiva - lindos, rústicos e minimalistas - além de vestidos para o dia a dia que custam desde US$ 150. Bijuterias sul-africanas custam a partir de US$ 15. A vizinha Anatomy Design, criada há cinco anos, expunha estamparia local de extremo bom gosto e nada óbvia no revestimento de poltronas, e também luminárias com cúpula de cobre claramente italianas. Por ali havia também uma loja de bicicletas elétricas.
E, pouco adiante, eu teria sentado com prazer nos sofás coloridos da Stanley Beer Yard, uma cervejaria artesanal decorada com frases engraçadinhas sobre a bebida (“Cerveja é bom, mas cervejas são melhores”). Pena que estava, digamos, exageradamente alimentada. *Viagem a convite da Four Seasons e South Africa Airways, com apoio de South African Tourism.