Da tradição das cerâmicas decoradas à cultura da dança

Barro modelado é retirado dos campos alagados da ilha e a decoração das peças segue um padrão específico. No carimbó, aceite o convite e entre na roda

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Por Bruna Toni
Atualização:
Artesão Ronaldo Guedes trabalha em cerâmica Foto: Bruna Toni/Estadão

Antes de ir a Marajó, o que eu mais conhecia de sua identidade era a arte em cerâmica. Portanto, um de meus objetivos era encontrar esse artesanato. Descobri, porém, que lá era o berço de outra arte pela qual sou fascinada: carimbó. Júnior – mais uma vez ele – me ajudou a encontrar ambos, garantindo as melhores memórias (e presentes) da viagem.

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Artesanato

Entre idas e vindas pelas ruas de Soure, paramos no Ateliê Arte Mangue Marajó para conhecer o trabalho de Ronaldo Guedes, um dos artistas mais conceituados do Pará. Numa casa da Travessa 23 funciona sua loja e seu espaço de produção, compartilhado com outras artesãs que, no momento da minha visita, concentravam-se em peças de tamanhos e funções variadas. Assim como Ronaldo, que conversava sem tirar os olhos do vaso sobre o qual desenhava traços da tradição marajoara.

O barro modelado é retirado dos campos alagados da ilha, enquanto os pigmentos que garantem cor às peças vêm de rochas minerais como o argilito e o caulim. Pergunto sobre a inspiração para os traços, já que cada obra é única. “Há padrões de formas geométricas na arte marajoara. E há bastante estudo”, conta Ronaldo. Desisti do enorme vaso que encontrei na entrada – tinha uma viagem toda pela frente. Mas me dei de presente um colar de cerâmica triangular (R$ 25).

Já em Salvaterra, terminamos nosso passeio na sede da Associação Educativa Rural e Artesanal da Vila de Joanes, onde mulheres marajoaras realizam um interessante trabalho com a cuia (ou cabaça), fruto cuja casca pode ser transformada em vasos, recipientes e outros tantos objetos que a criatividade desejar. De lá, trouxe para casa metade de uma cuia pintada a mão com motivo de búfalo (R$ 20).

Carimbó Cruzeirinho

Aterrissei em Belém atrás do carimbó, mas foi em Marajó que arranquei as sandálias e me joguei na pista. O ritmo, Patrimônio Imaterial desde 2014, remonta ao século 17 e nasceu na zona rural do Pará, fruto da mistura das culturas indígena, africana e europeia. Na ilha, quem domina o cenário é Grupo Cruzeirinho, criado em 1987 para preservar não só o carimbó, mas outras manifestações artísticas.

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Foi Júnior quem entrou em contato com a Tia Amélia, líder do grupo, para confirmar se haveria apresentações no Centro Cultural Cruzeirinho – há ensaios às segundas e quintas. Sorte: na mesma noite, lá estávamos nós, babando no rodar das saias coloridas das moças que dançavam em movimentos circulares hipnotizantes. Momentos de tensão existem quando elas esticam os braços nos convidando para a dança. Cedi. A essa altura, eu já vestia um saião igual ao delas e, depois de muito suor, acho até que não fiz feio

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