Das armas ao turismo: ex-rebeldes das Farc viram guias de rafting

Auxílio para o desenvolvimento econômico faz parte do acordo de paz assinado entre as forças rebeldes e o governo da Colômbia

PUBLICIDADE

Por Luis Jaime Acosta
Atualização:

MIRAVALLE - Nove ex-combatentes das Farc (Forças armadas Revolucionárias da Colômbia) que trocaram as armas e os pesados uniformes de combate por remos, capacetes e coletes salva-vidas lançam quatro botes infláveis carregados de visitantes no turbulento Rio Pato, nas profundezas da densa floresta amazônica colombiana

Os ex-guerrilheiros escolheram o rafting como seu caminho para reintegração, enquanto o governo da Colômbia faz esforços para tornar o turismo um motor da economia do país. 

Grupo de repórteres e representantes do governo colombiano participaram de um passeio de rafting guiados por ex-rebeldes das Farc em Miravalle, na província de Caquetá. Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

PUBLICIDADE

"Durante o conflito, esta região era difícil, havia balas e bombas o tempo todo. Hoje, muita coisa mudou, muitas pessoas vêm para ver as cachoeiras, a montanha, o rio", disse o guia Duberney Moreno, de 34 anos, um veterano de 13 anos das Farc.

Quase 13 mil ex-combatentes e seus simpatizantes desarmados participam de um processo de reintegração no escopo do acordo de paz assinado em 2016 para acabar com mais de 52 anos de guerra entre as Farc e o governo colombiano. A reintegração é considerada fundamental para garantir que ex-membros das Farc não retornam ao campo de batalha com o grupo rebelde Exército de Libertação Nacional (ELN), menos numerosos, e com gangues crimonosas e grupos dissidentes que se recusaram a se desmobilizar. 

Duberney Moreno, ex-rebelde das Farc, hoje guia de rafting. Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

O conflito na Colômbia já matou mais de 260 mil pessoas e outras milhões foram deslocadas, sofreram violência sexual ou fora mutiladas por minas terrestres ou bombas. O acordo avançou lentamente, mas as Farc são agora um partido político com 10 assentos garantidos no Congresso até 2026. Muitos ex-combatentes voltaram para casa para se reunir com suas famílias, mas cerca de 5 mil permaneceram em 24 zonas de desmobilização como a do Pato, transformando-as em cidades improvisadas construídas sobre princípios marxistas.

Guias certificados O governo dedicou orçamento de cerca de US $ 1,6 milhão para ajudar essas áreas, que são protegidas por forças do governo, começar cerca de 300 projetos de agricultura, pecuária, pesca, sapataria, marcenaria e agora projetos de turismo. 

Muitos ex-combatentes, a maioria dos quais vêm de áreas rurais pobres, também contribuíram com o dinheiro que receberam no processo de desmobilização para desenvolver os projetos.

Publicidade

Duberney Moreno e outros oito ex-combatentes participaram de treinamentos de 200 horas para se tornarem guias de rafting e obtiveram certificação da Federação Internacional de Rafting. A localidade, na província de Caquetá, no sul da Colômbia, custou US$ 20 mil para construção e instalação de trilhas para caminhadas e espaço de hospedagem. Os antigos combatentes preparam refeições e guiam visitantes a partir da estrada esburacada que começa a cidade mais próxima. 

"Temos de continuar apoiando essas iniciativas. Elas criam confiança no processo de paz", disse Jessica Faieta, representante da missão das Nações Unidas na Colômbia, que ajuda a conduzir a reintegração. 

O presidente Ivan Duque, que assumiu o cargo em agosto, disse que o turismo pode ser o novo impulsionador econômico do país. As viagens para a Colômbia aumentaram nos últimos anos e os estereótipos sobre a violência vêm sendo compensados pela cobertura positiva da mídia acerco dos diversos destinos turísticos do país.

"Quero que o turismo seja o novo petróleo da Colômbia e que seja o grande fortalecedor da atividade econômica ", disse Duque em um evento recente.

Mais de 3,3 milhões de turistas visitaram a Colômbia em 2017, um aumento de 23,9% em comparação com 2016. Os números representam quatro vezes a taxaanterior a 2010, quando apenas 1,4 milhão de pessoas visitava a ComlÔmbia a cada ano. O governo estima que o turismo tem potencial para criar US $ 6 bilhões por ano e cerca de 300 mil empregos.

Duverney Moreno e seus colegas estão otimistas sobre seu futuro no Rio Pato. "Queremos paz", disse Moreno, de pé na praia em meio ao calor sufocante. "Acreditamos em uma Colômbia diferente é possível."

Grupo de repórteres erepresentantes do governo colombiano participaram de um passeio de rafting guiados por ex-rebeldes das Farc em Miravalle, na província de Caquetá. Foto: Luisa Gonzalez/Reuters
Grupo de repórteres erepresentantes do governo colombiano participaram de um passeio de rafting guiados por ex-rebeldes das Farc em Miravalle, na província de Caquetá. Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

  

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.