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De barco, uma experiência única ao lado das baleias

Por Fabio Vendrame e PUERTO PIRÁMIDES
Atualização:

É o tipo da coisa que a gente nunca esquece. Era uma manhã azul de dezembro e, embora o sol imperasse absoluto sobre nós, fazia frio. Estávamos em Puerto Pirámides, de onde saem os barcos para observar baleias, a picanha na chapa do turismo naquelas bandas. Era a nossa vez e, entre uma brincadeira e outra, tínhamos a sensação de que algo grandioso estava prestes a acontecer.Havia coisa de 20 turistas na embarcação, gente de diferentes nacionalidades, todos ansiosos para se enternecer com aquelas criaturas gigantescas e graciosas. O guia dava as instruções, faça isso, não faça aquilo. No fim, confessou que algo lhe dizia que aquela manhã prometia uma experiência memorável. Não sei ao certo o que o levava a essa convicção, mas seu semblante trazia a confiança dos vencedores estampada. O barco zarpou por volta das 10 horas e começou a se afastar da costa. Não deu nem meia hora e o comandante soltou o aviso: "Baleia à vista! Mamãe e filhote a estibordo!". Todo mundo se entreolhou e seguiu para a proa. Ninguém parecia saber ao certo se estibordo era à direita ou à esquerda. Então, cada um se posicionou onde achava melhor. Dei sorte. Estibordo é o lado direito de quem olha da popa para a proa, e lá estava eu.Um esguicho poderoso jorrou da superfície. Logo pudemos ver o filhote, projetando seu corpanzil para fora d'água e voltando a submergir. Parecia desfrutar enquanto nadava calmamente, acompanhando o ritmo do barco. Suspiros e "ooooohhssss".Cliques e mais cliques. Nem me dei conta de como o mar começara a ficar agitado. O coração estava na boca.Enquanto a cena se repetia, fiquei à espera de ver a mãe. Se o filhote já parecia gigante, imagine a versão adulta! A baleia-franca alcança de 14 a 18 metros de comprimento e pesa até 40 toneladas - o filhote nasce com cerca de 5 metros e 4 toneladas. Vivem por volta de 60 anos.Foi quando, de repente, um colega do grupo me tocou o ombro: "Ela está bem debaixo do barco." Paralisei. Ele se agachou e tocou a cabeça cascuda da gigante. "Cara, que incrível! Faz um carinho nela também!" Isso pode? Não, não pode. Mas, cá entre nós, ninguém perderia uma chance dessas. Nem eu. Agachei, estiquei o braço e projetei o corpo para tocá-la. Levei um susto quando ela soltou um jato. Senti respingar no meu rosto. Meus óculos ficaram molhados. O que era aquilo?Então me dei conta de que ela posicionava a cabeça sob o casco e levantava o barco com um movimento suave, como se quisesse se exibir para o filho. Ou, talvez, como se nos dissesse: "É, meus amigos, se eu quisesse jogaria todos vocês ao mar".Aos poucos, já satisfeita com seu show, a mamãe soltou mais um esguicho e deslizou seu corpo interminável para longe da embarcação. O filhote foi atrás e, sem cerimônias, os dois sumiram de nossa vista. Uau. Suspensão no Brasil. De julho a novembro também é possível observar as francas em Garopaba, Imbituba e Laguna, em Santa Catarina, para onde elas migram durante a temporada de reprodução. Este ano, contudo, a Vara da Justiça Federal de Laguna suspendeu o turismo de observação de baleias embarcado. O governo catarinense e as empresas envolvidas na atividade já estão recorrendo da decisão.A ação civil pública foi movida pelo Ministério Público Federal a partir de denúncia do Instituto Sea Shepherd Brasil de que não há estudos suficientes sobre o impacto das atividades nos animais nessa região. Os passeios, realizados na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, são regulamentados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).A abertura da temporada ocorre oficialmente em 13 de julho. Apesar da incerteza quanto aos passeios de barco, ainda é possível avistar as gigantes da terra, a poucos metros da arrebentação - há tours guiados por biólogos. Agências como Vida, Sol e Mar (turismovsm@hotmail.com; 48-3254-4199 ) e Base Cangulo (contato@basecangulo.com.br; 48-9103-7266) cobram cerca de R$ 60 pelo passeio terrestre. Antes de agendar a viagem, vale consultar os portais do ICMBio (www.icmbio.gov.br) e do Instituto Baleia-Franca (baleiafranca.org.br) e checar se a proibição foi revogada. / COLABOROU FELIPE MORTARA

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