De carro na Califórnia: De São Francisco a Carmel (217 km)

As belezas (e surpresas) da Seven Mile Drive

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Foto do author Adriana Moreira
Por Adriana Moreira
Atualização:

"Nada atrás de mim, tudo à minha frente, como sempre foi na estrada"; Jack Kerouac, On The Road

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Nossa viagem tinha um quê de inspiração em Kerouac, mas foi Monterey, a primeira parada saindo de São Francisco, que se baseou na literatura para nomear seu principal ponto turístico, Cannery Row. O distrito, onde ficavam as fábricas de sardinha em lata no fim do século 19, ganhou esse nome em 1958, em homenagem ao livro homônimo de John Steinbeck. “Um poema, um fedor, um rangido, um tipo de luz, um tom, um hábito, uma nostalgia, um sonho”, escreveu ele sobre essa parte da cidade, muito antes de ela entrar na rota dos viajantes.

A atmosfera industrial permanece, mas ganhou cor e charme, restaurantes e cafés, lojas e jardins. Em uma das antigas fábricas está o indispensável Aquário de Monterey (de US$ 29,95 a US$ 39,95), com mais de 35 mil animais e plantas de 550 espécies. Fique atento aos horários de alimentação dos animais – você receberá a lista logo na entrada. 

Os tanques mais impressionantes são os das águas vivas, que exibem seu colorido e balé, e os das sardinhas, que nadam em círculos, seguindo o padrão da espécie – elas usam essa “coreografia” para despistar predadores. Há, claro, os enormes tanques onde desfilam tubarões, arraias, atuns e outros gigantes do mar. E as simpáticas lontras, cuja descontração faz parecer que elas estão curtindo a piscina em uma colônia de férias. O único ponto baixo foi o espaço reservado aos pinguins, tão deprimente quanto as aves que ali estavam.

Carmel. Almoce em Monterey antes de seguir viagem até Carmel-By-The-Sea pela 17 Mile Drive (isso, claro, se você não quiser passar uma noite naquele clima relax). Mesmo com o GPS, nos perdemos um pouquinho, o que proporcionou surpresas como uma casa colorida, enfeitada de borboletas – P.G. Butterfly House –, com um aviso de “propriedade particular” ao lado de outro que dizia “veterano do exército”. Pelo sim, pelo não, fotografamos com bastante atenção.

Já no caminho certo, cruzamos os portões de Pebble Beach, um condomínio por onde passa a estrada cênica. O trajeto é repleto de mansões, campos de golfe e paisagens que fazem você querer parar para fotografar a cada minuto, especialmente se o dia estiver ensolarado. Na entrada, paga-se a taxa de US$ 10 por carro e ganha-se um mapa, que lista as principais paradas.

É claro que o mapa não aponta algumas deliciosas particularidades, como os esquilos que povoam as praias e posam para os cliques ao lado das gaivotas, ambos interessados nos lanches dos turistas. Ou a família de cervos que cruzava um dos campos de golfe e permaneceu nos observando, imóvel, até que alguém tentasse uma aproximação maior. Mas marca o impressionante Cipreste Solitário, uma árvore à beira de um precipício que resiste aos fortes ventos daquela região há 250 anos. Não economize nas pausas – afinal, é por isso que você está na estrada. 

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Descanso. Com tantas paisagens fotogênicas, chegamos a Carmel no fim da tarde. Pusemos as malas na Hofsas House (a partir de US$ 140 o casal), pousada familiar de estilo vintage, com ótimo atendimento (embora o café da manhã seja fraquinho), e corremos para tentar fazer algo ainda com a luz do sol. A cidade é pequeníssima, repleta de lojas charmosas nas quais eu teria deixado uma pequena fortuna não fosse o fato de que todas fecham às 17 horas e abrem só depois das 10 (quando já teríamos partido). A Califórnia, afinal, não é sobre ganhar dinheiro, mas sobre qualidade de vida – e o fim da tarde foi feito para assistir ao pôr do sol na praia, alguns metros abaixo.

Terminamos o dia no delicioso Basil Carmel, cujo menu é baseado nos ingredientes da estação. Compartilhamos o melhor polvo grelhado (US$ 18) que já comi na vida (e nem gosto de polvo) e suculentas almôndegas de carneiro (US$ 12) com molho de tomate, bebericando vinho californiano. De prato principal, pedi ravióli com alcachofras (US$ 18), outra especialidade da região.

A noite em Carmel acaba cedo – e era preciso guardar energias para mais um dia na estrada. Por isso, era hora de aproveitar o quarto com papel parede florido e edredom fofinho para sonhar com mais uma manhã de sol.

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