Degustar o Alentejo: roteiro com vinhos, restaurantes e história

Boa infraestrutura turística e localização central e próxima a Lisboa tornam Évora a base perfeita para explorar as estradas e adegas desta porção sul do país

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Por Monica Nobrega
Atualização:
4 min de leitura
Degustação e restaurante da adega Quetzal Foto: Mônica Nóbrega/Estadão

ÉVORA - As planas estradas do Alentejo desenham curvas suaves em meio a campos plantados de sobreiros e azinheiras. Ambas as árvores são fundamentais na economia local. Da primeira é extraída a cortiça, de que a região é a principal produtora no mundo, e a segunda dá a bolota, um tipo de castanha que alimenta o porco preto e deixa a carne do animal ainda mais tenra e saborosa. Só umas poucas colinas baixas, chamadas ali de montes, ondulam a linha do horizonte, recobertas pelas videiras responsáveis por outro produto fundamental na região: o vinho.  Foi exatamente para conhecer a produção do vinho alentejano e as opções que ela oferece ao turismo que passei quatro dias na região, no fim do outono europeu. Com o inverno próximo, os parreirais começavam a enferrujar suas folhas e caminhar para o estado de dormência. Nas adegas, que é como Portugal chama os galpões industriais onde se faz o vinho, as uvas da safra 2016 começavam o processo de vinificação. Enquanto isso, garrafas de 2015 chegavam às lojas e mesas. Beber, comer e contemplar é o que se faz mais e melhor no Alentejo. As paisagens são largas; as cidades, pequenas, com construções ora medievais, de pedra, ora caiadas, formando quarteirões de casas brancas com telhados avermelhados. Os conventos chegaram a somar 48 no século 19. Sobraram 22, e alguns dos prédios desativados para fins religiosos hoje são hotéis imersos em um charme histórico inspirador. Charmosos são também os hotéis que ficam dentro das fazendas, aqui chamadas de herdades, que costumam ter poucos quartos e colocam o hóspede para dormir entre vinhedos.  A cultura do vinho no Alentejo é milenar, mas sofreu altos e baixos ao longo de sua história. No século 17, a produção local foi prejudicada pela decisão do Marquês de Pombal de proteger os vinhos do Douro, no norte do país. Mais tarde, o governo do ditador Salazar, nas décadas de 1930 a 1960, decidiu que as terras alentejanas deveriam produzir cereais, o que levou ao extermínio da maior parte dos vinhedos. Por isso, vinhas antigas são raras – e quem as tem, como a Herdade do Rocim, onde vinhedos sobreviventes têm de 50 a 60 anos, divulga e cria rótulos especiais a partir delas. As primeiras Denominações de Origem Controlada (DOC), ou seja, certificados que atestam a qualidade do vinho e sua produção de acordo com certos parâmetros, foram regulamentadas em 1988: completam três décadas de existência no ano que vem. Existe ainda o selo Vinho Regional Alentejano, uma categoria mais abrangente que a DOC. Hoje, são cerca de 260 produtores de vinho nesta que é a maior região de Portugal, ocupando um terço do território continental do país. Estão espalhados pelos distritos de Portalegre, mais ao norte, Beja, ao sul, e Évora, ótima para se hospedar por causa de sua localização central. É preciso alugar carro para desbravar estas estradas, ou contratar serviços privados de transporte caso a ideia seja apreciar as degustações sem moderação.  A cidade de Évora, a apenas 140 quilômetros de Lisboa, ganha pontos também pelos ótimos restaurantes que tem. A cozinha alentejana é farta e natural. Queijos e embutidos, chamados localmente de enchidos, aspargo, grão-de-bico, o já citado porco preto e o azeite de oliva são ingredientes locais tão importantes quanto os campos, os sobreiros, as azinheiras e o próprio vinho na composição do terroir alentejano.  

Mar de casas caiadas no Alentejo Foto: Mônica Nóbrega/Estadão

SAIBA MAIS1. Aéreo: a TAP voa direto São Paulo–Lisboa–São Paulo, com tarifas que começam em R$ 4.434. 2. Carro: para alugar, faça a pesquisa no site oficial do aeroporto de Lisboa, que compara preços de várias locadoras que têm lojas no terminal. Há modelos básicos desde 38,80 euros a diária.3. Transporte terrestre: a Babika tem tanto passeios pré-formatados quanto o serviço de transporte personalizado, desde 80 euros para meio dia de transfer, e 130 euros o dia inteiro. Contatos: 351-916-941-601; babikamail@sapo.pt. Para grupos de mais de 7 pessoas, procure a Viagens Rainha Santa Isabel. 4. Site: a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana reúne informações sobre vinhos e enoturismo no site vinhosdoalentejo.pt. ONDE FICARCasa do Escritor. Este cama e café familiar é impecável. Tem três quartos duplos com decoração de bom gosto e banheiro privativo, e conta com uma gostosa piscina no quintal. Fica a 5 minutos de caminhada da Praça do Giraldo, a principal de Évora. Diárias desde 75 euros.Pousada dos Lóios. Também chamada de Pousada Convento de Évora, ocupa o prédio do antigo Mosteiro de São João Evangelista ou dos Lóios, fundado no fim do século 15, em 1487. Está em frente ao Templo de Diana, em um trecho elevado do centro histórico, com vista ampla. Os quartos eram as antigas celas dos monges e são quase todos diferentes entre si. O café da manhã é servido em um dos claustros, transformado em um pomar de laranjas e mexericas. Desde 100 euros.Convento do Espinheiro. Antigo convento fundado no século 15, é monumento nacional. Fica a 10 minutos de carro do centro de Évora, com parte dos seus 92 quartos voltados para o também histórico Mosteiro da Cartuxa. O restaurante onde é servido o café da manhã é a antiga adega do convento; o bar de vinhos, a cisterna. O Pulpitus Bar tem mesa de sinuca. E a capela ainda serve a funções religiosas – inclusive casamentos. Diárias desde 166 euros. 

*A repórter viajou a convite da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.

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