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Denmark Street: lá o dia passa em ritmo de rock

Considerada o coração musical da cidade, rua foi casa dos Pistols e viu os Stones gravarem seu 1.º disco

Por Carla Miranda
Atualização:

Enfileiradas, uma loja só de guitarras, outra exclusivamente dedicada a contrabaixos e uma terceira apenas com modelos de bateria na vitrine. Como estamos falando de antigos sobrados vitorianos, os andares superiores estão ocupados por estúdios de gravação e escolas de música, transformando a Denmark Street, no bairro do Soho, no Éden dos apaixonados pelos acordes. Para falar a verdade, até quem não toca nada além de campainha se diverte por lá, vendo as guitarras de formatos variados e a fauna típica de uma rua que reúne tantos artistas (dread locks e roupas modernosas parecem itens de série). E pensando no quanto a paulistana Teodoro Sampaio, em Pinheiros, perde na comparação com a Denmark. A rua, aliás, se auto-intitula a Tin Pan Alley da Inglaterra, uma referência ao apelido dado a um certo trecho de Manhattan, nos Estados Unidos, onde todos no mundinho da música se reuniam até a década de 1960. E esnoba um pouco da fama da Abbey Road, em St. Johns Wood, bem mais popular por causa dos Beatles. Considerada o umbigo musical de Londres, a Denmark começou a atrair a turma das palhetas e das baquetas no início do século 20, por causa dos aluguéis baratos (naquela época, não se confunda) e da proximidade com teatros e bares onde tocavam. Na seqüência, vieram os produtores, interessados no farto talento que se exibia a céu aberto, no vaivém da rua. As editoras acompanharam - o número 19 abrigou a redação do extinto semanário musical Melody Maker, rival do ainda ativo New Musical Express (NME). Assim como lojas, cafés e mais bares. Mas é inevitável atestar que foi nos swinging sixties que a Denmark ganhou seu atual status de lenda. Boa parte disso se deve à chegada do Regent Sound Studio, que levou suas modernas parafernálias para o sobrado de número 4. Os Rolling Stones gravaram lá o seu primeiro álbum - e isso já seria suficiente para transformar não só a casa como toda a rua em solo sagrado. Mas o Regent tinha mais no currículo: Elton John, Eric Clapton e Steve Wonder, só para citar os mais conhecidos, passaram no estúdio para fazer LPs que logo na seqüência viraram sucessos inesquecíveis. Atualmente, você anda livremente na loja Regent Sounds, no mesmo número 4, e se surpreende com a quantidade de guitarras Fender, nas quais a casa é especializada. Em janeiro, época de liquidação em toda Londres, uma Stratosonic estava por 699 libras (R$ 2.322,35). OUTRAS ESTRELAS Outros estúdios da Denmark receberam Bob Dylan, Jimi Hendrix e The Small Faces. Os Sex Pistols não só gravaram músicas na rua como decidiram transformar a parte superior do sobrado de número 6 em sua casa, nos anos 1970. Foi ali que criaram Anarchy in the UK e God Save the Queen, verdadeiros hinos punk. Johnny Rotten e companhia tiveram na vizinhança David Bowie, que simplesmente estacionou seu trailer, sem mais cerimônias, bem na frente do café Giaconda, bastante freqüentado pelos músicos naquela época. Esse, infelizmente, você não verá mais: virou um restaurante indiano médio. Um substituto razoável é o 12 Bar Club (www.12barclub.com), com shows sete noites por semana. O estilo é eclético, do pop ao novo country. No bar, sanduíches de pão ciabatta - o de bacon com queijo brie e alface custa 3,30 libras (R$ 10,96) - e saladinhas, a partir de 3,15 libras (R$ 10,46). Voltando às compras, entre na Bass Cellar, se você for da turma dos baixistas. A loja tem muito de tudo, incluindo modelos vintage. A visita à Denmark, no entanto, não ficará completa sem uma conferida na Rhodes, com um belo estoque de guitarras Gibson. Os preços em libras não agradam, mas seria um lugar e tanto para adquirir a sua. Dizem que Pete Townsend, do The Who, comprou sua primeira guitarra lá. Isso nos idos de 1960.

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