Uma alameda margeada por construções baixas, de fachadas envidraçadas e tetos planos, une a estação central de trens de Dessau ao Bauhaus Building. Chegando por este caminho, o primeiro contato com o complexo símbolo da Bauhaus são as varandinhas da residência estudantil. Minúsculas, elas protagonizaram ao longo dos anos um bom número de fotos de grupos de jovens espremidos em menos de 2 metros quadrados. Era uma celebração da conquista de estar ali.
Com 28 estúdios individuais com cama, armário, prancheta de trabalho e lavatório – banheiros são compartilhados –, a residência estudantil recebia os melhores na época em que a Bauhaus se mudou para Dessau e tinha cerca de 200 alunos. Hoje, é possível pernoitar nestes quartos, por 40 a 65 euros por noite.
O Bauhaus Building foi projetado por Gropius seguindo uma estrutura modular não hierarquizada. Não dá para dizer qual é a frente do complexo. O bloco dos ateliês é o das janelas envidraçadas do chão ao teto, que permitem a entrada de luz natural. Uma ponte suspensa também envidraçada une esse bloco a outro, onde fica o escritório de Gropius, visitável. As costas do teatro têm paredes móveis que podem se abrir completamente para a cozinha, ampliando um espaço ou outro, segundo a necessidade.
A 10 minutos dali está o bosque onde foram construídas as residências dos professores da Bauhaus. Wassily Kandinski (1866-1944) e Paul Klee (1879-1940) ocuparam uma mesma casa, dividida em duas, e com plantas espelhadas. A de Kandinski tem pinturas internas em tons de branco, preto e prateado. Já Klee coloriu suas paredes com cores primárias. Em ambas, os quartos são pequenos e os estúdios de trabalho, enormes.
Gropius dirigiu a Bauhaus até 1928. Antes de deixar a escola, projetou o conjunto habitacional popular Törten Estate, que atualmente atrai a classe média. Uma casa de três quartos, com sala e cozinha integradas, custa de 60 mil a 80 mil euros (de R$ 250 mil a R$ 350 mil).
Vida na varanda
O arquiteto suíço Hannes Meyer (1889-1954) sucedeu Gropius na direção da Bauhaus, até 1930. Em Dessau, Meyer projetou as “casas com acesso pela varanda”, que levaram ao extremo a exigência de funcionalidade. Esses prédios de tijolinhos têm unidades individuais de 48 m²; tudo o que não fosse estritamente privado ficou fora dos apartamentos, como lavanderia, jardim, depósitos.
Depois de Meyer, e até seu fechamento, a Bauhaus teve como diretor Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), outro pioneiro da arquitetura moderna. O autor da famosa cadeira Barcelona, hoje um clássico das salas de espera, aprofundou o diálogo da Bauhaus com a indústria, enfatizando o papel da arquitetura de responder com rapidez e eficiência os desafios do morar na era industrial: era preciso construir rapidamente casas para a classe trabalhadora e mobiliá-las da forma mais funcional possível, em grande escala. Essa história será aprofundada em Dessau com a inauguração, em setembro, de mais um museu dedicado à Bauhaus.
Terminamos o dia com um jantar no espetacular restaurante Kornhaus. Espetacular não pela comida, apenas razoável, mas sim por causa da arquitetura, do professor da Bauhaus Carl Fieger (1893-1960). O salão principal é um módulo redondo todo rodeado por janelas de vidro que deixavam ver o Rio Elba iluminado pelo pôr do sol. Neste ponto, as margens do rio são cobertas por amplos gramados e quase nenhuma construção. O cenário é perfeito para fotos que, como as dos estudantes de antigamente, celebram a alegria de estar aqui.
O que mais ver em Dessau
Jardim do Reinado de Dessau-Wörlitz
A Unesco incluiu esse jardim real em sua lista de patrimônios no ano 2000. Com 145 km² (para se ter uma ideia, o Central Park de Nova York tem 3,5 km² e o paulistano Ibirapuera, 1,6 km²), inclui margens do Rio Elba, além de lagos, pontes e gramados. Cervejaria Brauhaus
Cerveja local, comida alemã e decoração de pub fazem deste um bom endereço para a happy hour ou o jantar em Dessau. Diariamente, há um tipo de cerveja em destaque, além de programação musical em datas selecionadas.