Dia 5: finalmente, a cidadela como recompensa

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Por Felipe Mortara
Atualização:

Do jeito que imaginei, não era. Ainda bem. Complexa e espalhada, Machu Picchu se revelou mais do que eu esperava. Quando imaginamos um lugar tão falado e fotografado quanto Machu Picchu, acabamos por não considerar como seriam as sensações ao pisar ali.

Machu Picchu, em toda a sua majestada Foto: Felipe Mortara/Estadão

Se nada houvesse no alto da icônica montanha, o cenário já seria suficientemente cativante, encravado a 2.400 metros de altitude num emaranhado de altos cumes delicadamente recortados e cobertos com uma vegetação densa, já tropical. Uma umidade que nos é familiar envolve as toneladas de pedras esculpidas e alinhadas para dar forma a um lugar que merece a fama que tem. Cada rocha comunica, compõe, tem um porquê. E os guias são essenciais para ajudar na interpretação, já que, de outra forma, se tratariam apenas de pedras e mais pedras empilhadas. No nosso caso, Guido Huaman Serrano não hesitava em comentar cada detalhe - e a companhia de alguém tão empolgado deu vida às ruínas. "Sou apaixonado por esse lugar. Cada vez que venho aqui parece ser a primeira", conta Guido, com sorriso nos olhos. A experiência, mesclada ao amor pela cidade inca, compõe a fórmula para aproveitar Machu Picchu ao máximo: estar entre os primeiros na fila e não seguir o fluxo. Após a verificação dos ingressos, enquanto a horda de turistas subir as escada à esquerda, desça à direita, na contramão das placas de saída. Eis o segredo. Eram 6 horas da manhã em ponto quando pisamos lá dentro. Atravessamos os terraços agrícolas e demos de cara com quatro lhamas que se aproximaram, dóceis, posando curiosas para fotos sem ninguém atrás (logo eu saberia o quão difícil é isso). Dobramos pelo Templo do Sol, com destaque para o altar e suas janelas, que podem ter sido utilizadas para fins astronômicos. Passamos pelos banhos cerimoniais e pela Casa do Alto Sacerdote. Olhei para o lado e lá estava ela: a Praça Central, que separava os lados sagrado e residencial da cidade, com seu imenso gramado naturalmente aparado pelas lhamas. Vazia. Completamente vazia. Mal passava das 6h10 e já havia clicado mais de 200 fotos. Extasiado, Guido nos conduziu até a Plaza Sagrada, apontando para os muros de pedras perfeitamente encaixadas. "Olhem isso, olhem bem para isso. Daqui a pouco, vocês não conseguirão fotografar o Templo das Três Janelas", advertiu, em relação ao tsunami de turistas que avançava em nossa direção. No ponto mais alto, que encabeça o setor sagrado de Machu Picchu, está Intihuatana - ou, na língua quíchua, "lugar onde se amarra o sol". Trata-se de uma pedra perfeitamente esculpida e alinhada com os solstícios de inverno e de verão, utilizada para registrar a passagem do tempo e ajudar na medição dos ciclos de agricultura. Não se espante ao ver turistas com as mãos por cima do monólito (que não pode ser tocado) para captar a suposta energia que dele emana. Segundo o guia Guido, a pedra teria sido recoberta por ouro e prata. Pode até ser. Instrumento de uso prático e ritualístico, a Intihuatana aparece em outras llactas (cidades) incaicas, mas nunca foi comprovada sua associação aos nobres metais, exceto em datas comemorativas na presença do imperador inca. Outro ângulo. Antes das 7 horas, já estávamos na fila para subir Huayna Picchu, a "montanha jovem". Para desfrutar da melhor vista de Machu Picchu - a "montanha velha" -, é preciso suar por cerca de uma hora em uma subida íngreme. E a volta não se mostrou menos exigente, embora seja morro abaixo. A panorâmica, contudo, é exclusiva de quem reserva a subida na compra do ingresso. Paga-se um adicional de 23 novos soles (R$ 20) ao preço da entrada no parque (126 novos soles ou R$ 110 no site machupicchu.gob.pe). Há um limite de 400 aventureiros por dia em Huayna Picchu, em dois grupos de 200 (um entre 7h e 8h; outro das 10h às 11h), o que exige algum planejamento extra. Cada passo até alcançar os 2.700 metros do íngreme cume que lembra o Pão de Açúcar é recompensado com o visual. Quem estiver cansado pode parar nos primeiros terraços, descansar ou até mesmo descer dali mesmo. Até o cume são mais 10 minutos e, apesar de a vista ser bem parecida, a sensação de conquista e de estar no topo de toda uma civilização é única.

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