Dois em um

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Por Camila Hessel e Fribourg
Atualização:

Francês. Alemão. Inglês. Às vezes, até português (carregado de um sotaque bem lusitano). Em Fribourg, nunca se sabe que idioma um novo interlocutor irá escolher para falar com o recém-chegado. A cidade de 38 mil habitantes, fundada em 1157, é considerada a fronteira entre as chamadas "Suíça alemã" e "Suíça francesa". Sua universidade é a única do país em que o currículo é 100% bilíngue. E suas ruas, as únicas a exibir placas com os nomes em francês e em alemão.A fronteira propriamente dita é mesmo o Rio Sarine, que corta Fribourg ao meio, e sobre o qual foram construídas as belas pontes, ora de pedra, ora de madeira, que unem sua parte moderna, de ruas asfaltadas e edifícios, à Cidade Velha (chamada pelos locais de cidade baixa), onde as ladeiras de paralelepípedos são pontuadas por igrejas, conventos e outras construções medievais. Longe da rota das cidades suíças mais procuradas por turistas, Fribourg e seu entorno são uma bela síntese deste país dividido por culturas e línguas tão distintas, orgulhosamente unido pela neutralidade. Embora oficialmente mude-se de lado a cada vez que se cruza uma ponte, em Fribourg é difícil dizer em que Suíça você está. Sem qualquer razão aparente para a escolha, a garçonete de um café na cidade baixa alternava "guten morgens" e "bonjours". Questionada sobre que idioma preferia falar ou sobre como decidia a quem se dirigir em cada língua, disse: "Sou neutra, vou alternando e espanto o tédio". Vá a pé. A Avenue de la Gare (ou Hauptbanhofstrasse, se você preferir) é o umbigo da cidade. É nela que fica a estação de trem. Dela partem os ônibus e os bondes para toda a parte. E é ali, à sua esquerda, que começam os bulevares exclusivos para pedestres que, em dias de tempo bom, fazem dos seus pés o melhor meio de transporte. Pequenina e cercada de montanhas de um verde profundo, Fribourg foi feita para se percorrer com calma. A Cidade Velha reúne mais de 200 fachadas góticas, erguidas no século 15. É um prazer descobrir os detalhes de cada uma e, à medida que se avança, identificar os padrões que se repetem em várias delas. A partir da estação, a melhor rota para chegar ao marco zero da cidade - a Catedral de São Nicolau - é a Rue de Romont. Pontuada por lojas e cafés, ela abriga uma curiosidade: a estátua que chora. Dali, pode-se optar por um caminho mais direto, tomando a Rue de Lausanne, ou serpentear pelas ruazinhas e vielas, sem medo de se perder. Outra rota interessante é a das 12 fontes históricas. Instaladas em pátios, rotatórias e diante de prédios públicos, as fontes são decoradas com motivos bíblicos e fornecem água potável para os peregrinos do Caminho de Santiago, que passa por ali.Prepare-se para muito sobe e desce, e para algumas das fotografias mais bonitas que você vai tirar. E encerre o passeio na torre da catedral. Aberta ao público entre o domingo de Páscoa e o dia 31 de outubro, recebe visitas das 10 às 17 horas. Para chegar ao topo de seus 74 metros, é necessário pagar 3,50 francos suíços (R$ 8) e encarar 368 degraus. Mas a vista da cidade - e da paisagem pré-alpina que a circunda - banhada pelo sol compensa. E ainda ajuda a abrir o apetite para as delícias locais, à base do especialíssimo creme de leite.

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