... E um delicado dia de paz

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Por Texto: Bruna Toni e Fotos: Daniel Teixeira
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MY THO - Um homem de meia idade segurava uma vara no canteiro central da avenida que atravessa os distritos 7 e 8, protegido do sol sob o nón lá, tradicional chapéu cônico. Junto dele, outros moradores que, aos domingos, sentam-se à beira do canal para pescar ou saem em busca de vegetais marinhos. Mais a frente, dezenas de flores de lótus boiam sobre a água escura. No Vietnã, são muito usadas como alimento e na decoração.

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Assim é a paisagem por quase todo o trajeto até My Tho, capital da província Tien Giant, na região do delta do Rio Mekong, a uma hora do centro de Ho Chi Minh. A área vem crescendo nos últimos anos. “É uma nova área residencial, mais barata que os distritos 1 e 2, mas também valorizada”, explica a guia Lam.

Até a estrada, motos e bicicletas ocupam mais espaço que os carros. O tráfego funciona bem porque os motoristas não têm o hábito de correr, nem mesmo nas rodovias, bem conservadas e com pedágios que cobram por quilômetro rodado, num sistema semelhante ao do Japão. Pela janela do carro, a vista é de plantações de arroz, cereal do qual o Vietnã é um dos oito maiores produtores do mundo, e de túmulos distribuídos em grandes campos abertos. Lam explica que, antigamente, os vietnamitas podiam enterrar seus entes queridos onde desejassem, inclusive perto de casa. 

Um caminho de terra anuncia a chegada a My Tho. Pouco a pouco, o comércio popular e a confusão de pessoas vão se intensificando. Vende-se de tudo; há casas de cimento e palafitas, onde homens e mulheres desempenham seus afazeres ajoelhados, com as plantas dos pés inteiras no chão por horas. 

De barco. O pequeno agito provinciano, incomparável ao do centro de Ho Chi Minh, fica para trás assim que deixamos a plataforma de onde partem, diariamente, vários barcos pelo extenso Rio Mekong, o 13º maior rio do mundo. Antigos, mas bem conservados e muito confortáveis, eles nos levam até a aldeia do outro lado da província. Há de todos os tamanhos e os maiores conseguem transportar grupos de até 40 pessoas. Oito empresas oferecem o serviço no local e cobram desde R$ 129 por pessoa. É possível comprar o passeio em agências. 

O caminho pelas águas barrentas e limpas do rio é silencioso. Sentados em uma cadeira de plástico presa ao chão de madeira do barco, só escutamos som de vento e de motor. Este trecho do Mekong, que nasce no Tibete, passa por China, Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã, reserva graciosidade graças ao colorido dos barcos e das palafitas. Quatro ilhas têm nomes simbólicos que dizem muito sobre a cultura do país: à esquerda fica a do Dragão (poder), a menor; à direita, a maior, do Unicórnio (inteligência); à frente está a da Tartaruga (vida longa); e, em direção ao nordeste, a da Fênix (felicidade). 

Na província de Ben Tre, onde desembarcamos, o cotidiano ao redor do Mekong é simples e é da natureza que sai o sustento das famílias, a começar pela produção de alimentos derivados do coco. Os vietnamitas produzem e exportam leite, óleo, doce, vinho e sabão, tudo de coco. Interessante é ver, na entrada da aldeia, como é feita a produção. 

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Melhor ainda é experimentar um docinho cuja embalagem é feita de papel de arroz, também comestível. O pacote com 20 unidades sai por R$ 4,30. Procure ainda pelo doce de banana, ou pelo exótico licor feito de cobra e escorpião embebidos no álcool, que funciona, segundo a lenda, como Viagra natural. 

Seguir em frente significa percorrer trilhas onde a flora é demasiadamente curiosa e rica. Um bom observador achará pés da chamada milk apple (maçã branca) e da dragon fruit, a pitaia vermelha, ambas muito comuns na mesa vietnamita. Em uma fazenda com restaurantes, frutas como manga e banana fazem parte da refeição, ao lado de chás e bebidas alcoólicas feitas a partir de arroz, coco e mel quente, muitas com função medicinal. Chegar até ali, num trajeto feito de charrete em terra batida, é uma das vantagens de fechar pacote com agências de Ho Chi Minh. A recepção inclui mesa reservada e os pratos prontos para serem servidos. 

O começo do retorno a My Tho é atração à parte. Do último restaurante, o Tam Phu, barquinhos menores remados por mulheres levam e trazem turistas num ritmo tão intenso que chegam a congestionar o canal. 

No templo. Também na região do delta do Mekong, o templo budista Vinh Trang, construído em meados do século 19, é especial na arquitetura, que preservou elementos franceses do período de dominação.

No grande jardim, duas estátuas gigantescas chamam a atenção, principalmente do Bo Dai, uma simpática figura gorda e risonha que é tida como a representação do futuro Buda. Preste atenção ao estranho tamanho dos bonsais, no mínimo dez vezes maiores do que os japoneses.

Por volta das 10 horas foi possível acompanhar uma das duas cerimônias diárias que ocorrem na pagoda. Para entrar, fique descalço e caminhe lentamente entre as várias imagens de Budas em altares com oferendas. A luz escura, o vento fresco, o cheiro de incenso e a música de fundo inspiram paz. 

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