Ele não vai à praia de terno

Como se sabe, tecidos de boa qualidade encolhem na água, e mr. Miles não quer cometer este impropério

PUBLICIDADE

Por Mr. Miles e o homem mais viajado do mundo
Atualização:

miles@estado.com.br Sorrateiramente, mr. Miles escafedeu-se mais uma vez. Em sua correspondência desta semana, o célebre viajante inglês informa que adquiriu um bronzeado invejável ("para ingleses, of course") durante sua estada em nossas terras, reviu amigos, comprou o pio que faltava em suas incursões de birdwatching, adquiriu paçocas para uma dileta e gulosa amiga londrina, mandou despachar algumas garrafas de cachaça para o seu pub predileto e, ao ver Ronaldo Fenômeno de volta aos treinos, pensou em convencer seu "good fellow" Jackie Stewart a sentar-se de novo no cockpit de um Fórmula 1. Em suma, considerou a viagem ao Brasil "delightful" e prometeu retornar em breve. Aproveitando a relativa proximidade, mr. Miles partiu em direção ao Chile, para encompridar a jornada sulamericana na imensa propriedade de Don Jaime Ibañez Acuña Borquez del Trauco junto ao Oceano Pacífico. Don Jaime, que já foi mencionado nessa coluna outras vezes, construiu seu império transandino com a máxima "hacemos qualquer neguecio", frase em deplorável portunhol que, no entanto, mudou sua vida. Conta mr. Miles que "com esse espírito, em 30 anos Don Trauco abandonou a modesta carreira de cáften em Assunção, no Paraguai, para tornar-se a wealthy citizen of the world, sem perder a modéstia jamais". Prova disso é que, até hoje, ele só bebe e oferece aos amigos cabernet sauvignon em caixas de leite longa vida. Sobre a coluna da semana passada, que mencionava a crise do Oriente Médio, nosso correspondente recebeu dezenas de e-mails belicosos de defensores de ambos os lados da contenda. Era o que temia. Agradece, contudo, aos leitores Sonia Abdalla Weinberg e Carlos Alberto de Sá Britto, que não só concordam com a posição do articulista como pretendem participar do grande baile da reconciliação sob as estrelas do Mediterrâneo. A pergunta da semana: "Mr. Miles: quando vai à praia, o senhor continua usando esse terno antiquado? Rafael Salmatti, por e-mail "Well, my friend: digamos que há divergências quanto à antiguidade do meu terno. Nem todas as mulheres que encontro simpatizam imediatamente com ele; apenas a maior parte. Quanto à sua provocação, a resposta é não, I'm afraid. Tecidos de boa qualidade encolhem em contato com água e não vou sacrificar o corte apurado de Clifford Jameson III - meu alfaiate há décadas - em um banho de mar. Como qualquer ser humano comum, prefiro um par de shorts. Que seja suficientemente amplo para que o que está dentro dele não fique atafulhado. Do you know what I mean? E com esse traje não me importo sequer de enfrentar águas de baixas temperaturas, como as da Cornualha, as dos fiordes noruegueses ou as do mar da Tasmânia, na Nova Zelândia. Recordo-me que, anos atrás, participei de uma expedição de mergulhadores que acompanhavam o trajeto das belugas na Hudson Bay, no Canadá. Ofereceram-me aquelas awful vestimentas de neoprene que tolhem os movimentos. Optei pelos meus shorts e, of course, quase fui acometido de hipotermia. A recompensa veio logo em seguida: uma garrafa de single malt para aquecer-me por dentro. Minha cadela Trashie e eu adoramos a experiência." *Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Ele já esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.