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Em busca dos turistas perdidos

Depois de problemas de grande repercussão, cidades têm como desafio recuperar a imagem - e os dividendos

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Por Adriana Moreira
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Novembro foi um mês difícil para o turismo. No Brasil, o maior incêndio da Chapada Diamantina devastou 50% da área do Parque Nacional e as enchentes em Santa Catarina destruíram o acesso a municípios conhecidos dos turistas, como Blumenau. Na esfera internacional, problemas como atentados na Índia, paralisação no aeroporto tailandês e a maior enchente de Veneza nos últimos 22 anos transformaram, de um dia para o outro, destinos de sonho em lugares indesejados. Recuperar a imagem de um destino afetado por desastres naturais ou problemas políticos pode não ser tão rápido. "Tudo depende de quanto o governo investir em campanhas e iniciativas para trazer de volta os turistas", explica Paulo Roberto Moraes, professor do departamento de Ciências do Ambiente da PUC-SP. "Depois do tsunami, governos de países atingidos que dependiam do turismo se apressaram em fazer campanhas para mostrar que os visitantes podiam voltar." No caso de Santa Catarina, Moraes afirma que a imagem deve ser recuperada com mais rapidez, especialmente porque lugares de intensa atividade turística, como Florianópolis, não foram afetados. "Em um primeiro momento, as pessoas não sabem direito onde tudo ocorreu e acaba comprometendo a imagem do Estado como um todo." Santa Catarina já sente os efeitos de tal fenômeno. A soma de prejuízos no setor deve chegar a R$ 120 milhões, segundo a Santur, órgão responsável pela promoção do turismo no Estado. De acordo com a Associação Brasileira de Hotéis em Santa Catarina (ABIH-SC), cerca de 30% dos pacotes para o Estado foram cancelados. "É assim que funciona esse tipo de notícia", diz o presidente da Santur, Valdir Walendowsky. "Mas depois passa. Ninguém queria ir para Nova York na época do 11 de Setembro. E hoje as coisas estão de volta à normalidade." Ciente disso, o Estado luta para atrair turistas às áreas que não foram afetadas pelas chuvas, como o litoral. Walendowsky acredita que o turismo - que corresponde a 10% da economia do Estado - será importante para contrapor as perdas de outras atividades. Na semana passada, foram predefinidas ações de divulgação do turismo no Estado. As chuvas que castigaram Santa Catarina foram uma bênção para a Chapada Diamantina: eliminaram os focos de incêndio que há semanas queimavam a região. Mas o prejuízo para o meio ambiente é incalculável. "O turista leigo, que vier daqui a dois ou três meses, vai achar a paisagem linda, porque vai estar tudo verdinho, brotando", explica o analista ambiental do Parque Nacional César Gonçalves. "O problema é que áreas imensas de floresta foram queimadas. Tudo vai levar anos para se recuperar." PELO MUNDO No caso de problemas políticos, como o da Índia, o comprometimento da imagem é ainda maior. "As pessoas ficam com mais medo", diz o professor da PUC-SP. Ainda assim, ele acredita que o grande impacto é mesmo nas primeiras semanas depois do acontecimento. "Se a situação não se repetir continuamente, é esquecida", afirma. Além disso, diz ele, quem sonha em conhecer determinado destino não deixa de ir. Lucila Nedelciu, diretora da operadora Raidho, especializada em destinos exóticos, afirma que não houve desistências para a Índia. "Estamos em contato com o Ministério do Turismo indiano", diz. "Trata-se de um problema político focado, uma ação isolada." Segundo ela, o único cancelamento foi de um casal que iria à Tailândia em janeiro. Na semana passada, os oposicionistas ao primeiro-ministro tailandês, Somchai Wongsawat, deixaram os aeroporto ocupados como forma de protesto, depois de sua cassação. De todos os infortúnios, a inundação de Veneza pode ser considerada a menos surpreendente. Novembro é o mês que mais chove na cidade. Mas, desta vez, a maré subiu rápido. Há anos especialistas alertam para o risco de a cidade desaparecer sob as águas. O governo local tem projetos de construir uma barragem de contenção. VOLTA POR CIMA Países Asiáticos O que houve: no fim de 2004, um tsunami devastou o litoral de países como Bangladesh, Índia, Indonésia, Maldivas, Mianmar, Sri Lanka, Tanzânia e Tailândia Situação atual: embora os países tenham um longo caminho pela frente, a infra-estrutura turística funciona normalmente. O setor, aliás, é um dos grandes aliados para a reconstrução New Orleans O que houve: em 2005, o furacão Katrina deixou um prejuízo de US$ 81 bilhões Situação atual: muito já foi reconstruído e os turistas começam a voltar gradativamente. Antes do Katrina, em 2004, 10 milhões de pessoas visitaram a cidade. Em 2006, foram apenas 3,1 milhões, mas em 2007 esse número passou dos 7 milhões CANCÚN O que houve: em 2005, o Furacão Wilma devastou a orla do balneário mexicano. Prédios e hotéis foram destruídos e a faixa de areia, engolida Situação atual: foram investidos US$ 30 milhões para recompor a faixa de areia e erguer barreiras de contenção. A maioria dos hotéis funciona normalmente e metade dos turistas que a cidade recebia antes do Wilma já voltou - no ano passado, 3 milhões de pessoas visitaram Cancún

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