Empresa de cruzeiros exige que passageiros estejam vacinados contra a covid

Saga Cruises, do Reino Unido, especializada em roteiros para pessoas acima dos 50 anos, anunciou a medida; por ora, outras empresas não sabem se farão o mesmo

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Por Hannah Sampson
Atualização:

Doug Brode é um inveterado fã de cruzeiros, com cerca de 50 deles no currículo e à espera de uma viagem por um rio europeu no futuro. Mas o morador de Ontário, de 76 anos, nem pensa em embarcar novamente antes de ser imunizado com uma vacina contra o novo coronavírus - e ele espera que as empresas de cruzeiro estejam pensando da mesma forma.

"Acho que as empresas de cruzeiros deveriam tornar isso um requisito e ter provas", disse Brode, redator técnico aposentado. Amantes de cruzeiros como Brode estão observando para ver o que o setor fará agora que as vacinas estão sendo distribuídas para algumas populações - embora mais lentamente do que o esperado - e alguns países estão permitindo que os viajantes pulem a quarentena se forem vacinados. Embora grande parte da indústria de cruzeiros ainda não esteja navegando com passageiros, algumas empresas começaram a fazer cruzeiros limitados fora dos Estados Unidos.

Navio da Saga Cruises: empresa britânica só vai aceitar passageiros vacinados contra a covid-19 Foto: Saga Cruises

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Uma pequena empresa de cruzeiros no Reino Unido anunciou que navegará apenas com passageiros vacinados. A Saga Cruises, uma operadora de dois navios para passageiros com 50 anos ou mais, disse na semana passada que estava atrasando o reinício das atividades para dar tempo aos passageiros de se vacinarem totalmente. Isso significa que eles teriam que receber as duas doses e esperar pelo menos 14 dias antes de viajar.

"Decidimos não permitir que uma pessoa viaje conosco se optar por não receber a vacina", disse a empresa em uma seção de perguntas e respostas de seu site. "A maioria dos nossos passageiros se enquadra na faixa etária de risco e nossa prioridade é a segurança e bem-estar deles."

Até agora, a Saga parece estar sozinha entre as empresas de cruzeiros em sua exigência.

O que dizem outras empresas de cruzeiros

O CEO de outra empresa de cruzeiros, a Norwegian Cruise Line Holdings, disse no mês passado durante um bate-papo por Zoom que os advogados da empresa estavam examinando se os passageiros poderiam ser obrigados a tomar a vacina. Ele disse que a tripulação teria que ser vacinada.

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"É muito cedo para dizer se temos poder legal para exigir que você tome uma vacina ou então você não pode estar a bordo", disse o CEO norueguês Frank Del Rio durante a conversa com John Lovell, presidente do Travel Leaders Group. Ele afirmou que precisaria equilibrar a assessoria jurídica que recebe com qualquer demanda de vacinação dos locais de destino.

"Então, se os advogados me disserem: 'Você não pode fazer isso, Frank', e o porto de XYZ disser 'Você não pode vir', bem, acho que não vamos para esse porto", afirmou.

Em um comunicado, a empresa disse na semana passada que estava monitorando de perto o desenvolvimento de vacinas. “Estamos explorando todas as opções em relação à vacinação para passageiros e tripulantes e é nossa intenção que todos os tripulantes sejam vacinados antes de embarcarem em nossos navios para iniciar suas atribuições, de acordo com a disponibilidade da vacina”, disse o comunicado. "Continuaremos a fazer parceria com as autoridades nacionais e globais e com o Healthy Sail Panel, nossa principal equipe de consultores especialistas, para explorar todas as opções necessárias para proteger os hóspedes, a tripulação e as comunidades visitadas."

As duas maiores operadoras do mundo, Carnival e Royal Caribbean Group, adotaram uma abordagem de esperar para ver enquanto trabalham com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) sobre os requisitos para começar a navegar novamente a partir dos EUA.

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"Ainda estamos no processo de finalizar os detalhes para nosso retorno ao serviço e assim que tivermos mais informações a respeito de nossos requisitos, avisaremos nossos passageiros", disse o Royal Caribbean Group em um comunicado.

Durante a divulgação de resultados no início de janeiro, o CEO da Carnival, Arnold Donald, apontou que a distribuição da vacina ainda é um problema: "Vamos deixar que evolua com o tempo e tomaremos a decisão mais prudente quando chegar a hora", disse ele. O porta-voz da Carnival, Roger Frizzell, chamou as vacinas de um "avanço importante" para o setor.

Cenário de incertezas

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"Estamos avaliando várias vacinas, mas não tomamos nenhuma decisão sobre os próximos passos neste momento", disse ele. A associação comercial do setor, Cruise Lines International Association, disse que as vacinas são "verdadeiramente revolucionárias", mas não a única forma de responder à pandemia.

"É importante observar que a administração de vacinas em todo o mundo levará um tempo considerável e muitas incertezas permanecem", disse a porta-voz Bari Golin-Blaugrund por e-mail. "Após conversar com os principais especialistas em saúde e ciência por muitos meses para identificar e implementar medidas eficazes para mitigar os riscos em um ambiente de cruzeiro, o setor reconhece que nenhuma medida isolada é eficaz por si só e que uma abordagem em várias frentes é a certa."

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Uma porta-voz do CDC disse que as vacinas podem ser usadas para reduzir o risco de transmissão do vírus em viagens, embora também tenha apontado que não deve ser tratada como uma solução isolada.

"A vacinação, juntamente com outras medidas preventivas, incluindo testes antes e depois da viagem, uso de máscara, distanciamento social, lavagem frequente das mãos e limpeza e desinfecção de superfícies tocadas com frequência, será outra estratégia eficaz disponível para reduzir a transmissão de covid-19 associada a viagens, incluindo cruzeiros ", disse a porta-voz Caitlin Shockey por e-mail.

A Organização Mundial da Saúde tem pedido cautela quanto a exigência da vacina para viagens, citando a disponibilidade limitada e questões que ainda permanecem sobre sua eficácia na redução da transmissão. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo alertou que os requisitos de vacinas equivalem à discriminação.

Embora alguns frequentadores de cruzeiros tenham jurado não colocar os pés em um navio se isso significar que teriam que ser vacinados, muitos parecem abertos à ideia.

O site de notícias e resenhas de cruzeiros Cruise Critic fez uma pesquisa com seus leitores recentemente perguntando se eles ainda viajariam se fossem obrigados a tomar a vacina. Dos quase 2.800 que responderam, 81% disseram que participariam de um cruzeiro se as vacinas fossem obrigatórias; 5% disseram que não, e 14% disseram que não tinham certeza.

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"Nossos leitores são fãs de cruzeiros e essa é a escolha preferida deles para passar as férias", disse Colleen McDaniel, editora-chefe da Cruise Critic. "Eles estão dispostos a fazer o que for preciso para voltar a estar a bordo dos navios de cruzeiro."

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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