Entenda o que é o 'flight shaming', vergonha de voar por questões ambientais

Pesquisa feita nos EUA e na Europa mostrou que 1 em cada 5 indivíduos deixou de voar pelo menos uma vez em 2018 por causa de preocupações com o clima

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Por Elena Berton
Atualização:
Voos comerciais respondem por 2% das emissões globais de carbono e 12% das emissões em toda área de transporte Foto: Hannah Mckay/Reuters

LONDRES - De acordo com pesquisa feita com 6 mil indivíduos, um em cada cinco disse estar viajando menos de avião, à medida que o movimento chamado “flight shaming” tem incentivado as pessoas a evitarem viagens aéreas para o bem do planeta.

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A pesquisa previu que preocupações ambientais continuariam a afetar o tráfego aéreo, com ativistas como a adolescente sueca Greta Thunberg encabeçando o movimento para afastar as pessoas dos aviões.

Emma Kemp, 25 anos, ativista e gerente de arrecadação de fundos na instituição beneficente britânica 10:10, envolvida com os problemas da mudança climática, disse ter evitado usar o avião nas suas últimas férias para a Itália e Croácia, e optou pelo trem e o ferry-boat.

“Senti que estava de fato viajando”, disse ela à Thomson Reuters Foundation. “Eu me senti em paz comigo mesma ao fazer alguma coisa pelo planeta”

Novos hábitos

Se a tendência persistir, o crescimento esperado no número de passageiros de avião deverá cair à metade, segundo estudo do banco suíço UBS publicado esta semana.

A pesquisa que ouviu mais de 6 mil pessoas foi feita em julho e agosto e mostrou que, em média, um a cada cinco indivíduos habituados a viajar de avião, nos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Alemanha, deixou de voar pelo menos uma vez no passado por causa de preocupações com o clima.

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Os voos comerciais respondem por 2% das emissões globais de carbono e 12% das emissões em toda área de transporte, segundo o Air Transport Action Group, que representa o setor de aviação.

Ainda de acordo com a pesquisa, a porcentagem de pessoas que pretendem reduzir suas viagens de avião aumentou de 20% para 27% em comparação com um levantamento anterior feito em maio de 2019.

“Com o avanço do debate sobre a mudança climática, achamos que essas tendências devem continuar nos mercados desenvolvidos”, disse a analista do banco UBS Celine Fornaro.

De acordo com o UBS, a expectativa é de que o número de voos na União Europeia aumente apenas 1,5% por ano, o que é a metade do porcentual previsto pela empresa aeronáutica Airbus. Qualquer redução das viagens aéreas afetará duramente as fabricantes de aviões, colocando em risco novas encomendas de aparelhos, caso as pessoas passem a utilizar cada vez mais trens e navios para viajarem com a consciência mais limpa.

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A viagem de Greta

Em agosto a adolescente sueca Greta Thunberg, 16 anos, ícone dos protestos de jovens em favor do meio ambiente, cruzou o Atlântico num iate sem chuveiro ou toalete para se unir aos movimentos de protesto nos Estados Unidos e participar da assembleia geral das Nações Unidas.

Greta disse que a viagem de navio reduziu seu rastro de carbono e “envia um sinal para as pessoas em torno no sentido de que a crise do clima é algo real”, disse ela. Seu país natal, a Suécia, tem liderado um movimento batendo na tecla de que que viajar nos jatos que tragam litros e litros de querosene é vergonhoso. A Suécia também foi criadora do termo flygskam,  exportado com o nome flight shaming em inglês e avihonte para a mídia social francesa.

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A empresa aérea escandinava SAS AB observou uma redução no tráfego de passageiros de 2% este ano, ao passo que a operadora de aeroportos da Suécia informou ter registrado uma queda de 9% no número de passageiros em voos domésticos este ano em comparação com 2018. Ambas as empresas responsabilizaram o movimento pela queda. 

Companhias como o Klarna Bank AB, estão reduzindo as viagens de avião a negócios. O banco sueco proibiu todos os funcionários de viajarem de avião dentro da Europa e tem desencorajado os voos de longa distância.

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O movimento contra viagens aéreas, que surgiu em 2017 depois de o cantor Staffan Lindberg prometer não mais usar esse meio de transporte, agora se propagou para bem além da Suécia. A Alemanha anunciou planos de reduzir as taxas no caso das viagens de trem e aumentou os impostos para os aviões. Quando os líderes mundiais se reuniram em Nova York no mês passado, os delegados foram rápidos em perguntar um ao outro como chegaram a Nova York. O movimento flight-shaming despertou a máxima atenção.

“Se há um elefante sala... naturalmente é a aviação”, afirmou o ministro do Clima e Meio Ambiente sueco Olá Elvestuen durante o evento.

Tradução de Terezinha Martino

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