Entre casas de enxaimel e cachoeiras, o Vale Europeu

Pomerode e outras pequenas cidades da região exibem tradições alemãs e italianas e a paz da natureza preservada

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Por Lavínia Kaucz
Atualização:

Conhecido por ser comparável a um “pedacinho da Europa” no Brasil, o Vale Europeu oferece muito mais do que o contato com as tradições alemãs e italianas, preservadas pelos descendentes dos imigrantes da região. Nos 12 municípios de Santa Catarina que compõem o circuito turístico, é possível viver dias de tranquilidade em um reduto de Mata Atlântica e aproveitar as rotas de cicloturismo ou caminhadas para uma experiência ainda mais conectada à natureza.

Tombada pelo Iphan, a Rota do Enxaimel reúne cerca de 50 casas no estilo alemão, ao longo de 16 km em Pomerode Foto: Daniel Zimmermann

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A criação da rota turística, há 16 anos, impulsionou a melhora da infraestrutura. No circuito, o viajante encontra lugares com selos que indicam atrativos da região, como arquitetura, gastronomia, cervejarias e museus.

Mas não se engane: percorrer o circuito do Vale Europeu de bicicleta ou a pé não é para todo mundo. A região é montanhosa e tem elevações intensas (que chegam a quase 1.000 metros acima do nível do mar). Por isso, é necessário ter condições físicas para atravessar os caminhos do circuito, que são, em sua maioria, estradas de terra em áreas rurais.

Contudo, aos menos preparados, há a opção de realizar as mesmas rotas de carro em estradas (quase todas) asfaltadas. O percurso completo tem cerca de 300 quilômetros. A mesma característica geológica que dificulta os passeios de bicicleta também proporciona as melhores paisagens, mirantes e quedas d’água. A região tem inúmeras cachoeiras, algumas delas com mais de 70 metros de altura.

Um dos cartões-postais da cidade de Benedito Novo, o Salto do Zinco tem 76 metros e é ideal para a prática de rapel Foto: Harley Steuck Byline

As festas típicas são outra marca da região. A mais conhecida é a Oktoberfest, em Blumenau, mas várias cidades da região realizam suas próprias festas no período de setembro a outubro. Algumas para conhecer são a Festa do Imigrante (Timbó), Fenarreco (Brusque) e Festa Trentina (Rio dos Cedros). Também há celebrações em outras épocas do ano, como a Festa Pomerana, realizada em janeiro, e a Osterfest, em abril (ambas em Pomerode).

Para conhecer a região, há a opção de seguir as rotas prontas do Circuito do Vale Europeu ou criar os próprios itinerários. A seguir, confira uma seleção de quatro destinos essenciais para conhecer a região e saiba o que os torna especiais.

Pomerode

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A cidade de 34,5 mil habitantes foi eleita a “mais alemã do Brasil” devido à preservação da cultura europeia, principalmente na gastronomia e na arquitetura. A Rota do Enxaimel em Pomerode é uma das mais procuradas por turistas que querem conhecer as casas erguidas por imigrantes alemães. Nessa técnica, as estruturas de madeira são construídas com encaixes, sem pregos ou parafusos. Tombada como patrimônio paisagístico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a rota concentra cerca de 50 casas ao longo de 16 quilômetros.

A Casa Siewert, construída em 1913, é a única que recebe visitantes (R$ 15 por pessoa, com direito à degustação de produtos coloniais). Foi construída pelo bisavô do atual morador, Rogério Siewert. É ele quem realiza um tour guiado pela propriedade, que mantém características originais, ao mesmo tempo em que compartilha com o turista histórias da imigração.

Construída em 1913, a Casa Siewert é a única que recebe visitantes na Rota do Enxaimel de Pomerode Foto: Daniel Zimmermann

Também é possível fazer um passeio guiado pela rota – basta agendar com um dos condutores que realizam o serviço. O ponto alto (literalmente) é o Morro do Schmidt. A 931 metros acima do nível do mar, ele proporciona uma visão em 360 graus de todo o Vale Europeu. O topo é acessível apenas por carros 4x4, a pé ou de bicicleta. A infraestrutura não é das melhores para receber turistas, mas a Secretaria de Turismo e Cultura da cidade informou ao Estadão que pretende melhorá-la (embora não haja previsão para isso). De todo modo, vale a vista.

Pomerode também é considerada polo gastronômico. O restaurante Wunderwald serve uma “porta de entrada” para quem não conhece a cozinha germânica: um prato típico que reúne marreco, joelho de porco a pururuca, lombo suíno defumado, aipim frito, mostarda e raiz forte (R$ 242 para duas pessoas).

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Apreciadores de cerveja encontram no Schornstein Kneipe o local ideal para conhecer novos sabores. O bar fica em um charmoso prédio histórico e o cardápio tem diversas cervejas artesanais harmonizadas com pratos típicos – destaque para a inusitada Bock com nibs de cacau e pimenta habanero (R$ 20). Também é possível agendar um tour pela fábrica, localizada ao lado.

O Torten Paradies é uma ótima parada para experimentar o tradicional “café da tarde” da região. O buffet (R$ 75,90 por quilo) conta com pratos típicos, doces, pães, cucas, tortas e sorvetes. Não vá embora sem experimentar o Apfelstrudel (o clássico folhado de maçã). É quase impossível não repetir o prato.

Benedito Novo

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Com menos de 12 mil habitantes, é um município predominantemente rural. As hospedagens e os restaurantes são simples, mas acolhedores. Um dos cartões-postais da cidade é o Salto do Zinco. A queda de 76 metros é ideal para a prática de rapel, que pode ser feita com a empresa Ativa Aventuras, a R$ 200 por pessoa. A trilha guiada que leva à base da cachoeira, de aproximadamente dois quilômetros no total, custa R$ 40. A trilha deve ser agendada com o condutor pelo número (47) 99170-8727.

Os menos aventureiros podem observar a queda d’água de longe (o que também vale muito a pena). Para agendar uma visita ao mirante, é preciso entrar em contato pelo WhatsApp (47) 99275-0825 e pagar uma taxa de R$ 20. A cachoeira está localizada dentro da Fazenda Campo do Zinco, que também oferece hospedagem pela metade do preço a mochileiros e ciclistas que percorrem o circuito do Vale Europeu. A meia diária por pessoa é R$ 269 (inclui jantar e café da manhã).

Outro destaque de Benedito Novo é o Recanto Grünenberg, espaço rústico com hospedagem, café colonial, comidas típicas e trilhas para cachoeiras. A Cabana Bamberg é a opção mais completa de hospedagem. A diária para casal custa R$ 900 de sexta a domingo, e R$ 450 durante a semana. O local tem cozinha equipada, mas há a opção de incluir um café da manhã por R$ 160.

A Cabana Bamberg fica no Recanto Gruunenberg, em Benedito Novo; rústica, ela tem cozinha completa Foto: Janet Health

Benedito Novo também é o ponto final da maior tirolesa da América Latina, a K2Mil, cujo início é em uma fazenda na cidade vizinha, Rodeio. São dois quilômetros de descida e a travessia (que chega a 800 metros do chão nos trechos mais altos) garante 2 minutos de frio na barriga e pura adrenalina.

O ponto de partida, em um ponto alto e de difícil acesso (a última parte do trajeto é feita com um trator, incluído no valor da travessia), permite uma visão privilegiada do Vale Europeu. O lugar também conta com estrutura para acampamento, além de lanchonete e pousada. O preço é R$ 150 se optar pela cadeirinha, e R$ 198 para percorrer a tirolesa deitado.

Doutor Pedrinho

A cidade é ainda menor que Benedito Novo – com pouco mais de 4 mil habitantes, tornou-se município apenas em 1989. Cheia de belezas naturais, Doutor Pedrinho se destaca pelas inúmeras opções de ecoturismo e prática de esportes radicais, como trekking, canyoning, rapel e cascading. Uma das atrações mais visitadas é a Cachoeira Véu de Noiva, uma queda de 63 metros. A apenas 10 quilômetros do centro, é bastante acessível: com 20 minutos de trilha, chega-se ao topo da cachoeira ou à piscina natural. O acesso é gratuito.

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A Cachoeira Véu de Noiva, uma queda de 63 metros, tem fácil acesso a apenas 10 km do centro de Doutor Pedrinho Foto: Milena Lenfers

Quem deseja ir além do óbvio não pode deixar de conhecer a terra indígena Laklanõ Xokleng (sim, há mais do que cultura alemã e italiana no Vale Europeu). Lá, a principal atividade é a Trilha da Sapopema, 1.800 metros dentro de uma reserva da Mata Atlântica com biodiversidade preservada. No fim, os visitantes podem participar de uma confraternização e experimentar o Capung, comida indígena assada em taquara na fogueira. A atividade, a R$ 90 por pessoa, é realizada pela Ativa Aventuras.

Rio dos Cedros

A Região dos Lagos faz de Rio dos Cedros, pequena cidade de 11 mil habitantes, uma parada obrigatória. A barragem do Pinhal, a cerca de 30 km do centro, não tem sinal de celular. Por esse motivo, além da paisagem repleta de vegetação da mata atlântica, o lago compõe um ambiente ideal para quem quer sossego e contato com a natureza. As pousadas e os chalés da região oferecem espaços aconchegantes e rústicos que combinam com a paisagem ao redor.

O Parador da Montanha, na beira do lago, tem seis opções de cabanas para casal (de R$ 1.380 a R$ 2.390) e duas para família (de R$ 3.990 a R$ 4.190). Todas são equipadas com cozinha completa, e algumas ainda têm lareira e hidromassagem com vista para o lago.

A Cachoeira Formosa, em Rio dos Cedros, é uma das mais bonitas do Vale Europeu Foto: Daniel Lunelli

Rio dos Cedros também não deixa a desejar quando se trata de quedas d’água: a Cachoeira Formosa, em Alto Palmeiras, comunidade perto da Região dos Lagos, tem 40 metros de altura e é uma das mais bonitas do Vale Europeu. Para visitá-la, é preciso pagar uma taxa de R$ 15. Vale a pena acampar no local, que tem estrutura com banheiros, chuveiro quente e sinal de wifi. O valor da pernoite no camping é R$ 35 por pessoa.

Se for para Alto Cedros, logo ao lado de Alto Palmeiras, visite a Feirinha Comunitária Amigos do Pinhal. Vende artesanatos, bolos, pães e doces caseiros de produtores locais. Dica: experimente a cuca alemã, tipo de bolo de tabuleiro coberto com farofa crocante feita de açúcar, manteiga, farinha e canela.

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