Entre montanhas, os povoados esquecidos pelo tempo no Chile

Ao longo das estradas sinuosas da região, a paisagem em tons terrosos reserva surpresas a cada curva. Codpa, primeira parada a partir de Arica, nos dá as boas-vindas à rota das missões chilenas

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Por Juliana Mezzaroba e Arica
Atualização:
O céu estrelado perto de Guallatiri, uma cidade com iluminação elétrica limitada Foto: Juan Jaeger / Divulgação

Às 19h45, o sol se punha no horizonte do Oceano Pacífico enquanto o avião pousava no aeroporto à beira-mar em Arica. O primeiro detalhe que chama a atenção é a ausência da areia fina e a grande quantidade de cascalho marrom por toda a orla da praia. O que apresenta, para quem nunca esteve na região, o clima desértico costeiro. A estrada de pedregulhos cor de café claro nos acompanha pelos pouco mais de 700 quilômetros percorridos em quatro dias de viagem. 

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O mapa mostra que estamos em um pontinho no extremo norte do Chile, quase fronteira com o Peru e Bolívia. Apesar de pequena, essa região apresenta uma grande diversidade de experiências. É possível, em apenas 4 horas de carro, sair do nível do mar, com temperaturas na casa dos 19 graus o ano, e subir 4.300 metros até chegar ao altiplano, com temperaturas abaixo de zero nas noites de inverno.

Faça o trajeto sem pressa. Nas curvas do Deserto do Pacífico, quem reina é o sol forte e o céu azul-turquesa contrasta com o marrom das montanhas. Em meio à paz e solitude do deserto, se revelam vales pontuados com o verde das plantações, onde podemos ver sinal de civilização em pequenos povoados. Em Codpa, por exemplo, há energia elétrica por apenas 2 horas durante a noite. E, quando as luzes se apagam, a magia vem do céu, tão estrelado que até parece imagem de planetário. 

A chegada ao altiplano é o ponto alto da viagem, com o perdão do trocadilho. Montanhas com picos nevados, vulcões, salinas que se apresentam como um tapete branco para os delicados flamingos viverem tranquilamente ao lado de lhamas e alpacas que habitam no local. E como se contemplar esse cenário cinematográfico já não fosse suficiente, ainda é possível se banhar e relaxar em termas naturais e praticamente exclusivas, já que a região ainda é pouco visitada por turistas. 

Além do espetáculo natural, há mais de 90 igrejas entre Arica e Parinacota, erguidas pelos colonizadores espanhóis entre os séculos 16 e 17. Elas vêm sendo reformadas aos poucos e têm grande importância para os moradores. Sempre simpático e bem receptivo, o povo andino faz questão de mostrar um pouco de sua cultura para quem visita a região. Abrem suas casas para hospedagem, preparam refeições com carinho e estão sempre prontos para contar uma história, geralmente, lembrando seus antepassados. Confira nosso trajeto nesta reportagem.

ANTES DE IR:

O bucólico centro de Codpa, no norte do Chile Foto: Juan Jaeger / Divulgação

 Aéreo: São Paulo – Arica – São Paulo, com conexão em Santiago, custa desde R$ 1.774,67 na Latam.Operadoras: no site da Ruta de las Misiones, mantido pela Fundación Altiplano, reúne operadoras locais, sugestões de roteiros, hotéis e explicações sobre os projetos de turismo sustentável realizados com as comunidades da região de Arica e Parinacota. Também é possível agendar passeios a partir de Arica.

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Onde Ficar: com o turismo ainda em desenvolvimento na região, a maioria das pousadas é simples. Há poucas hospedarias em Belén e, no Parque Nacional de Lauca, é possível acampar. Em Arica, há mais opções de qualidade – há opções de passeios bate-volta para a região com agências locais. Por causa da localização central, Codpa acaba sendo base para alguns bate-voltas. Nos alojamos no Codpa Valley Lodge (diárias a US$ 100 o casal), com chalés charmosos e individuais, piscina, Wi-Fi e café da manhã.

O povoado só tem energia elétrica até às 22h30 – depois desse horário, troque a tela do celular pela iluminação das estrelas. É possível ver até a Via Láctea. Jantamos em outra pousada, a Samkanjama, que significa “como um sonho” (de certa forma, era como nos sentíamos naquele momento). Ali, dona Olga oferece alojamento para 19 pessoas e restaurante com comida caseira e orgânica – todos ali têm um grande quintal, onde podem plantar o que consomem. A diária custa 14 mil pesos (pouco mais de R$ 65).

Outra opção de hospedagem por ali é o Centro Turístico Vila Vila, onde tomamos café na manhã seguinte. Em meio a um grande pomar, com muitas flores, temperos e o som do riacho, a senhora Haydee Montecinos também oferece alojamentos. Com direito a ofurô, café da manhã no jardim, pão quentinho feito por ela mesma e frutas locais colhidas do pé na hora. A diária com café da manhã custa 40 mil pesos (R$ 190). Ao nosso convite, dona Haydee e seu marido Omar sentam-se à mesa para tomar café conosco para compartilhar algumas de suas histórias e um pouco da cultura da região. 

Precaução:  Não há sinal de celular nas estradas – estude bem o mapa para não ter problemas. Saia cedo, para poder parar em quantos mirantes quiser antes de o sol se pôr. Não faça a rota à noite ou no período de chuvas (de dezembro e março).

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Nas alturas: Para diminuir os efeitos da altitude, tome bastante líquido, especialmente sopas e chás. Evite bebidas alcoólicas e procure descansar no dia da chegada. Se possível, aclimate-se aos poucos se não suba ao ponto mais alto de uma só vez.

Ritmo de festa: A tranquilidade dos vilarejos só é interrompida pelas festas tradicionais. Os dias de santos de devoção são celebrados com música, dança e vinhos locais. Uma das maiores festas é o carnaval andino, em fevereiro.

Praias: Arica é conhecida como a “cidade da eterna primavera”, com praias boas para esportes aquáticos. Se quiser esticar a San Pedro de Atacama, vá de avião para Calama (5 horas) – o Viagem esteve lá recentemente; leia aqui

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VIAGEM A CONVITE DA FUNDACIÓN IMAGEN DE CHILE

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