Meu filho era um bebê de 18 meses quando viajei sem ele pela primeira vez.
Eu estava ao mesmo tempo com saudade de sair pelo mundo sozinha e cheia de medos e dúvidas sobre como sobreviveríamos – o bebê e eu – à primeira separação. Embarquei eufórica e afogada em culpa. Leia também: Família viaja separada parte 2: filho sem os pais
No meu caso, era trabalho. Mas, independentemente do motivo, mesmo que seja a vigésima vez, depois que nascem os filhos, a montanha-russa de sentimentos ao viajar sem eles nunca mais nos abandona.
A seguir, conto o que aprendi nessa vida de mãe que também viaja sem criança. Espero que as dicas ajudem você a tornar a separação temporária um momento prazeroso ou, pelo menos, mais tranquilo para toda a família.
Não alimente a culpa e não aceite julgamentos. Em Brasília, em uma corrida de aventura, conheci uma atleta neozelandesa que tinha uma filha de um mês. Tinha deixado a bebê com a avó e me contou isso com lágrimas nos olhos, explicando o quanto aquela prova era importante para sua carreira – por isso, estava fazendo o sacrificado bate-volta da Nova Zelândia ao Brasil. Fiquei pensando no quanto aquela mulher estava se sentindo julgada a ponto de se explicar a uma estranha, eu.
Há quem sinta necessidade de tirar um tempinho para respirar, recuperar a sanidade. Quem precise de um fim de semana a sós para recolocar o relacionamento nos trilhos. Uma amiga escapuliu para Madri com o marido assim que a caçula fez 2 anos. Outra, só agora, filhos com 8 e 5, conseguiu segurança para uma ida solo a Buenos Aires. Sua viagem, seus motivos, suas regras.
Prepare as crianças. É importante conversar e explicar passo a passo tudo o que acontecerá. Quanto tempo a mamãe (ou o papai) vai ficar fora. Quem vai cuidar da criança nesses dias e o que ela vai fazer (vai à escola, passear, a dinda vem para brincarem...). Comece essa conversa vários dias antes do embarque e repita muitas vezes, mesmo que seja com um bebê. Criança precisa de rotina e informação prévia.
Delegue e confie. Mãe tem mania de achar que o pai não vai dar conta sozinho. Fuja dessa armadilha emocional. Vai, sim: ele tem a mesma responsabilidade que você pelo bem-estar dos filhos. Ele é obrigado a dar conta e fim de papo.
Se ficarão aos cuidados de avós, tios ou amigos, passe orientações sobre os hábitos das crianças. Combinem um canal de comunicação rápida. E aceite no fundo do seu coração que nem tudo sairá do seu jeito. Cardápio, hora do sono e programas permitidos na TV podem não ser do seu agrado. Tudo bem. É por pouco tempo, você conserta depois.
Presenteie com moderação. Na volta, evito chegar em casa despejando presentes sobre o meu filho. Em geral, compro uma coisa só e até espero dois a três dias para entregar. Tudo para que ele não associe a viagem da mamãe ao “direito” de ganhar um presente. Para não compensar a ausência com objetos.
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Naquela primeira viagem, cheguei ao aeroporto com antecedência. Despachei mala, fui para a área de embarque, entrei num bar, comprei uma cerveja, sentei de costas para o mundo e chorei. Chorei um ano e meio de cansaço, de noites maldormidas. A alegria de estar sozinha e beber uma cerveja sem ser interrompida, pela primeira vez em tanto tempo. Chorei a insegurança de deixar o bebê por longos 13 dias. A maravilhosa expectativa de 12 horas seguidas de sono até Los Angeles (na econômica!).
E é claro que deu tudo certo. Meu filho ficou ótimo, naquela viagem e nas que vieram depois. Já chegamos à fase em que ele, aos 8 anos, é quem viaja sem mãe e sem pai. Este será o tema da próxima Criança a Bordo.