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Floresta e lavrado se encontram no Tepequém

Uns podem até falar que é longe. Outros, dizer que não há shoppings, cinemas nem museus e cultura abundante. Ou até que a umidade é terrível. Mas a verdade é que senti inveja de quem mora em Boa Vista. Não só por ser uma cidade de porte quase ideal, com natureza presente (fui recebido por um tucano no centro da cidade) e uma vida leve. Mas, principalmente, por estar a apenas duas horas de carro deste lugar.

Por VILA DO PAIVA
Atualização:
Vista do penhasco na caminhada do Platô, na Serra do Tepequém Foto: Felipe Mortara/Estadão

Quando me perguntam o que mais gostei em Roraima, a resposta está na ponta da língua: Serra do Tepequém. Não se trata de um parque ou de uma reserva, mas de uma antiga zona de garimpo em uma área de transição de vegetação. É ali, numa serra em formato de vulcão, que o lavrado faz uma fronteira nítida com a mais densa floresta amazônica. E isso é vibrante.

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A caminhada ao Platô da Serra do Tepequém vale cada passo de sua 1h30 de duração até a beira do penhasco, a 1.110 metros. No percurso, de média intensidade, algumas das 400 espécies de orquídeas encontradas no Estado. A Roraima Adventures (roraima-brasil.com.br) tem pacotes a partir de R$ 600. Segundo o guia Luciano Alvarenga, o Lula, a montanha pode ser considerada um "mini Monte Roraima". "A vegetação e o relevo são bem similares. É uma opção para quem não tem tempo ou dinheiro para ir até o original", afirma.

Com mais meia hora de trilha é possível alcançar a carcaça de um avião que caiu na região na década de 1990. Mas para desfrutar do essencial deste lugar, basta sentar-se no abismo e fazer alguns minutos de silêncio para perceber a joia que repousa duas centenas de metros abaixo. Espero nunca esquecer dos sons que emanam daquela densa massa verde nem o quanto me comoveram. Pássaros de variadas espécies - só em Roraima há mais de 750 catalogadas - e macacos disputavam, aos berros, cada centímetro do espaço, enquanto nuvens iam passando, sob nossos pés e olhares.

Águas.

Onde há fumaça, há fogo, diz o ditado. E onde há mata há... água. Ao menos ali. Nas florestas que margeiam a Serra do Tepequém, inúmeras nascentes se transformam em rios, aqui chamados igarapés. E onde há rios e serras, invariavelmente há... cachoeiras! Eis o que faz o Tepequém ser tão procurado pelos boa-vistenses aos fins de semana e feriados.

Perto da Vila do Paiva, principal centrinho com um punhado de restaurantes e pousadas bem simples, a primeira parada é a cascata homônima. Do mirante avistei macacos pulando logo pela manhã. Após descer uma longa escadaria, alcança-se a linda queda d'água de mais de 50 metros, com poço para banho e a sensação de estar dentro da mais pura floresta amazônica.

Já a Cachoeira do Barata - os nomes homenageiam os garimpeiros que trabalhavam em cada zona - requer uma caminhada de 45 minutos. A queda d'água de 15 metros só é vista de cima, mas um outro poço, de água verde translúcida, refresca o calor insistente: conta com uma pequena queda, quase como um chuveiro de lavar a alma. No mirante do Sesc, logo ao amanhecer, uma cena maravilhosa. A névoa baixa é iluminada pelo sol nascente. Alguns raios vão aos poucos perfurando a camada de nuvens baixinhas, sobre a mata, lá em baixo.

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No caminho de volta para Boa Vista, quem vai no banco do passageiro pode avistar casais de araras-canindé no topo das árvores, tamanduás desfilando pelo acostamento e, com sorte, jabutis atravessando a estrada. Sorte nossa e deles, que, com uma ajudinha da reportagem, alcançaram seu destino com segurança.

/ F.M.

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