Quando me perguntam o que mais gostei em Roraima, a resposta está na ponta da língua: Serra do Tepequém. Não se trata de um parque ou de uma reserva, mas de uma antiga zona de garimpo em uma área de transição de vegetação. É ali, numa serra em formato de vulcão, que o lavrado faz uma fronteira nítida com a mais densa floresta amazônica. E isso é vibrante.
A caminhada ao Platô da Serra do Tepequém vale cada passo de sua 1h30 de duração até a beira do penhasco, a 1.110 metros. No percurso, de média intensidade, algumas das 400 espécies de orquídeas encontradas no Estado. A Roraima Adventures (roraima-brasil.com.br) tem pacotes a partir de R$ 600. Segundo o guia Luciano Alvarenga, o Lula, a montanha pode ser considerada um "mini Monte Roraima". "A vegetação e o relevo são bem similares. É uma opção para quem não tem tempo ou dinheiro para ir até o original", afirma.
Com mais meia hora de trilha é possível alcançar a carcaça de um avião que caiu na região na década de 1990. Mas para desfrutar do essencial deste lugar, basta sentar-se no abismo e fazer alguns minutos de silêncio para perceber a joia que repousa duas centenas de metros abaixo. Espero nunca esquecer dos sons que emanam daquela densa massa verde nem o quanto me comoveram. Pássaros de variadas espécies - só em Roraima há mais de 750 catalogadas - e macacos disputavam, aos berros, cada centímetro do espaço, enquanto nuvens iam passando, sob nossos pés e olhares.
Águas.
Onde há fumaça, há fogo, diz o ditado. E onde há mata há... água. Ao menos ali. Nas florestas que margeiam a Serra do Tepequém, inúmeras nascentes se transformam em rios, aqui chamados igarapés. E onde há rios e serras, invariavelmente há... cachoeiras! Eis o que faz o Tepequém ser tão procurado pelos boa-vistenses aos fins de semana e feriados.
Perto da Vila do Paiva, principal centrinho com um punhado de restaurantes e pousadas bem simples, a primeira parada é a cascata homônima. Do mirante avistei macacos pulando logo pela manhã. Após descer uma longa escadaria, alcança-se a linda queda d'água de mais de 50 metros, com poço para banho e a sensação de estar dentro da mais pura floresta amazônica.
Já a Cachoeira do Barata - os nomes homenageiam os garimpeiros que trabalhavam em cada zona - requer uma caminhada de 45 minutos. A queda d'água de 15 metros só é vista de cima, mas um outro poço, de água verde translúcida, refresca o calor insistente: conta com uma pequena queda, quase como um chuveiro de lavar a alma. No mirante do Sesc, logo ao amanhecer, uma cena maravilhosa. A névoa baixa é iluminada pelo sol nascente. Alguns raios vão aos poucos perfurando a camada de nuvens baixinhas, sobre a mata, lá em baixo.
No caminho de volta para Boa Vista, quem vai no banco do passageiro pode avistar casais de araras-canindé no topo das árvores, tamanduás desfilando pelo acostamento e, com sorte, jabutis atravessando a estrada. Sorte nossa e deles, que, com uma ajudinha da reportagem, alcançaram seu destino com segurança.
/ F.M.