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O homem mais viajado do mundo

Grívnias, meticais e outras moedas

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Por Mr. Miles
Atualização:
Câmbio. Qual a dinâmica para o uso de tantas moedas diferentes segundo nosso viajante profissional Foto: REUTERS/Edgar Su

Nosso viajante prepara-se para o verão no Hemisfério Sul. Consta que, mais uma vez, virá ao Brasil. Breve confirmaremos. A seguir, a correspondência da semana:

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Caro Mr. Miles: como faz um viajante para usar tantas moedas diferentes em lugares extravagantes? O senhor sempre troca suas libras por dinheiro local? E qual é o dinheiro mais bonito, na sua opinião?  Gunter Kaisenberg, por e-mail

Well, my friend, pergunta interessante a sua. Nos tempos em que ainda era um homem de posses (antes de torrar a fortuna que herdei de uma desconhecida contraparente), dava-me ao luxo de colecionar moedas. This was not brilliant. Com a inflação, as mudanças econômicas locais e alguns arroubos autoritários, muitas das moedas tornaram-se pó. Tenho, for instance, alguns maços de marcos alemães dos tempos da República de Weimar. Se o valor de face existisse, eu compraria um luxuoso automóvel germânico. À época, porém, nem a soma de todos marcos que colecionei eram capazes de adquirir uma única caixa de fósforos.

Hoje ando apenas com pequenos valores. O suficiente, let’s say, para garantir o whisky 12 anos de Trashie e meu single malt. Uso moedas locais que troco com meus amigos, compadres e afilhados ao redor do mundo. As taxas, I must say, são bem mais generosas quando você tem um amigo de confiança no destino. (Mais um ótimo motivo para viajar, isn’t it?). Quando sobra um valor razoável, fazemos a retroca. Mas quase sempre fico com algumas moedas de pequeno valor e uma ou outra nota irrelevante. 

Tenho dois baús cheios de dinheiro de todo o planeta. Um ladrão mal informado que entrasse em minha casa no Condado de Essex julgaria ter encontrado a fortuna de sua vida. Unfortunately, o único valor que esse dinheiro tem é o de me ajudar com carregadores de malas quando desembarco em algum lugar. Robert Growald, my old friend, precisa aparecer com mais frequência em casa, para ampliar sua coleção numismática.

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As moedas ao redor do mundo têm nomes recorrentes: muitos países usam dólares, libras, francos, rupias e pesos. Outros, however, batizam seus valores de troca com nomes peculiares. Vejam só: na Ucrânia, aonde vou frequentemente para rever a doce Yulia, a moeda chama-se grívnia. Soa-me como uma espécie de psoríase... ‘Ah, pobre Ulyana: está cheia de grívnias’.

Pois se na Ucrânia a moeda tem um nome que lembra doença, a cura talvez esteja em Moçambique, país onde circula o metical. Quem sabe um metical a cada seis horas não cure a grívnia de Ulyana?

Em Botsuana, lugar em que pratico birdwatching de primeira qualidade, o dinheiro chama-se pula. Pula significa chuva. E sua fração, o thebe, quer dizer ‘gota’. Nomes adequados a uma nação que é ocupada por grandes desertos. No Panamá, é bom ter um punhado de balboas no bolso. Não: o nome não vem do pugilista interpretado por Sylvester Stallone, mas do conquistador espanhol Vasco Nuñes de Balboa. O tema é extenso, fascinante e quase infinito. Moedas são suvenires que se pode trazer de uma longa viagem – e, nesse caso, não se pode usar o termo vil metal. Don’t you agree?

Quanto a notas bonitas, my dear Gunter, é claro que vai de gosto. Países tropicais costumam imprimir notas alegres. Não conheço nenhuma tão bela quanto a dobra de São Tomé e Príncipe. A nota de 50 mil dobras (o equivalente a pouco menos de dois euros) é um delírio ornitológico, com uma bela conobia (ave local) a ilustrá-la. Os antigos francos franceses eram bonitos – I’m sorry to say. Mas os da Polinésia são ainda mais perturbadores. E é bom ter muitos deles se você quiser passar alguns dias por lá. Gosto muito, também, do rial iemenita. Para colecionadores, I recommend. Notas cheias de vida em um país, unfortunately, cheio de mortes.” É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO.ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS

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