Ilhas Cíes, para fugir do óbvio na Espanha

Para as almas menos urbanas, o apelo: meia dúzia de praias e atividades, poucas construções, nenhuma estrada, nem ciclovia

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Por Thiago Momm
Atualização:
Entre os até 2.200 visitantes diários que as Cíes comportam há muito mais espanhóis que estrangeiros Foto: Thiago Momm/Estadão

VIGO - Um areal acumulado formou uma praia que uniu duas ilhas. Com um molhe construído depois, a praia ficou dividida não só entre as ilhas, mas entre uma lagoa e o Atlântico. 

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Essa união espetacular das Ilhas Cíes pode ser contemplada do alto de um morro facilmente acessível ou do camping local, que amanhece diante dela. Deitado na praia, com 1,2 km de faixa de areia curva, clara e macia, o visitante pode devanear sobre a rica história dessas ilhas. Ou dali sair para apreciar frutos do mar galego, visitar um farol ou outra praia, andar de caiaque, mergulhar. 

Entre os até 2.200 visitantes diários que as Cíes comportam há muito mais espanhóis que estrangeiros. Claro que o fato de as ilhas serem pequenas, terem comércio mínimo e limitarem a hospedagem a um camping as tornam bem diferentes de Mallorca ou Ibiza. Para as almas menos urbanas, porém, eis o apelo: meia dúzia de praias e atividades, poucas construções, nenhuma estrada, nem mesmo ciclovia. É possível, em todo caso, ir e voltar de Vigo no mesmo dia. 

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Apreciassem ou não as praias espetaculares no entorno do monastério de São Estevão (hoje abrigo do centro de informações de um parque marítimo que inclui as ilhas), os religiosos medievais apreciavam as Cíes. Em diferentes séculos, monges beneditinos, franciscanos e da Ordem de Cluny se estabeleceram nelas.

Há mais de 2 mil anos já havia assentamento. Mais tarde, os romanos deixaram ânforas, cerâmicas e um anel de ouro com marca militar expostos no Museu de Pontevedra. Dos monges restou ainda outro monastério, o de São Martinho, na ilha homônima, que é a terceira que compõe as Cíes, mas não recebe barcos públicos.

As idas e vindas dos monges se explicavam pelo assédio de piratas e de armadas invasoras, como a do corsário inglês Francis Drake (1540-1596), uma tensão que terminou de despovoar as Cíes no século 18. No 19, famílias galegas voltam a habitá-la, sendo de então os quatro faróis encontrados nas ilhas. 

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Na segunda metade do século 20, as Cíes passaram a ser visitadas especialmente pelos mais jovens. Acampar era livre. Depois, as ilhas, com as Sálvoras e as de Ons, se tornaram um parque nacional e ganharam restrições. O

camping das Cíes

 tem 800 lugares, mas fora da temporada apenas três pessoas moram ali.

Fiquei ali duas noites e foi pouco – li menos livros do Cervantes que queria. Fazer as quatro trilhas, jantar a dois no restaurante mais agradável (Serafin), relaxar nas praias e fruir o cenário fazem sumir o tempo. Perceba como os morros do braço de mar que segue Galícia adentro surgem matizados em diferentes distâncias e ângulos. Tente estar no caminho do Alto do Príncipe no começo da manhã ou final da tarde, com luz suavizada, para as melhores fotos de sua estada.

 

Camping nas Ilhas Cíes Foto: Thiago Momm/Estadão

NÃO PERCA CÍES

 

1. 'Tumbarse’ na areia

Usufrua das praias. A de Rodas, a principal, tem 1,3 km e uma parte com areia de dunas. A de Nossa Senhora oferece mergulho, snorkel e vista para a Ilha de São Martinho, cuja praia é visitada por barcos privados. A praia dos Vinhos divide suas areias e vistas entre o sul e o leste. A de Figueiras, que conta com o anteparo da vegetação de pinheiros, é de nudismo. 

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2. Fazer trilhas

São quatro. As melhores vistas são a do caminho do Alto do Príncipe, que leva a 111 metros de altura, e a do Monte Faro, que leva a 175. A primeira tem dificuldade baixa, duração de até 40 minutos e panorama (ao som do marulho distante), de ilhas, falésias, a praia de Rodas, o Lago dos Nenos e o continente. Já a trilha do Monte Faro dobra o tempo e tem uma dura subida em zigue-zague. A vista impressiona com uma nova visão da Ilha de San Martinho a cada curva, e, ao final, abarca arquipélagos e a península do Morrazo. 

 

3. Jantar com vista 

O restaurante da Praia de Rodas tem o menu mais amplo; o do camping funciona como um (bom) bandejão. O Serafin fica a 5 minutos desse último, em um deque arborizado com vista das luzes de Vigo e peixes frescos. Para cerveja e sociabilidade, o bar do camping é a opção. Já a sanduicheria Begonia oferece sossego em um belo jardim.

 

4. Mergulhar, passear de caiaque, ver estrelas

As empresas

Atlantis

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 e

Ciesub

, de Vigo, estão entre as que oferecem mergulhos com cilindro. Os de snorkel e os passeios de caiaque são contratados no camping a 30 euros cada. Vale lembrar que o mar na Galícia é de um frio doloroso. Já as estrelas são apreciadas em passeios da

Sailway

, com guia.

 

A Rua da Pescadería Foto: Thiago Momm/Estadão

Em Morrazo, mares turquesa e banhistas desnudos

Quando perguntei à anfitriã que praias ao norte de Vigo mais valiam a pena, ela listou sem esforço: Castiñeras, Areacova, Areabrava, Rodeira, Nerga, Barra, Melide, Menduína. Isso sabendo, claro, que eu já tinha ido às Ilhas Cíes. A Península do Morrazo é um passeio valioso – nem o GPS reconhece algumas das ruas. Mentalize povoados de traçados confusos e poucas placas, onde um diminuto Fiat Cinquecento quase raspa os retrovisores nas vielas e as praias se resguardam não só depois de muitas ruas, mas também de pequenas trilhas.

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São 38 praias só no município de Cangas, que tem como vizinhos Bueu e Moaña, também litorâneos, mas que sozinho merece tomar todo o dia de passeio. 

A primeira parada é Rodeira, com pouca vegetação horizonte urbano, mas calçada arborizada, passeios de caiaque e windsurfe, um bom parque infantil e ar de cotidiano nativo. O melhor, contudo, está a minutos dali, no centro histórico de Cangas, com comércio mais barato que o de cidades maiores, ruas estreitas com varandas floridas e a gótica Ex-colegiata Santiago de Cangas.

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Nerga tem os apelos da vila labiríntica de chegada e uma espaçosa faixa de areia. O cenário natural, no entanto, impressiona mais nas praias seguintes, a da Barra, nudista e de mar turquesa, e a de Melide, no extremo sudoeste da península, ambas acessíveis por breves trilhas. As primeiras desnudadas nádegas espanholas foram o aviso de que a Barra era de nudismo, porque placas informativas não vi. Seja como for, valorizei os hábitos locais e me uni aos desfolhados banhistas. Melide, mesmo vestida, é ainda mais reclusa. A chegada tem muito asfalto, três quilômetros de terra com vistas da baía de Vigo e trilha. Os 250 metros de areia vêm acompanhados de um bar.

Areabrava e de Areacova têm entornos urbanizados, e encontrei suas curtas faixas de areia inteiramente ocupadas. As de Castiñeiras e de Menduína fiquei devendo à minha anfitriã, porque já escurecia. A chegada e saída das praias toma muito do passeio, mas são uma atração em si. 

*O repórter viajou com o apoio da TAP.

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