Johannesburgo, cidade de contrastes

Áreas ricas como Sandton e Melville se contrapõem à pobreza de Soweto. E até lá casas simples estão cercadas por residências da classe negra emergente, um shopping center e um hotel quatro estrelas

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Por Redação
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Vida árida. Garotos brincam com carrinhos de pedaços de ferro conseguidos em Kliptown, no subúrbio de Soweto. Foto: Chris Kirchhoff, MediaClubSouthAfrica.com 

 

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É curioso uma metrópole com 6 milhões de habitantes, que possui museus e áreas como Sandton, com condomínios, hotéis de luxo, shopping centers e cassinos, e Melville, endereço da badalação, ter entre seus destinos turísticos obrigatórios um bairro pobre. Só não soa mais estranho porque estamos falando de Johannesburgo, cidade de contrastes, e de Soweto, periferia que fez história no levante contra a segregação racial. No dia 11 de junho, quando o juiz der início ao jogo de abertura da Copa do Mundo, entre México e África do Sul, o zunido festivo das vuvuzuelas será ouvido em Soweto que, não muito tempo atrás, vivia ao som de tiros de fuzil e voos rasantes de helicópteros. A poucas quadras do Soccer City, o estádio em Johannesburgo que abrigará o primeiro jogo do Mundial, o bairro pobre mostrará ao mundo que sabe torcer com a mesma intensidade com que combateu o apartheid.

 

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Construído para ser um imenso dormitório de trabalhadores negros no início do século 20, Soweto se transformou desde que o regime segregacionista caiu, em 1990. O comércio formal, antes restrito a poucos refeitórios e mercados, diversificou-se e cresceu. O bairro ganhou áreas verdes, o quatro estrelas Soweto Hotel e o moderno shopping center Maponya Mall. Quem conseguiu ascender socialmente após a queda do regime ergueu casas que lembram as das áreas ricas da cidade, criando um contraste até dentro do próprio bairro. Com a Copa, vieram outros benefícios. Antes dependente de vans e trens superlotados nos horários de pico, Soweto ganhou corredores de ônibus na sua principal avenida. Muitos dos seus moradores foram empregados na construção do Soccer City, que custou quase R$ 750 milhões. Com a expectativa de aumento do turismo no bairro durante o Mundial, albergues foram inaugurados para receber os visitantes.

Vida bela. Locais como Cape Town e Sandton são consideradas áreas nobres, com hotéis de luxo e shoppings centers. Foto: Jeffrey Barbee, MediaClubSouthAfrica.com 

 

A rua da paz.

Embora não seja uma área propriamente turística, já que a maioria dos seus moradores segue vivendo na pobreza, Soweto tem recebido fluxo constante de visitantes nas últimas décadas.

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Em excursões organizadas por agências é possível visitar a única rua do mundo em que já moraram dois vencedores do prêmio Nobel da Paz, a Vilakazi Street, onde ficam as antigas casas do ex-presidente Nelson Mandela (www.mandelahouse.com), hoje um museu que também merece ser visto, e do arcebispo Desmond Tutu.

Outras paradas são a Praça Walter Sisulu of Independence, onde ocorreram as primeiras grandes manifestações contra o apartheid, nos anos 1950, e o Museu Hector Pieterson (na esquina da Khumalo com a Pela Street), que homenageia um garoto de 12 anos morto pela polícia durante um protesto estudantil, em junho de 1976.

Os jovens faziam passeata contra o uso nas escolas do africâner, língua da população sul-africana de origem holandesa. A polícia abriu fogo contra os manifestantes. Hector foi fotografado após ser baleado, enquanto era carregado por um amigo. A imagem desencadeou uma onda de revolta em guetos de todo o país. Mais de 500 estudantes foram mortos numa sequência de protestos. Hoje, no jardim do museu, há tijolos para cada uma das vítimas, boa parte delas até agora não identificada.

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Pelas calçadas.

Em lanchonetes e barracas de comida, pode-se provar lanches típicos do bairro, como o kota (batata frita, queijo e mortadela) e o mageu (uma bebida de milho). Ou ainda conversar com os moradores sobre as expectativas deles em relação à Bafana Bafana, como é chamada a seleção sul-africana. Torcida, pelo menos, não faltará. "Quem sabe o barulho das vuvuzuelas desconcentre os nossos adversários", diz o motorista Gift Thabela, de 32 anos.

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