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Mães francesas viajam melhor do que eu e você

Ser prática: só um par de roupas de banho: um para o dia, outro secando

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Por Monica Nobrega
Atualização:
Simplificar é o segredo na viagem com filhos. Foto: Ruth Fremson/NYT

Ela saiu do elevador seguida por duas crianças na faixa dos 8 anos. A menina e o menino no mesmo instante ganharam o espaço do lobby de um recém-inaugurado hotel chique de São Paulo, movidos a uma moderada bagunça que consistia em arrancar uma boneca de pano das mãos um do outro. Enquanto isso, de saia mídi, sapatilha baixa e camiseta onde se lia Simone de Beauvoir, “ On ne naît pas femme, on le devient”, “Não se nasce mulher, torna-se”, ela conversava na recepção. O pega-pega dos pequenos passava pelo vão entre o balcão e as minhas pernas acomodadas na banqueta alta do bar exatamente quando a mãe os localizou e lançou-lhes um “ allons-y!”, “vamos!”, num tom de voz tranquilo. Cruzamos olhares; o rosto de Charlotte – elas sempre se chamam Charlotte – sorriu sereno em meio ao cabelo desgrenhado, mas bonito, e os filhos a seguiram entre risadas. Desapareceram num Uber.  Há coisas na vida que a gente precisa reconhecer, e uma delas é que mães francesas viajam com filhos melhor do que eu e você. Eu sei, você cansou de ler por aí sobre a superioridade das mães e dos pais franceses: diz-se que as crianças delas e deles são calmas, comem o que há no prato, não dão chilique em público. Também cansei da comparação, a ponto de, certa vez, num almoço Michelin-estrelado na cidadezinha francesa Vaux-en-Beaujolais, perguntar a uma mãe francesa de dois se é verdade que crianças francesas não atiram comida, como esfregou na nossa cara o título de um livro americano de 2012, que vendeu feito vinho bom em promoção, inclusive a tradução publicada no Brasil.  “Atiram comida sim”, respondeu Adèle – elas sempre se chamam Adèle – na ocasião. “Então mando irem buscar, limparem a sujeira com o guardanapo e todos continuamos a refeição.” Foi um baita ensinamento. Querendo entender, a partir dali comecei a reparar na forma como as francesas conduzem as viagens – e a vida, quando tenho oportunidade – com seus filhos. E a resposta para tamanha serenidade é: elas simplificam. Tudo. Dão às situações o peso que elas têm. Inclusive o que a gente acha que não dá para simplificar.  Ou você consegue discordar da mãe que não viu necessidade de se desculpar pelos cinco minutinhos de brincadeira de seus filhos? O que haveria de tão inaceitável, afinal, no fato de os pequenos terem corrido um pouco no lobby de um hotel, ainda que seja um chique de ofuscar?  Ao desembarcar em Ilhéus, na Bahia, rumo ao resort Transamérica Comandatuba, tive como companheiros no transfer do hotel um casal francês com três filhos. As malas deles – cinco pessoas, sendo o caçula um bebê de colo e fraldas – eram dois mochilões. Só.  Compartilhar o transfer aproxima turistas; nos dias seguintes, conversamos na praia. Perguntei sobre o segredo da bagagem compacta e Marie – elas sempre se chamam Marie – deu sua receita: só um par de roupas de banho para cada criança, uma para o dia, outra em processo de secagem. Não carregar fraldas, mas comprá-las em pequena quantidade no destino. Usar a lavanderia. Simples assim.  Semanas atrás, cheguei a Los Angeles ao mesmo tempo que um outro avião de Paris. Era de manhã cedo e a fila da imigração era gigantesca. Nela estava também um casal francês com quatro filhos, cada um com sua malinha de rodinhas, aquela que a criança senta em cima e é puxada. Dois adultos puxando quatro malinhas e ao mesmo tempo procurando passaportes; claro que uma das crianças, numa distração, levou um puxão mais forte e caiu. A menina abriu o berreiro, bem alto. Sophie – elas sempre se chamam Sophie –, indiferente a olhares, apenas pegou a pequena no colo e a acariciou até o momento em que a própria criança decidiu que era hora de parar. 

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