Maravilha em reflexo

Paraíso de trekkers e aventureiros em geral, Patagônia chilena tem cenários deslumbrantes, daqueles que ficam por muito tempo na lembrança

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Por Suely Andreazzi PUERTO NATALES
Atualização:

Elas vão se agigantando no céu a cada quilômetro percorrido na estrada de cascalho em direção às portarias. As estrelas do parque, as Torres del Paine ou torres azuis, na língua dos índios nativos, dão o ar da graça muito antes da entrada do parque nacional. Já na beira do Lago Sarmiento se tem a primeira visão dos três picos: o mirante é parada obrigatória para quem vem de tão longe. São quatro horas de voo mais três horas de carro desde Santiago, para apreciar a inesquecível paisagem da Patagônia chilena.

 

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A partir daqui, os aventureiros, mais de 140 mil por ano, terão a presença constante das torres enquanto percorrem os quilômetros restantes até uma das entradas do parque. A região mais fria da América do Sul abriga o Parque Nacional Torres del Paine, distante 147 km da cidade Puerto Natales na Província de Última Esperança. Criada em 1959, a reserva de 242 mil hectares protege 120 espécies de pássaros e 25 tipos de mamíferos.

 

Nas principais portarias - Lago Sarmiento, Laguna Amarga ou Laguna Azul - , o visitante faz o registro e paga uma taxa de US$ 28 (alta temporada) ou US$ 10 (baixa). Depois, recebe um mapa e explicações sobre trilhas, atividades esportivas permitidas e as precauções necessárias para desbravar o parque.

 

 

Na entrada de Laguna Amarga, a mais perto das torres, uma estreita ponte de ferro virou atração turística. Construída apenas para passagem de gado, em 1928, hoje a estrutura é usada pelas vans que levam e trazem os visitantes. Para fazer a travessia, o motorista precisa ser habilidoso e contar com uma ajudinha providencial dos viajantes. Dois voluntários ficam monitorando os retrovisores, para que o carro não bata na ponte - só sobram um ou dois centímetros em cada espelho.

 

Até onde o olhar alcança, a exuberância da paisagem patagônica e suas diversidades. O cenário muda de acordo com a altitude, de 50 a 3.050 metros acima do nível do mar. Há bosques de lengas e estepes. Cascatas, geleiras, lagos ora azuis, ora verdes. E montanhas com picos nevados. Cada tipo de vegetação tem fauna própria. Perto das portarias de entrada, os guanacos fazem a festa: as plantas dessa área são perfeitas para alimentá-los. Do outro lado, já no Lago Grey, reinam as desconfiadas raposas.

 

Foi essa região que serviu de inspiração para Gabriela Mistral, primeira Nobel de Literatura do Chile, a compor parte de sua obra mais importante, os Poemas da Alma.

 

Declarado Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco, em 1978, o parque segue normas para evitar impactos ambientais. Mesmo conscientizando os visitantes sobre os cuidados nas trilhas e os perigos do fogo numa região formada por pequenos arbustos quase secos, o descuido de um turista checo ao fazer uma fogueira fora da área delimitada provocou, em 2005, um incêndio que durou um mês e queimou 15.000 hectares.

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Fitas podem ser vistas amarradas às árvores queimadas, um esforço dos biólogos para entender a recuperação da flora, que deve levar 20 anos para se recompor. O governo checo, para amenizar o estrago, montou estufas em Puerto Natales para reproduzir plantas nativas e tentar acelerar o processo.

 

Auge

 

Quem decidir se aventurar na reserva de outubro a abril verá o parque em seu esplendor, repleto de flores. A época também é perfeita para os que vão investir em trilhas. O dia é mais longo - amanhece às 5 horas e só anoitece perto das 22 horas - e as temperaturas, bem mais suportáveis, variando de 2 a 20 graus.

 

A reserva atrai uma multiplicidade de turistas. Dos que levam dias caminhando em trilhas até os que preferem fazer o tour de um dia em vans. Outros aproveitam a escala dos cruzeiros que passam pela região para contratar um guia e esticar até o parque: eles terão seis horas para percorrer as principais atrações e se encantar com o Torres del Paine.

 

Para os que podem permanecer mais tempo, os hotéis oferecem cerca de vinte tipos de passeio, como cavalgada pelos montes nevados, tours até as geleiras e escaladas radicais.

 

Num dos roteiros disponíveis, as vans dos hotéis saem após o café da manhã e passam o dia inteiro percorrendo as estradas do parque. O percurso é permeado, claro, de várias paradas para fotografar e observar formações rochosas, animais e diferentes tipos de vegetação.

 

Na hora do almoço, o camping do Lago Pehoe, com água de cor esverdeada, será o cenário do piquenique patagônico: sanduíches de cordeiro ou peixe e uma taça de vinho chileno. Sentados nos bancos rústicos de madeira, a visão ao fundo dos Cuernos del Paine, formação rochosa tão alta quanto as torres completam a cena para o brinde.

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ONDE FICARHotéis a vista

Única área privada do parque, o Las Torres (www.lastorres.com) preserva a atmosfera da época em que era uma fazenda patagônica. Destaque para o salão central, com sua panorâmicaNa decoração do Indigo (www.indigopatagonia.com), em Puerto Natales, o arquiteto Sebastián Irarrázaval demonstrou sua paixão pela Patagônia. A vista para o fiorde Ultima Esperanza dispensa a TV

 

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