Marcas da pré-história em templos neolíticos

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Por Cristiano Dias
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A primeira celebridade atraída por Malta foi Ulisses. O herói da Odisseia, de Homero, naufragou na costa da ilha de Ogígia, onde vivia Calipso, a ninfa do mar. Ela o manteve preso por sete anos, até Zeus enviar Hermes para libertá-lo. Muitos creem que Ogígia seja a ilha de Gozo, onde uma gruta leva o nome de Calipso. Se é fato ou versão, pouco importa. A gruta não passa de uma fenda na rocha no topo de uma montanha. Mas o passeio vale pela vista da Baía de Ramla, uma das mais charmosas de Malta. Razão suficiente para Ulisses não sentir saudades de casa. De um período imemorial, como o de Ulisses, é o templo de Ggantija, também em Gozo. Patrimônio da Unesco, foi construído em 3500 a.C. - 500 anos antes de Stonehenge, na Grã-Bretanha. Em Malta, o visitante desatento tropeça em ruínas neolíticas. Os complexos estão por todas as partes: Hagar Qim e Mnajdra (foto), os templos de Tarxien, Skorba e Ta' Hagrat, e sua maior joia arqueológica, o Hipogeu de Hal Saflieni. O santuário é o único templo pré-histórico subterrâneo do mundo. A catedral neolítica data de 3000 a.C. e continha 7 mil corpos quando foi descoberta acidentalmente por pedreiros de um obra, em 1902. O dióxido de carbono exalado pelos turistas vinha dilacerando os quase 500 metros quadrados de salões e câmaras mortuárias, o que obrigou o governo a fechar o lugar por dez anos. Quando foi reaberto, as entradas foram limitadas a 60 pessoas por dia. Por isso, é fundamental garantir o ingresso com antecedência.As construções só sobreviveram porque passaram os últimos 5 mil anos enterradas - a maioria foi descoberta por acaso no último século. Expostas ao clima, começaram a definhar. Autoridades travam agora uma batalha para salvá-las. Hagar Qim e Mnajdra já foram cobertos com lona e estrutura metálica. A visão futurística tirou um pouco da grandiosidade dos templos e quase causou uma convulsão social em Malta, mas é o preço que se paga pela guerra desigual contra o vento, o sol e o mar.

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