PUBLICIDADE

Medo de voar de avião: como enfrentar

O problema tem até nome, aerofobia, e estima-se que atinja cerca de 40% dos passageiros no Brasil. Aprenda a manter a calma nas alturas e, se for o caso, a ajudar um eventual colega em pânico

Por Monica Nobrega
Atualização:
Lembre-se de que oturbilhão emocional está na sua cabeça; o perigo não existe de fato Foto: Nilton Fukuda/Estadão

No seu próximo voo, quando bater aquela ansiedade em forma de frio na barriga, falta de ar ou suor gelado, olhe ao redor. Por detrás das aparências tranquilas ou indiferentes, pode acreditar, tem muito medroso se fazendo de forte enquanto tenta lidar com a própria angústia.

PUBLICIDADE

Se quer um número ao qual se apegar, pode pensar que dois em cada cinco passageiros do transporte aéreo no Brasil têm medo de avião. É um indicador antigo, do Ibope, resultado de uma pesquisa feita em 2003 – o instituto de pesquisas não voltou ao assunto desde então –, mas bem aceito entre os estudiosos do problema, como a psicóloga e ex-comissária de bordo Rosana D’Orio Bohrer. Rosana saiu dos corredores das aeronaves para atuar no treinamento de equipes de comissários e, hoje, também trata viajantes vitimados pela chamada aerofobia, o medo de voar. Pelo seu divã, conta, já passaram mais de mil casos desde 1998.

Segundo a psicóloga, aviões são ambientes férteis para potencializar emoções extremas. “Dentro de uma aeronave, todo mundo está com o ânimo e as percepções alteradas”, afirma. “Seja pela empolgação de conhecer ou retornar a algum lugar, a tristeza de uma viagem emergencial por problemas familiares, o alívio da volta para casa, a expectativa de um reunião ou evento de trabalho. Dificilmente um passageiro está em seu pleno equilíbrio.”

Pessoas controladoras e centralizadoras têm bastante tendência a ter medo de avião porque sabem que, durante o voo, estarão totalmente nas mãos de outros, sem nada a fazer a não ser confiar. Não ter as rédeas da situação pode ser assustador. Mães são alvo fácil do medo, especialmente as de crianças pequenas viajando sem os filhos, que costumam ser tomadas pela sensação de que não podem faltar. O que seus filhos fariam sem elas por perto, por quem seriam cuidados, são perguntas íntimas recorrentes nessas situações.

Em casos extremos, em que a pessoa se sente impossibilitada de viajar de avião, a psicóloga recomenda procurar tratamento especializado. Segundo Rosana, o índice de sucesso, ou seja, de viajantes que voltam a voar ou conseguem se sentir melhor a bordo, chega a 88%. 

Mas, bem antes de chegar ao ponto de se sentir sem capacidade de voar, veja dicas para lidar com a aerofobia.

ANTES DE EMBARCAR

Publicidade

- Regra número um: evite ler sobre acidentes aéreos. “Medrosos têm a tendência de buscar notícias assim nos dias anteriores à sua viagem”, diz Rosana. “E nunca consideram os milhares de voos que são realizados com absoluto sucesso todos os dias.” Não leia, não pesquise, esqueça o Google.    - Combata a ansiedade prévia. “Um dos meus pacientes, ao tomar banho para ir ao aeroporto, jogou a toalha na cama, enxergou ali a imagem de um ‘M’ e me ligou para dizer que era de morte”, lembra a psicóloga. Tente manter a racionalidade. Alimentação leve contribui decisivamente.   - Se o voo for longo, fique bem cansado antes dele. Sabe aquele drinque com amigos eternamente adiado por falta de tempo? Aproveite a noite anterior ao voo, sem exagerar no álcool. Entrar no avião e cair no sono é o melhor dos mundos.    - Prepare sua playlist, a temporada da série que ainda não deu tempo de ver, um filme especial.   - Entretenimento é um santo remédio a bordo. Só não valem livros muito densos, tensos, noticiário preocupante, coisas que aceleram a atividade cerebral. Lembre-se de que você já está alterado pela situação. O objetivo é se divertir e, para isso, vale inclusive o tipo de besteirol que você costuma considerar uma perda de tempo. 

DURANTE O VOO

- Tenha ao alcance das mãos: chocolates, docinhos, palavras cruzadas, revistas, qualquer coisa que desvie a atenção, distraia e dê prazer (e seja lícita, claro).    - Mantenha o foco no objetivo da viagem, especialmente se ele for feliz: mentalize a chegada, as pessoas que vai encontrar, os lugares que verá.    - Tente entender o seu medo: como é ele, de onde vem? É de altura? De ficar no ambiente fechado? Da morte? Há muitos medos abrigados sob o guarda-chuva do medo de voar, e compreender ajuda a ir ao centro do problema para tentar amenizá-lo.    - Remédio para dormir, só sob recomendação médica.    - Rosana D’Orio Bohrer define o medo como um passarinho que vem fazer ninho. “Ele vem fazer o ninho na sua cabeça e você não pode deixar, tem de dar um tapa e espantá-lo dali.” Tente lembrar de que o perigo está na imaginação, não existe de fato.    - Contra tremedeira, suor frio e reações físicas em geral de um surto de medo dentro do avião, faça o eficiente relaxamento de Jacobson, assim: inspire fundo e prenda a respiração; leve os cotovelos para trás o máximo que conseguir, na tentativa de fazer com que se toquem nas costas (a posição alternativa é cruzar os braços e apertá-los junto ao corpo também com força); contraia todo o abdômen com força e conte 4 segundos; relaxe. Repita por quatro a cinco vezes; o exercício dissipa a adrenalina liberada no organismo pelo medo e ajuda a retomar o autocontrole.    - Nessas horas, a dor de barriga é uma aliada. Se ela aparecer, vá: a melhora na ansiedade é sentida imediatamente.    - Não tenha vergonha: se preciso, peça ajuda aos comissários, treinados para tais situações.

COMO AJUDAR ALGUÉM

- O medo de voar infantiliza. Assim, para ajudar alguém que demonstra medo no voo é preciso falar palavras claras, pausadas e firmes. “Afirme claramente que está tudo bem”, diz Rosana. Segundo ela, é preciso tirar a pessoa do seu turbilhão interior, fazê-la olhar para fora de si.    - Tapa na cara é coisa de ficção. Esqueça.    - Proponha uma atividade em conjunto com a pessoa, como um filme no laptop.    - Comemorem cada voo feito lembrando que o avião é um transporte eficiente e seguro. Desbravar o mundo é a recompensa a quem enfrenta o medo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.