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Na pele e no paladar, sinta a experiência da caçada às trufas

Por SAN MINIATO
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Dia desses ofereceram ao empresário Luciano Savini, de 57 anos, 10 mil euros - algo em torno de R$ 26 mil - por seu cãozinho Giotto. Sem pelo reluzente e nem a menor pinta de campeão, mas com a simpática cara comum aos miscigenados vira-latas (neste caso, com a raça lagotto romagnolo), não demora muito tempo para descobrir por que este cachorro branquinho, de pernas miúdas e focinho avantajado, vale tanto. Num bosque com trilhas apertadas na área de Valdera, nos arredores da cidade de San Miniato, Giotto entra em ação para farejar debaixo da terra o mais precioso dos fungos: a trufa ou tartufo. Estamos em uma das poucas regiões do mundo em que é possível encontrar tanto a trufa negra quanto a branca - que pode custar até 3 mil euros (quase R$ 8 mil) o quilo. Acompanhar essa busca é bem emocionante. Uma espécie de caça ao tesouro com reais chances de encontrar um valioso baú - no caso, fungos arredondados de aroma forte e tamanho que pode variar de um bombom até uma bola de futebol de salão. Em 2010, Savini - um dos principais tartufaios da Toscana - entrou para o Guiness Book, o livro dos recordes, após um de seus seis cães encontrar uma trufa branca de 1,497 quilos, a maior já registrada na história. A iguaria foi arrematada num leilão na China por - sim, pagaram isso - 300 mil euros (cerca de R$ 800 mil), valor de um bom apartamento em São Paulo. De setembro a novembro, quando ainda há algum calor misturado à umidade das chuvas outonais, é a melhor época para as trufas se formarem. As primeiras horas da manhã, quando há pouco vento, são o momento ideal para o cão farejar. E para você não sofrer com os mosquitos, calça jeans e muito repelente. Reservas podem ser feitas no site savinitartufi.it.'Pazienza'. Quando Giotto se coloca diante de uma raiz mais acentuada e começa a cavar, todos observam com expectativa. Ele não late. Savini e Luigi, seu fiel escudeiro, o incentivam e ajudam a destrinchar a terra revirada com bastões com ponta de ferro. Se não acha nada, não ganha biscoitinho. Todos ficam com dó, mas... pazienza, caro Giotto. A ótima relação entre um cão e o tartufaio - são 600 autorizados na Toscana - é fundamental para o sucesso. O treinamento dura de 2 a 6 meses e poucos animais comprovam dom para a coisa. Nos primórdios, Savini enterrava uma pequena cápsula de plástico com trufa e o recompensava com petiscos caninos. Porém, vez ou outra, Giotto acaba comendo algumas trufas menores. Pazienza, Savini... Quando o cão cava um buraco e se constata que não há nada ali, os caçadores tratam logo de tapá-lo. Primeiro, para que aquela raiz tenha a chance de produzir trufas, mas também para manter em segredo os cantinhos que sabem ser especiais. Como estamos falando de fortunas subterrâneas, cada tartufaio tem seus truques. Infelizmente, fizemos o tour no fim da tarde de um dia bem ventoso, o que reduziu bastante nossas chances de encontrar o tal tesouro. Não teve Biscroc que fizesse Giotto achar as cobiçadas trufas. Pazienza, turistas... Ao final do passeio de três horas, contudo, uma degustação de patês, azeites e manteigas trufadas compensa cada picada de mosquito e os 70 euros (R$ 183) investidos. E deixa claro porque focinhos como o de Giotto valem tanto. / FELIPE MORTARA

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