Entre safáris e noites estreladas, Namíbia mostra que há muita vida no deserto

Independente há apenas 25 anos, o país incluiu a conservação do meio ambiente em sua constituição. Descubra o que fazer no destino africano

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Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualização:
Em Sossusvlei, o mar de dunas Foto: Deniel Nunes Gonçalves|Estadão

“Lugar onde não existe nada.” Quem observa pela janela do avião a vastidão inabitada da Namíbia logo entende esse curioso significado do nome do país na língua dos nama, uma das 13 etnias locais. Parece que lá embaixo tem apenas deserto. O nada-sem-fim só é interrompido quando o avião se aproxima da pequena capital Windhoek, destino do voo da South African Airways vindo da cidade sul-africana de Johannesburgo – rota mais direta para quem viaja do Brasil.

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Naquele centro urbano quase sem prédios vivem 340 mil dos poucos 2,3 milhões de habitantes dessa nação que se renova: este ano, celebra-se 25 anos de independência da Namíbia, que desde março é liderada por seu terceiro presidente, Hage Geingob.

Basta pousar e caminhar por Windhoek para se surpreender com uma peculiaridade namibiana. Tanto as ruas como a população, 90% negra, adotam nomes alemães: Fritz, Wolfgang, Frida. A arquitetura germânica salta aos olhos e, nas igrejas, nota-se a dominância do cristianismo luterano. Embora o português Diogo Cão tenha chegado à região em 1484, ele desprezou aquela sucessão de desertos pouco atraente.

Assim, o lugar preservou-se de invasores por 400 anos. Até que a Alemanha chegou para colonizar a então África do Sudoeste, em 1884, ficando até 1915, quando saiu em plena Primeira Guerra Mundial. Não por acaso, os alemães são os visitantes mais comuns hoje – e a cerveja da Namíbia tenha qualidade e fama comparável à dos colonizadores.

Cicatrizes. A colonização europeia, como se sabe, foi bem violenta em países da África e da América. Na Namíbia, em especial, a ocupação alemã deixou feridas dolorosas. Ali aconteceu aquele que é considerado o primeiro genocídio do século 20, entre 1904 e 1908, quando o mundo ainda nem sonhava com os terrores de Adolf Hitler.

Há documentos comprovando que o general alemão Lothar Von Trotha ordenou o extermínio de todos os herero que se recusassem a deixar o país. A Alemanha nunca admitiu a tragédia oficialmente. Mas o impacto nas duas etnias foi devastador: restaram apenas 15 mil herero (dos 85 mil existentes na época) e 10 mil nama (dos 20 mil que teriam se rebelado no conflito). Parte desse episódio pouco difundido mundo afora pode ser conhecido no Independence Memorial Museum, inaugurado em 2014 na capital (Avenida Robert Mugabe, s/n.º).

Igualmente traumática é a outra mancha na história recente da Namíbia. A África do Sul, que tinha invadido o país durante a 1.ª Guerra Mundial, instaurou em 1948 o mesmo regime racista do apartheid que segregava brancos e negros – o que fez com que até hoje exista uma minoria branca no topo da cadeia socioeconômica do país. O apartheid namibiano só caiu em 1990. Foi quando, depois de quase um século de sofrimento, a Namíbia conquistou a sua independência. Mas com uma vantagem: nesses 25 anos, ela não sucumbiu mais a grandes conflitos, como aconteceu com vários países da região após se tornarem livres.

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Além do safári. Pelo contrário. Rica em minérios como diamante e urânio e habitada por tribos de cultura preservada, a Namíbia incluiu a conservação de seus recursos naturais na constituição e descobriu no turismo uma fonte econômica importante. “É um país único, que se diferencia de outras nações africanas por proporcionar muito mais que safáris fantásticos”, define Danilo Rondinelli, proprietário da operadora TerraMundi, que há seis anos leva brasileiros para lá.

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