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Nos domínios do galo negro, vinho e história

Por CHIANTI
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"Mona Lisa morou naquela casa rosa", aponta o guia. A frase faz tirar os olhos dos parreirais. Imaginar que uma figura tão conhecida viveu logo ali, em meio às montanhas há séculos tomadas por ciprestes, olivais e vinhedos, deixa ainda mais bonita a paisagem com estradas de muitas curvas. Estamos em Chianti, uma região na Toscana de muitas vinícolas, vilas renascentistas, castelos e casas de agroturismo. Uma união de cenário histórico, passado intrigante e passeio romântico.O território de Chianti é dividido entre as províncias de Florença e Siena. Conta a lenda que as rivais decidiram estabelecer os limites geográficos com uma disputa: assim que o galo cantasse, um cavaleiro sairia de cada uma e, no ponto de encontro, seria marcada a fronteira. Siena escolheu um belo galo branco, bem nutrido. Florença elegeu um galo negro, faminto e magro. Acontece que o negro, alucinado de fome, começou a cantar ainda à noite - e o cavaleiro partiu. O branco acordou na hora certa, mas muito depois do rival. Os cavaleiros se encontraram a apenas 12 quilômetros de Siena e ali foi feita a divisa. Por isso, o vinho é representado por um galo negro. Antes de mais nada, esqueça o preconceito contra o Chianti, vinho popular nas cantinas, que vem em garrafa de fundo redondo com palha e é associado a bebida barata. As boas vinícolas da região não têm esse produto. Pelo contrário. Elas vêm lutando pela sofisticação daquele que é considerado o vinho mais tradicional da Itália, uma vez que foi a primeira região de vinho demarcada no país, em 1716 - um Chianti deve ter pelo menos 75% de uvas sangiovese e 80% se for um Chianti Clássico. É nessa área que fica o Museu del Vino (na comuna de Greve in Chianti) e que mora e trabalha Gino Rosi, um italiano eloquente que dá boas-vindas a quem chega ao Castello Verrazzano (visitas guiadas a partir de 10, verrazzano.com), da família Cappellini. "Felicidade, amizade e desfrute" estão nas palavras deste sujeito divertido. Ele conduz o tour pelo castelo que já tinha vinhedos em 1170 e pertenceu à família do navegador Giovanni da Verrazzano (1485- 1528). Nos 220 hectares da propriedade são produzidos azeite de oliva, aceto balsâmico, geleia, grapa, Chianti Clássico e Vin Santo, um vinho de sobremesa perfeito para amolecer o cantucci, um biscoito seco e duro feito com amêndoas.Quando a fome aperta, o tour chega ao restaurante. É na simplicidade que o sabor sobressai. O pão com azeite grelhado na churrasqueira e o inacreditavelmente bom pão com lardo (a gordura embaixo da pele do porco) são entradas que ficarão na lembrança. Bem como o barulho do fogo estalando e dos copos brindando. /A.C.

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