Nostálgica, trova cubana mescla violão e poesia

Gênero é expressão da tradição cancioneira do país e canta a tristeza e o sofrimento em músicas que falam de amor e das agruras dos nativos que deixaram a ilha

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Por Shannon Sims
Atualização:
Em Santa Clara, entramos atrova, a mais pura forma da tradição cancioneira cubana Foto: Todd Heisler/The new York Time

Quando Yaíma Orozco subiu no palco, no salão central do El Mejunje, em Santa Clara,  umas 20 pessoas numa arquibancada fumavam tanto que a fumaça se transformou numa capa de nuvem. Atrás de Orozco, o baterista e o baixista se acomodaram, mas todos os olhos estavam concentrados nela e seu vestido vermelho brilhante.

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Se a rumba tem a ver com superação dos tempos difíceis, a trova explora a tristeza e o sofrimento. A trova é também a mais pura forma da tradição cancioneira cubana. É uma música despojada, intensamente passional e nostálgica, que se torna comovente com harmonias que poderiam ser descritas como um cruzamento do fado português e os lados-B de músicas de Lennon e McCartney.

Sobre o som tirado das cordas do violão e o alvoroço da plateia no saguão, ela levanta o queixo e canta: “Eu quero estar à sombra de uma amendoeira em flor, na água da sua cachoeira”, ela canta antes de mergulhar num solo de guitarra.

Por toda Cuba, muitos músicos profissionais são homens e isso vale também para a trova. Orozco, 38 anos, é uma exceção. Ela descreveu sua entrada no campo como quase involuntária. “Fui atingida por um tiro no coração quando ouvi este tipo de música”, disse ela. Para ela a trova é uma “narrativa” que pode ser pessoal ou pontual: as músicas falam de amor da vida e também do drama de cubanos que deixam a ilha. Embora as músicas se baseiem em ritmos como o cha cha cha ou a bossa nova, no final “têm a ver sempre com uma pessoa, uma guitarra e uma história”, disse ela. E há uma estreita relação entre a trova e a poesia, com letras densas e jogos de palavras muito similares aos versos de Bob Dylan ou Leonard Cohen.

Orozco faz parte de um coletivo chamado La Trovontivitis (descrito às vezes na imprensa como movimento) que serve de vitrine e workshop dos melhores artistas de trova do país, incluindo trovadores como Roly Berrio e Migue de la Rosa, que passam a maior parte do tempo longe de Santa Clara, mas quanto retornam se apresentam às quintas-feiras no El Menjunje.

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