MAUN - Dumelang é a expressão africana para desejar a alguém um dia bom. Mas a palavra não pode ser apenas jogada no ar, como quem diz “oi” sem olhar nos olhos. Chega a nossos ouvidos – e, inexplicavelmente, à nossa alma – por meio de um canto afinado, seguido de um grito fino e feminino de celebração.
Foram incontáveis as vezes que ouvi a palavra durante os dez dias em que viajei pelo norte de Botsuana, país no sul da África que, além das línguas oficiais setsuano e inglês (fruto da colonização inglesa até 1966), ainda mantêm no repertório a comunicação tribal.
A linguagem, assim como cada detalhe da cultura e dos costumes, estão atrelados ao que o país tem de mais atrativo turisticamente: sua natureza. Compreender o que significava “um dia bom” exigiu, obrigatoriamente, o desprendimento de algumas certezas – como, aliás, quase tudo nesse destino de luxo selvagem.
Esqueça a ostentação. No meio da savana, raramente haverá Wi-Fi e TV. O despertador é um grito dado pelo guia na porta das grandes tendas que servem como quartos, e, em certos momentos, você terá de esquecer que energia elétrica já existe. A recompensa vem nos diversos tipos de safáris (a pé, de barco ou de carro, o chamado game drive): os bichos. Os mais cobiçados são os big five – leão, rinoceronte, búfalo, elefante e leopardo –, e tentar calibrar o olhar para buscá-los entre os campos dá uma emoção extra à aventura.
O que oferecem os lodges e camps, hospedagens que recebem turistas em áreas de parques nacionais ou em reservas privadas, cujas concessões são feitas em troca da preservação do local por até 15 anos, está ligado a um conceito próximo ao que Ralph Bousfield, dono de um camp no deserto do Kalahari, define como “luxo ao contrário”. A proposta, segundo ele, é garantir uma vivência pela qual quem sempre teve de tudo nas metrópoles nunca passou. Tudo, claro, com serviço classe A e preço idem.
Panoramas. Nosso roteiro cruzou diferentes hábitats entre Kasane e Maun: da água em abundância no Delta do Okavango à aridez do Deserto do Kalahari. Entre esses panoramas tão distintos, lembrei do divertido Madagascar. Na animação, Marty, a zebra insatisfeita, tinha mesmo motivos para querer fugir do zoológico de Nova York. A vida na selva, afinal, é muito mais emocionante. E assume contrastes que nós, mulheres e homens dos grandes centros urbanos, não aprendemos mais a enxergar, muito menos a entender, como disse o biólogo e escritor moçambicano Mia Couto.
Percorrendo o país, foi possível notar em cada botsuano um quê de alegria e esperança que muito se assemelha ao brasileiro – caso de Dawson Ramsden e Thandi Tsheko, representantes do órgão de turismo e do governo do país, respectivamente, e nossos companheiros ao longo da viagem.
*A repórter viajou a convite do Botswana Tourism Office e do governo de Botsuana.