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O homem mais viajado do mundo

O mapa, a vida pendurada na parede

miles@estadao.com

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Por Mr. Miles
Atualização:
Mapa desenhado por Frederico Freudheim descrevendo a viagem de Berlim ao Brasil em 1937 Foto: Reprodução

Nosso intrépido viajante recebeu farta correspondência sobre sua última publicação, relacionada aos atentados de Paris. O número de pessoas que deram suas opiniões e manifestaram revolta ou emoção foi um claro indicador de que poucos ficaram indiferentes ao que está ocorrendo no planeta.

“It was shame, however

, perceber quanta gente fez comentários repletos de estupidez, lamentando que o mundo não chora de forma igualitária por povos distintos, seres que inoculam o veneno da cizânia até mesmo na dor. Houve até,

as always

, um anônimo no Facebook que me jurou o mesmo destino de outros incréus.” Ora vejam se é possível...

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A seguir, a pergunta da semana: 

Caro Mr. Miles: tenho vários mapas em casa; acho que sou mesmo um colecionador. O senhor também gosta de atlas ou mapas-múndi?Sinésio Abranches, por e-mail

Well, my friend

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: eu também gosto muito de cartografia. Observar o mundo reduzido a um pedaço de papel, seja grande ou pequeno, é um prazer que me acompanha desde pequeno. Esse hábito,

I guess

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, foi muito relevante para moldar minha vida de viajante. Do pequeno e sempre chuvoso condado de Essex aprendi a ver o planisfério e sempre alimentei o desejo de conhecê-lo em suas fronteiras mais distantes. 

Minha querida tia Gwineth, que ainda mora em Leicester, possuía um antigo mapa da National Geographic Society pendurado em sua sala. Era,

indeed

, o destaque do pequeno ambiente, porque tinha medidas colossais. Ainda garoto, lembro-me de subir em uma pequena escada de cozinha para ler nomes mágicos como Katmandu, Zanzibar, Bombaim, Mandalay e Timbuctu,

for instance

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. Eram palavras que,

believe me

, transportavam-me para histórias longínquas, com seres vestindo trajes antigos, falando dialetos remotos e enfunando velas encardidas nos mais diversos tipos de embarcação. Eu chegava a sentir aromas que nunca respirei e a ver mulheres imaginárias pelas quais nutri amores platônicos.

Via as cores nos mapas e supunha que os países pintados em verde eram cobertos de florestas, que os vermelhos ardiam em chamas, os azuis serviam como imensas piscinas e os amarelos tinham poeira por toda a parte – com ouro aqui e acolá.

Só mais tarde,

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my friend

, vim a entender que aqueles eram mapas políticos e registravam fronteiras semoventes; que aqueles traços envolviam nacionalidades, religiões, ideologias – e toda essa

foolery

que ainda hoje desgraça nosso planeta. Foi assim,

by the way

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, que aprendi a me encantar com cartas geográficas e geomorfológicas. A ver rios, cordilheiras, desertos e áreas congeladas. A descobrir, por fim, que nem todos os países são parecidos e que,

therefore

, é nosso direito explorar lugares diferentes como se fossem nossos – sob a pena de passar a vida sem conhecer os sofás da própria sala.

Don’t you agree

, Sinésio? 

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Aprendi, mais tarde, a ver as deformidades oriundas da projeção de Mercator, que fazem, por exemplo, a Groenlândia parecer tão grande quanto a América do Sul, embora ela seja, de fato, oito vezes menor.

In other words

: foram os mapas que me ensinaram também que nem tudo é o que parece e por isso é preciso viajar muito – para ter a real dimensão das coisas –, e sem ideias preconcebidas das culturas, dos hábitos e do modo de ser das pessoas.

Os mapas, enfim, servem para muito mais do que apenas ver onde estamos e para onde queremos ir: eles são a vida pendurada em paredes ou nas páginas dos livros. Só não deviam servir para que neles sejam postos alfinetes, uma prática de pessoas que,

in fact

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, nunca viajam, mas apenas colecionam destinos. 

 

MR. MILES É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO.ELE ESTEVE EM 312 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS.

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