O renascer dos piratas

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Por Redação
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Não foram poucos os leitores que escreveram ao nosso incansável viajante sobre a Somália e a questão dos novos piratas. Como sempre, mr. Miles não se recusou a abordar o tema, até mesmo porque, segundo suas palavras, "tenho um fraco pelas águas incomensuravelmente cristalinas do nordeste da África, cuja beleza literalmente cega os líderes locais, em vez de render-lhes prosperidade". A seguir, a pergunta da semana: Prezado mr. Miles: o que o senhor tem a dizer sobre o renascimento do fenômeno dos piratas na costa da Somália? Isn?t it amazing, como o senhor mesmo diz? Marco Aurélio Silviani Pascolle "Well, my friend: suponho que você esteja usando amazing com a ironia de quem viu e leu romances de corsários divertidos e bucaneiros corajosos. Na ponta de uma metralhadora, I presume, o termo terrifying seria mais apropriado, isn?t it? In fact, Mark, a pirataria é tão antiga quanto o transporte de valores pelo mar. Sempre foi tão sanguinolenta quanto rentável. O cinema gosta de construir histórias sobre piratas corteses e justiceiros que, most of the times, estão recuperando valores tomados por nações imperiais de suas pobres colônias. A temática é absolutamente verdadeira, exceto, of course, pela índole dos bucaneiros. Quem quer que estivesse no comando de um navio com a famosa bandeira Jolly Roger hasteada (N. da R.: a mais célebre das flâmulas piratas, com um crânio e duas espadas cruzadas sobre fundo preto) era um assassino. Mesmo que ostentasse o título de sir, como meu conterrâneo Francis Drake, que foi um corsário, na verdade, um pirata oficial apoiado pelo governo. Nos últimos anos, as you know, as pessoas passaram a usar o termo pirataria para atividades que têm mais a ver com falsificação. A meu ver, fellow, tiraram a crueldade do termo. Ou você acha que um tênis clonado tem o mesmo charme de um homem degolado? Quanto ao fulcro da questão, my friend, temo que estejamos diante da velha mistura entre necessidade e oportunidade. Conheço Bosaso, a cidade-sede dos piratas somalis, desde quando ela se chamava Bender Qassim e era um porto pobre, mas decente, na costa de um país cercado pelo mar de um lado e pela fome de todos os outros. À época - hospedei-me no Hotel Juba, if I remember -, a pesca fazia frente às necessidade alimentícias dos 50 mil moradores. Hoje, segundo leio, as guerras internas multiplicaram por dez a população local. That?s terrible, isn?t it? Acontece que a geografia obriga todos os navios vindos do Canal de Suez e do Mar Vermelho a passarem pelo Golfo de Aden, bem em frente aos famintos somalis. E se já não há mais transporte de ouro e pedras preciosas, não é difícil imaginar um bando de piratas famintos seqüestrando navios em troca de dinheiro. Meu velho amigo Mahmud Abdul Muse diz que, pela primeira vez em anos, a Somália mostra sinais de prosperidade. ?Finalmente descobrimos o que fazer de nossa economia, Miles: vamos ser todos piratas. Yo, ho, ho, uma garrafa de rum?, exagerou ele, que é muçulmano e não bebe, of course." * Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Ele já esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos. É colunista e conselheiro editorial da revista ?Próxima Viagem?

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