Oriente e Ocidente num só lugar

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Por ISTAMBUL
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Moderna, ancestral, caótica, vibrante, colorida, apressada, perfumada. A lista de sensações e adjetivos para uma cidade com 2.678 anos pode não ter fim. Ela já foi Bizâncio, Nova Roma, Constantinopla. Hoje é Istambul, com mais de 13 milhões de habitantes. Toda hora, alguém vai lembrá-lo que ela é a única cidade que fica em dois continentes. Algo que, em algum momento, se torna cansativo. Mas ao cruzar o Estreito de Bósforo - que separa o lado europeu (na Rumélia) do asiático (na península da Anatólia) - você vai entender que está, de fato, em um lugar único.Capital do Império Romano do Oriente (395 a 1453) e, mais tarde, do Império Otomano (até 1923), a cidade guarda séculos de história. Uma boa maneira de começar a desbravá-la é ir direto ao principal: a área de Sultanahmet, que concentra os grandes cartões-postais da cidade.Antes de virar praça, a mando do sultão Ahmed I (1590-1617), a região abrigava o centro esportivo e social de Constantinopla, o hipódromo. Assim como a praça, a mesquita recebeu o nome do sultão. Mas acabou ficando conhecida como Mesquita Azul, em razão da cor dos azulejos que revestem parte da edificação. Nos horários da reza (são cinco por dia), quando o chamado do muezim ecoa nas mais de 3 mil mesquitas de Istambul, ela fica fechada para os turistas. Fora isso, todos são bem-vindos - é preciso tirar os sapatos e, as mulheres, cobrirem os cabelos. Se por fora ela já se impõe, por dentro é de tirar o fôlego. Mas também de tapar as narinas: o cheiro de mofo dos tapetes que a revestem está lá. Um mero detalhe, que nem de longe tira o brilho do lugar. Vistas do Bósforo, as silhuetas da Mesquita Azul e da Basílica de Santa Sofia formam uma imagem clássica. Até o século 15, Hagia Sofia era considerada a maior igreja do mundo, quando os otomanos, que tomaram a região em 1453, a transformaram em mesquita. Em 1935, virou museu.O Palácio Topkapi (topkapisarayi.gov.tr) completa o trio de atrações fundamentais em Istambul. Não espere uma única construção com infindável número de aposentos, como nos castelos europeus. De origem oriental, é composto por vários prédios de baixa estatura - durante séculos, foi sede do poder otomano e residência de sultões. O Harém é um dos edifícios mais curiosos do Topkapi. Ali, é possível entender como funcionava a administração e o dia a dia das centenas de mulheres do sultão. Detalhe: quem administrava tudo era a mãe dele (valide sultan). As moças eram divididas em uma espécie de casta: quem tinha o primeiro filho ocupava o posto mais nobre. Um grupo de quatro a sete mulheres que engravidavam em seguida ocupava uma categoria abaixo, e assim por diante. É preciso pagar um ingresso adicional para ver as salas onde estão expostos joias, peças decoradas e outros itens de luxo. Arte de economizar. Chegou a hora de você treinar sua capacidade de baixar preços. Onde? No mais antigo shopping center do mundo. Fundado no século 15, o Grande Bazar é um mercado gigantesco, com 4 mil lojas. As mulheres enlouquecem, tamanha a variedade de joias, pashminas, tapetes, doces e toda a sorte de badulaques, como jogos de chá, pratos decorados e até bolsas finamente falsificadas. Uma boa estratégia no bazar, em geral, é perguntar o valor do produto e continuar andando. O comerciante vai chamá-lo - pode até correr atrás de você -, perguntando quanto você quer pagar pelo produto. Começa a ali a arte de pechinchar. Mas até para os turcos ela tem limites. Alguns se sentem ofendidos se você pedir um desconto depois de certa etapa da negociação. "Thank you for your decency (obrigado pela sua decência)" pode ser a resposta, indicando que será necessário respeitar o acordo.Para aliviar o cansaço das compras, é hora de comer. Cosmopolita, Istambul oferece de fast-foods famosos a elegantes bistrôs franceses. No entanto, uma das opções mais interessantes e típicas são as mezzés. Restaurantes oferecem essa sucessão de pratos turcos em pequenas porções que incluem saladas - prepare-se para muitos tomates e tipos de azeitonas que você nunca ouviu falar - pastas e carnes, especialmente a de cordeiro. Doces de pistache encerram o deleite gastronômico.Daí em diante, a noite não tem hora para acabar. A exemplo de Nova York e São Paulo, Istambul tem diversão até altas horas, mesmo numa segunda-feira. Seja na área do Taksim, com clubes e bares onde os mais animados dançam até em cima das mesas, seja em espaços refinados como o clube 360 (360istanbul.com), com vista panorâmica da cidade. Aliás, ele ganhará, assim como o Grande Bazar, uma réplica em Salve Jorge.Há ainda o La Reina (reina.com.tr). Sofisticado, tem como cenário a deslumbrante ponte que liga os dois lados do Bósforo. Ali, você está no finalzinho da parte europeia, olhando para a Ásia. O lugar, no entanto, é feito para turistas e para pessoas que querem ver e ser vistas. Não espere uma trilha sonora à altura da paisagem. Michel Teló e Gusttavo Lima estão na programação musical.Não será o único momento em que você ouvirá português no país. Em certas lojas e estabelecimentos comerciais, os locais podem largar o inglês e arriscar algumas palavras na língua de Camões. É a Turquia internacionalizando-se. / MARCIO CLAESEN

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