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O homem mais viajado do mundo

Os inimigos somos nós

miles@estadao.com

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Por Mr. Miles
Atualização:
'Para derrotar o terrorismo,não se aterrorize, disse-meo escritor Salman Rushdie' Foto: Arte/Estadão

Nosso solerte viajante tinha escrito uma outra coluna para seu espaço semanal neste caderno. Mais uma vez, porém, foi ultrapassado pelos fatos. Sua crônica não está perdida – será publicada na próxima semana. Agora, porém, os leitores têm dúvidas como a que segue. Mr. Miles: como é que podemos seguir viajando em meio a episódios como os deste ano e do ano passado? Estive recentemente em Nice e poderia ter sido uma das vítimas. Contra quem esses bandidos estão brigando?  Marcelo Marcinsky, por e-mail “Well, my friend: não é o imperialismo; não são as políticas internacionais; não é a França, a Turquia, não são os Estados Unidos; não é Israel ou a Santa Sé. Não são os deuses, as crenças ou as ideias; não é o bem ou o mal, o certo ou o errado. In fact, os verdadeiros inimigos dos terroristas somos nós, os viajantes. Nós, que transitamos com nossas malas, mochilas e livros pelo mundo que nos pertence, olhando para cima ou para baixo, sem preocupação, intimoratos. Nós, que queremos ir daqui para lá. Nós, que temos a volúpia de conhecer e conviver. Nós que, ao entender o planeta em que vivemos, teremos a possibilidade de salvá-lo, sooner or later. Nós, que estamos abertos a ouvir, aspirar e provar; que não falamos em empoderamento, porque só queremos o poder de ver e refletir. Sobre eles, os que atacam, não importa o que defendem, se são justas ou injustas suas causas, sagradas ou pagãs suas demandas. Eles só querem o que logram: nos aterrorizar. Fazer com que fiquemos em casa e não recebamos ninguém. Fazer com que, oprimidos pelo medo, não pensemos mais em ir para Nice, Paris, Istambul, Damasco ou wherever.  Aprendi com o general Montgomery, nosso querido Monty, meu comandante na batalha de El Alamein, que o medo é pior do que a morte. ‘A disciplina fortalece a mente, que se torna impermeável à influência corrosiva do medo’, disse-me ele, certa vez. Ganhamos a batalha e a guerra, by the way. Se os inimigos somos nós, os viajantes, então temos de nos disciplinar para vencê-los. Viajantes do mundo todo, uni-vos. Eu mesmo estava na última sexta-feira, um dia depois do triste ocorrido, caminhando pela Promenade des Anglais (N. da R.: Passeio dos Ingleses, a via onde ocorreu o ataque em Nice).  Fazia sol. Fiz questão de ir porque, como o nome sugere, o lugar é nosso, de nossos compatriotas britânicos. A Promenade estava vazia, I’m sorry to say. Os dois célebres seios de metal que enfeitam o telhado do hotel Ritz Carlton pareciam tristemente abandonados. A alegria estival dessas praias um dia frequentadas por reis e imperadores da Europa estava obnubilada. Mas estava lá e convido-os a ir. Sempre. Em qualquer lugar aonde ajam essas pessoas. Ontem pela noite conversei com Salman (N. da R.: Salman Rushdie, escritor iraniano radicado na Grã-Bretanha). E ele me disse as palavras que gostaria de repetir ao mundo: ‘How do you defeat terrorism? Don’t be terrorized’ (‘Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorize’).  Só a nossa coragem tornará inúteis essas demonstrações de covardia. Don’t you agree?” MR. MILES É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS.