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Passo a passo, um mochilão por 4 países da América do Sul

Com pouco dinheiro no bolso, espírito aventureiro e muita informação prévia, a repórter do 'Viagem' embarcou em uma jornada de 24 dias pelo continente

Por Wanise Martinez - O Estado de S. Paulo
Atualização:

 SANTA CRUZ DE LA SIERRA - Se você já colocou a mochila nas costas e saiu pelo mundo com roteiro não tão rígido, sabe. Se ainda não fez isso, eu conto: não existe viagem difícil. Nem fácil. Tudo depende da forma como você lida com as surpresas do caminho, sejam elas o inesquecível entusiasmo de uma boa descoberta ou a frustração de uma inevitável dificuldade.

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Minha jornada mochileira teve como cenários quatro países da América do Sul, na companhia de duas amigas. Um roteiro circular que começou na Bolívia, seguiu para o Peru, o Chile e terminou na Argentina. No total, 12 cidades a serem vistas em 24 dias, com pouco dinheiro no bolso e o necessário espírito aventureiro, que foi devidamente testado - mas essa história eu conto daqui a pouco. Um roteiro que pretendia ser histórico e antropológico, com um gostoso sabor de aventura sem rumo.

Na bagagem, dez quilos de roupas, calçados confortáveis e itens indispensáveis de higiene pessoal. Isto mais a carteira internacional de vacinação contra febre amarela e muita informação prévia sobre os países.

 Empolgada para conhecer lugares e povos que há tanto me impressionavam, comecei a viagem como boa mochileira que se preze: dormindo no Aeroporto Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra, logo após o desembarque, durante a madrugada (os bancos do segundo andar são mais macios).

As roupas de trilha, das quais precisaríamos mais à frente, foram compradas em La Paz, onde custam menos que no Brasil. Na capital boliviana fui apresentada ao soroche, o mal de altitude, e ao chá de coca que o combate (e que, ao contrário do que muitos pensam, não provoca nenhum tipo de alteração de consciência).

Oficiais de imigração dispostos a atrasar a sua vida fazem parte da experiência mochileira - para evitar problemas, guarde todos os comprovantes de entrada e saída nos países e tenha muita paciência. Principalmente no caso das mulheres desacompanhadas de homens, que podem ser alvo de comentários e gracinhas.

Longos percursos de ônibus também estão no roteiro, já que as passagens por terra saem mais em conta que os voos, quando estes existem. Quem tem disposição extra pode viajar durante a noite para economizar diárias de albergue. Tática que só funciona se você tiver certeza de que não perderá o pique no dia seguinte.

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Teste. Foi na chegada à rodoviária de Arequipa, no Peru, que meu jogo de cintura foi testado. Uma pequena distração das amigas que ficaram cuidando da bagagem enquanto fui pedir informações e lá se foi uma sacola onde estavam roupas e lembrancinhas para a família.

Constatado o furto, tive um ataque de choro, claro. Mas decidi ir adiante, já que os itens mais importantes, passaporte, dinheiro e máquina fotográfica, estavam comigo. Mas com alterações no roteiro: o Atacama teve de ser deixado para uma próxima oportunidade.

Apesar do episódio desagradável, a viagem foi marcada pela solidariedade de outros viajantes e de moradores que conhecemos pelo caminho. Como as bolivianas de Sucre Willma e Claudia, que pagaram nossa travessia pelo Lago Titicaca porque não havia por perto um caixa eletrônico onde pudéssemos sacar o dinheiro. Ou as peruanas Mercedes e Bertha, que praticamente nos adotaram em Arica e nos ajudaram a encontrar hospedagem.

Pelas cidades visitadas e seus arredores, vimos praias, dunas, vinhedos, montanhas, monumentos e museus, aproveitamos a vida noturna, compramos uma ou outra coisinha. Depois da última parada, em Buenos Aires, era hora de voltar. Algo difícil quando se vive tão intensamente durante três semanas. A mochila estava um pouco mais pesada e a cabeça, cheia de ideias e histórias para contar. A bagagem mais valiosa que pode existir. As roupas perdidas? Espero que aqueçam quem precisa delas. 

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