Pedaço de Saigon

Ho Chi Minh não para nem quando escurece. Seu ritmo se contrapõe, porém, ao clima de paz no delta do Mekong. Das memórias de guerra à beleza de sua tradição milenar, o sul do Vietnã mostra suas peculiaridades

PUBLICIDADE

Por Texto: Bruna Toni e Fotos: Daniel Teixeira
Atualização:
Moradores e turistas usambarcos como transporte no delta do Mekong, Vietnã Foto: Daniel Teixeira/Estadão

HO CHI MINH - Na margem do Rio Saigon está uma cidade que não quer parar, mesmo quando cai a noite – quente e seca em razão da época do ano, entre fevereiro e abril. Da embarcação turística, atrativo para interessados em provar comidas típicas ao som de música folclórica, o cenário da movimentada Ho Chi Minh, no sul do Vietnã, é colorido e tipicamente urbano: prédios se intercalam em tamanho e ganham destaque por seus letreiros luminosos que estampam marcas do mundo todo. 

PUBLICIDADE

Nas ruas, as buzinas não param e são elas que fazem as regras num trânsito caótico aos olhos ocidentais. O barulho vem, principalmente, das cerca de 6 milhões de motos tipo Vespa que invadem as ruas levando, para cima e para baixo, famílias inteiras. Por isso, não se espante ao olhar para o lado e se deparar com um bebê em um dos braços do motorista ou com um cachorro “surfando” no piso da pequena motocicleta – as mais clássicas prendem a atenção dos amantes automotivos.

Na maior e mais populosa cidade do país – estimam-se 12 milhões de habitantes, número que deve passar dos 20 milhões até 2050 – há comércio e negociatas por todos os cantos. Lojas de departamento, mercadinhos, restaurantes, cafés e incontáveis ambulantes não deixam o coração financeiro do Vietnã atrás de nenhuma outra metrópole. Mas há muitas coisas que escapam – e você perceberá isso logo na primeira caminhada – ao nosso mundo globalizado. 

A cultura milenar ainda preserva muitos traços da influência chinesa e dos anos da colonização francesa durante o século 19, traduzidos em arquitetura, língua, religião e costumes cotidianos.

No meio do buzinaço de uma manhã de sábado no centro da cidade, por exemplo, um casal consagra seu amor na Catedral de Saigon Notre-Dame – sim, uma réplica da famosa parisiense –, construída em 1863 pelos próprios franceses. A noiva, vietnamita, num traje vermelho bordado; o noivo, francês, numa espécie de túnica azul. Ambos posam para os intermináveis pedidos de fotos dos curiosos turistas. Estão tão felizes quanto o Buda gigante exposto em uma pagoda nada convencional a uma hora e meia dali, na região do delta do Rio Mekong. O templo Vinh Trang, em My Tho, é assim: por fora, contornos de uma arquitetura tipicamente francesa e detalhes inspirados na cultura do vizinho Camboja; por dentro, inspiração romana; nas paredes, ideogramas chineses.

São esses contrastes que fazem de Ho Chi Mihn – ou Saigon, para os mais antigos – um lugar excepcional no Sudeste Asiático. Das aventuras do jornalista Tintim, criado por Hergé, aos relatos hollywoodianos da Guerra do Vietnã, nosso imaginário se refaz a cada descoberta. Três dias serão suficientes para conhecer o sul do país e perceber que a Cochinchina - sim, ela existia, e ficava nessa região – pode ser mesmo longe (partindo de avião do Brasil, são 20 horas, com escala em Dubai). Mas basta desembarcar para se ter a certeza de que a viagem valeu cada quilômetro percorrido.

A repórter viajou a convite da Emirates Airlines (emirates.com).

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.