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Pelas ruas de Carrara, tudo que reluz é... mármore

Por CARRARA
Atualização:

"É mais fácil as mulheres perderem a vontade de comprar sapatos do que o mármore de Carrara acabar", diz um dito popular da cidade de 65 mil habitantes, que ganhou fama pela prestigiada pedra branca que brota em abundância das colinas que a cercam. Um bloco de mármore pode custar até 500 mil euros (algo em torno de R$ 1,3 milhão). Mas, na cidade, todos têm acesso à cobiçada pedra. Bancos de praça, muros de escola e até faixas de pedestres: quase tudo ali é feito de mármore. Por ser perfeita para esculpir, a pedra é disputada por artistas desde a Antiguidade. Michelangelo, por exemplo, ia pessoalmente desde Florença, a 130 quilômetros de distância, escolher a dedo os blocos que se transformariam em Pietà ou Davi. No centro da cidade, uma placa e um busto marcam a casa onde ele se hospedava. Uma caminhada pela cidade não dura muito, mas encanta. Com um guia, os detalhes - e são muitos - não passam batido. Pela Via Santa Maria passavam blocos arrastados por carros de boi rumo ao porto, distante 10 quilômetros. Ao longo da estreita rua, os artesãos exibiam nas fachadas dos próprios ateliês suas habilidades - tais como esculpir bichos, mosaicos ou letreiros. Não é todo dia que se entra em uma catedral branca do século 14. Piso, colunas e altar, tudo de mármore. Madeira, só nos bancos, teto e confessionário. Procure pelo afresco de San Leonardo, escondido atrás de um dos quadros do lado direito da igreja - basta empurrar a moldura para que uma porta se abra e revele a relíquia do ano 1350. Na fonte. Ao primeiro olhar, as montanhas que circundam a cidade parecem nevadas e com árvores. Mas estamos na capital mundial do mármore branco: ali, a vegetação cresce direto sobre a pedra. Para entender a imensidão das jazidas, vá até elas. Há duas maneiras de conhecer as cavas, onde os blocos são recortados e colocados em caminhões. Uma delas é o Marmo Tour, passeio de 40 minutos em micro-ônibus por dentro de longos e estreitos túneis. Apesar de ser mais em conta (9 euros ou R$ 23 por pessoa), é menos emocionante, além de não dar ideia da real beleza e complexidade do processo de extração. Melhor é juntar-se a um grupo e fazer um tour completo em jipe 4x4, acompanhado de um dos poucos guias credenciados a dirigir nas perigosas estradas brancas. Assim, é possível subir até as mais altas e produtivas das 180 cavas em atividade. A Fior di Chiara é, sem dúvida, o auge do passeio. Ofuscados pela pedreira, os olhos levam um choque ao entrar nessa caverna branca de 58 metros de altura e 220 de comprimento. Parece inimaginável uma gruta tão imensa e perfeita. E de mármore. O tour de três horas, que inclui Land Rover com motorista/guia para até 8 pessoas custa 280 euros (R$ 731) na Il Tau. Óculos escuros e protetor solar são essenciais, além de calçados impermeáveis (há muita lama). O original. Depois do passeio, desça alguns metros pela estrada - aham, os guardrails são de mármore - até a compacta e estilosa Colonnata. Demora pouco tempo para perceber que a cidadezinha é o berço do lardo, quitute preparado com gordura de lombo de porco que fica repousando por até um ano e meio na salmoura com especiarias. Dentro de largos tanques de - adivinhe? - mármore. Para entender do que estamos falando, vá ao Venanzio (ristorantevenanzio.com). Peça de entrada a porção de bruschettas variadas, com lardo, tomate e anchovas ( 8 ou R$ 21) ou o crespele, massa delicada recheada com folha de abóbora e abobrinha ( 12 ou R$ 31). Como principal, o coelho desossado com lardo e amêndoas em geleia (17 ou R$ 44) comprova a versatilidade do lardo como um competente realçador de sabores. Esqueça a balança e foque em apenas uma coisa: os locais garantem que o produto tem colesterol bom. /F.M.

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