Quando a virada é nas alturas

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Por Felipe Mortara
Atualização:

Contagem regressiva, jatos de espumante e coros de "Adeus ano velho/ feliz ano- novo": nenhuma novidade em se tratando de réveillon. Mas e se tudo isso se passar dentro de um avião? Se a princípio a ideia pode não parecer muito boa, os preços convidativos normalmente encontrados na data acabam fazendo com que muita gente troque a virada do ano à beira-mar por uma cabine pressurizada a mais de 11 mil metros de altura.

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As empresas aéreas operam normalmente em 31 de dezembro - porém, algumas delas dão um jeitinho de não deixar a data passar em branco.

Desde uma simples saudação do comandante por meio do sistema de rádio até um brinde coletivo com champanhe, as comemorações - ou a ausência delas - variam em cada empresa (ou mesmo em cada voo). O desafio começa por definir qual horário levar em conta para a contagem regressiva: o da origem? O do destino? Ou o do país sede da empresa?

Algumas companhias, como Air Canada e Swiss, oferecem uma taça de champanhe aos passageiros (maiores de idade, claro). Na American Airlines, que não costuma ter qualquer cerimônia, uma exceção aconteceu há três anos quando um voo decolou do aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e sobrevoava a orla de Copacabana bem no momento da queima de fogos. O capitão se emocionou e fez um voo panorâmico, para deleite dos passageiros.

Já a Lufthansa parece fazer questão de marcar bem a data. Além de oferecer champanhe e de fazer uma decoração temática na cabine, a empresa alemã serve a todos os passageiros um gefullte gans mit rotkohl - ou, em bom português, ganso recheado com repolho roxo, prato germânico típico da data. Sem as sete ondinhas para pular, céticos e supersticiosos ganham um porquinho em miniatura e um trevo de quatro folhas, como amuletos para atrair sorte no ano que virá. A diretora da Lufthansa para o Brasil, Annette Taueber, já esteve a bordo em 31 de dezembro. "Foi bem divertido", garante.

No ano passado, a TAM sorteou garrafas de champanhe Mumm em seus voos, mas ainda não anunciou o que oferecerá neste ano. Já a Air France terá um cardápio especial para a primeira classe, com Caviar Alverta Royal.

A menor demanda de passageiros na data explica os preços mais em conta nesses voos. A Swiss, no entanto, diz que este ano terá mais passageiros viajando no dia 31 de dezembro do que nos três dias anteriores.

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Já a engenheira civil Mônica de Freitas, de 51 anos, encontrou na TAP tarifas por quase metade do preço para vir de Munique a São Paulo. E olha que de réveillon em avião ela entende: foram 12 até agora. Confira abaixo esta e outras histórias.

 

Festa na econômica

 

Foi para economizar que o engenheiro paulistano Thierry Lebois, de 26 anos, optou por voar de São Paulo a Paris, onde mora, via Milão, na virada de 2004 para 2005. Embarcou no voo da Alitalia frustrado por não começar o ano com a família. "Estava com a expectativa bem lá em baixo de passar o réveillon no avião", lembra.

Com o fuso horário de três horas a mais, o comandante anunciou no rádio o ano-novo na Itália. Apesar de muitos passageiros já estarem dormindo, despertaram e aplaudiram. No entanto, quando se aproximava a hora da virada no Brasil, alguns brasileiros foram se reunindo nos corredores.

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"O pessoal começou a se abraçar e a tomar vinho. Quando chegou a meia-noite já estava todo mundo bem 'alto'. As pessoas iam até a cozinha, abriam a gaveta sem cerimônia, pegavam vinho e cerveja", diz. Na hora da contagem regressiva, um comprido e animado trenzinho costurava entre as poltronas e corredores. Já não havia mais um pingo de formalidade a bordo.

As aeromoças desistiram de retomar o controle da situação. Até o comandante foi conferir e encontrou um clima de festa generalizada em toda a classe econômica. "Um monte de gente se conheceu. Vários casais se formaram nesse voo", conta. No fim, muitos passageiros começaram a dormir, inclusive no chão, entre as poltronas. "Acho que todos estavam com expectativas tão baixas que acabaram festejando muito. Só estavam lá porque era realmente a opção mais barata."

 

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Traída pelo fuso

 

No último dia de 2009, a arquiteta Isadora Dias, de 25 anos, ia encontrar o namorado no Acre. O plano era passar o Natal com a família dela no Paraná e o réveillon com a dele, em Rio Branco. Resolveram comprar a passagem, e, de acordo com os cálculos, ela chegaria às 23h15 do dia 31.

 

Porém, foi só em pleno ar que Isadora descobriu que havia feito uma confusão com o fuso horário do Estado e o voo só chegaria depois da meia-noite. A decepção aumentou quando viu pela janela os fogos de artifício sobre a Ponte JK, que atravessa o Rio Acre. "As aeromoças passaram comemorando e cantando musiquinhas. Eu era a única totalmente sozinha, já que só havia dois casais e eu a bordo."

 

A arquiteta conta que as comissárias perceberam sua decepção. "Fiquei nervosa, me atrapalhei, derrubei refrigerante em tudo. Quando elas (as aeromoças) vieram limpar, fiquei amiga delas", diz. Ela não conseguia esconder a frustração. "A passagem era mais barata que nos outros dias, mas nem tanto. Afinal, quem é que vai para o Acre no dia do réveillon?"

 

Embarque imediato

 

Se para a maioria das pessoas passar o ano-novo no avião é algo raro, para a engenheira civil Mônica de Freitas é quase uma rotina. Aos 51 anos, ela conta que já passou 12 natais e réveillons em aeronaves. Isso porque desde 1999 Mônica vive em Kempten, no sul da Alemanha, e vem passar as festas - ou pelo menos o verão - com a família no Brasil.

 

Este ano, quando o relógio marcar a meia-noite, Mônica e seu marido, Sam, estarão novamente a caminho do Brasil. De acordo com suas contas, em um trem rumo ao aeroporto de Munique, de onde voarão para Lisboa e embarcarão numa aeronave da TAP - finalmente, com destino a São Paulo. Onde chegam já em 2013.

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Ela conta que, até hoje, nunca viu nenhum tipo de celebração a bordo. "Existe uma preocupação dos comissários de servir logo o jantar, apagar as luzes e colocar todo mundo pra dormir", afirma. Sendo assim, diz não ter nenhuma expectativa para o réveillon desse ano e que optou pela data ao encontrar uma passagem por 765, quase metade do valor normal.

 

Para Mônica, as datas não são muito importantes. "Se der, acho legal passar o Natal com a família, em São Paulo. Mas no ano-novo, não gosto muito de ir a festas e ter que estar eufórica e cumprimentar todo mundo". Apesar de o Brasil ser seu principal destino de férias, nos dois últimos anos ela e o marido foram para a África do Sul - também no último dia do ano. "O que eu curto muito é chegar no primeiro dia do ano em um lugar novo, com uma cultura que eu não conheço. Acho uma super energia!"

 

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