Quilombo em torno da casa de farinha

Estrutura histórica permite aprender o processo de moagem de mandioca feito por uma roda d'água

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Por Monica Nobrega
Atualização:
Banho nas águas do Rio Fazenda complementa o passeio Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Até que chega um bom número de forasteiros às terras do Quilombo da Fazenda. Nesta terra, acessível por uma estradinha na altura do Centro de Visitantes do Núcleo Picinguaba, bem no norte de Ubatuba, fica a Casa de Farinha, uma estrutura histórica razoavelmente conhecida, onde é possível observar o processo de moagem da mandioca feito por uma roda d’água. 

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O passeio à Casa de Farinha tem um prolongamento natural que é uma trilha fácil de 20 minutos subindo pela margem do Rio Fazenda até um belo conjunto de cachoeiras e poço para banho. O lugar é lindo e a água congela até os pensamentos – menos os da criança, que todo mundo sabe que criança não sente frio. Nascido lá no alto, na serra, o rio neste ponto tem água puríssima. 

O que os visitantes quase não fazem aqui, e que o recém-lançado roteiro A África em Nós pretende mudar, é visitar as outras áreas do quilombo. Reconhecida como remanescente de quilombo em 2005 pela Fundação Palmares, a antiga fazenda de cana-de-açúcar tem hoje 48 famílias, 210 pessoas vivendo de produção agrícola e turismo, principalmente. 

O tipo de agricultura que se faz no quilombo é de agrofloresta. Não há canteiros; as árvores estão todas juntas em uma aparente bagunça, e nessa bagunça o agricultor Feliciano, que nos guia na visita, vai mostrando a palmeira jussara, o cambuci, a pupunha, o abacate, a laranja, o araçá-boi. Vimos um cacho de bananas caído perto da trilha, e assim meu filho comeu fruta de lanche sem precisar receber ordem para isso; eu devorei um cacau inteiro, semente por semente, como se fosse pipoca. 

Também se pratica por aqui, para o milho e o feijão, a coivara, que envolve pequenas queimadas e foi reconhecida no fim do ano passado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan, por ser uma técnica histórica das comunidades quilombolas. 

Quase toda a caminhada seguiu o curso do Rio Fazenda e foi acompanhada pelas crianças da comunidade, que se aproximavam curiosas. Vez ou outra, meu filho desistia de andar e ia com elas dar um mergulho no rio, que estava bem raso e calmo. 

Possibilidades

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O roteiro da visita depende do dia. Na nossa vez, tivemos oportunidade de ver um pouco de uma vivência de jongo, um tipo de dança e cantoria, para crianças da comunidade. Também conversamos longamente com Guilherme, um dos responsáveis por desenvolver o projeto turístico. Com agendamento, é possível participar de outras oficinas de dança e música, como coco e maracatu, de aulas de bioconstrução e artesanato. 

Feliciano, nosso guia no Quilombo da Fazenda, mostra a agrofloresta Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Não conseguimos participar de uma das rodas de conversa com José Pedro, o griô, homem mais velho e respeitado da comunidade, pioneiro da luta pelo reconhecimento da terra como patrimônio de seu povo. Mas ele estava lá, acomodado na Casa de Farinha, como faz diariamente. Não nos negou um cumprimento e sua simpatia enquanto, sentados em mesas coletivas, comíamos bolinhos de mandioca recheados com taioba (R$ 7 a unidade) preparados por Luciana, filha de José Pedro, e vendidos em uma pequena lanchonete. Para beber, suco de jussara, que lembra um pouco o açaí. 

Ali mesmo ao lado da Casa de Farinha há uma loja de artesanato quilombola. Também são vendidos produtos como mel (R$ 35), farinha de mandioca (R$ 15) e cachaça (R$ 25).

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